Por Johnny Bernardo
Voltemos à década de 60. Enquanto
católicos de Pittsburgh experimentavam o que chamavam de “renovação
espiritual”, quatro meninos de Liverpool (Inglaterra) sacudiam o mundo
com os reis do iê-iê-iê. Ordenado padre aos 25 anos de idade, em 1966,
nos EUA, José Fernandes de Oliveira – mais conhecido como Padre Zezinho
-, dava seus primeiros passos na arte da música, da literatura, do
teatro e, mais tarde, em 1969, dos meios de comunicação. Foi com a
música, no entanto, que o recém – ordenado padre seria conhecido como um
dos “maiores” fenômenos da música cristã. De volta ao Brasil, o Padre
Zezinho causou polêmica e, ao mesmo tempo, admiração, ao adicionar às
missas do Santuário São Judas Tadeu, na Zona Sul de São Paulo,
instrumentos sacramentados pelos Beatles, como guitarras e baterias.
Fã secreto de John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr, o Padre Zezinho foi chamado desde “estrela” até “achincalhador da fé” por introduzir ritmos até então demonizados pelo Vaticano. Sua opção por uma liturgia mais aberta, no entanto, ganharia fôlego com a chegada do Movimento Carismático ao Brasil, ainda na década de 60. O crescimento das igrejas pentecostais autônomas – com forte presença nas camadas menos abastadas da sociedade – e das cruzadas promovidas por pastores e missionários americanos – caracterizadas por campanhas de cura e libertação -, foi um dos motivadores do surgimento de movimentos como o liderado pelo Padre Zezinho e da vinda da Renovação Católica Carismática ao Brasil. Começando por Campinas, a RCC foi levada para diversas cidades e regiões do Brasil.
Organizados por padres jesuítas,
encontros como “Experiências no Espírito Santo” e “Experiência de
Oração” conduziram centenas de católicos de volta a vida devocional.
Apesar de praticamente na penumbra entre as décadas de 70 e 80 (André
Ricardo de Souza, Religião & Sociedade, julho de 2007), a realização
– primeiro em 1973 e depois em 74 – de dois grandes congressos e a
adesão de leigos e figuras conhecidas do clérigo brasileiro, como o
Monsenhor Jonas Abib, serviram de combustão ao crescimento experimentado
nas décadas seguintes. O lançamento do livro “Sereis Batizados no
Espírito Santo”, em 1972, do padre Haroldo Rahn que, juntamente com
Bernard Shuster e o Dom Cipriano Chagas, foram os pioneiros e compunham a
liderança nacional da RCC, deu, também, grande impulso aos
carismáticos.
Fundada pelo padre salesiano Jonas Abib,
em 1978, a Comunidade Canção Nova – com sede na cidade de Cachoeira
Paulista, interior de São Paulo e que é composta por emissora de rádio,
televisão, um centro de evangelização com capacidade para 70 mil
pessoas, além de capelas, restaurantes, alojamentos etc. – serviu de
base para o surgimento de outras comunidades e associações como a
Associação do Senhor Jesus (ASJ), dirigida e fundada pelo padre Eduardo
Dougherty na década de 80. É a partir daí que a RCC começa a chamar da
mídia com o surgimento de comunidades de vida, rádios, TVs e revistas.
Zé Pretinho, Irmã Floriza e Tia Laura de Piquete (São Paulo) surgem
nessa época e arrebanham mais adeptos (Portal Carismático – consulta
feita em 20/10/2012, às 16hs).
Os padres cantores
É a partir da década de 90 que a RCC
ganha, de fato, visibilidade com o desenvolvimento de técnicas de
marketing e a projeção de padres cantores na mídia. “A figura do padre
de meia idade na sacristia e atrás do altar é substituída no imaginário
social por homens jovens e sorridentes, com grande poder de comunicação e
utilizadores da música e da mídia como os próprios veículos de
transmissão da mensagem religiosa. Os programas televisivos de domingo
passam a abrir espaço para mais um artista: o padre Marcelo Rossi,
jovem, de boa aparência e atlético, figura que contrasta radicalmente da
imagem de sacerdote presente no imaginário dos brasileiros”, lembra a
pesquisadora Sílvia Regina Alves Fernandez, do Centro de Estatísticas
Religiosas e Investigações Sociais, órgão consultivo ligado à CNBB.
Além de Marcelo Rossi, nos anos
seguintes outros padres – popstars como o surfista e mais novo diocesano
até então ordenado no Brasil, Padre Zeca que, em 2007 deixou o
sacerdócio e quatro anos depois casou com uma americana, Marcelo
Manzotti – conhecido como padre samba-rock e que realiza o Evangeliza
Show -, Fábio de Melo, Juarez de Castro, Adriano Zandoná e um dos mais
exóticos, o padre Alexandro Campos – que combina em seus shows missa
mesclada com sons de viola e berrante -, conduzem centenas de fieis a
estádios, ginásios, pistas de corridas e santuários por todo o país.
Também estão presentes na mídia, dividindo programas televisivos com
personalidades da sociedade, cantores (as) e bandas seculares. “Outro
fator importante para o sucesso desses padres é a aproximação com as
pessoas nos ritos religiosos e fora deles”, acrescenta a pesquisadora
Sílvia Regina.
É com o ex-professor de educação física e
membro de uma família de classe média de São Paulo, no entanto, que o
Catolicismo Romano reconquistaria dezenas de adeptos. Ordenado sacerdote
em 1/12/1994, aos 17 anos, Marcelo Mendonça Rossi ficou conhecido no
final da década de 90 por suas adaptações e empréstimos de liturgias e
canções evangélicas, como “Anjos de Deus”. Participações em filmes,
indicação ao Grammy 2002 e colaborações com diversos meios de
comunicação descrevem sua trajetória como sacerdote e pop star. A
inauguração de um mega – santuário em Santo Amaro, nesta sexta-feira
(2),com capacidade para abrigar 25 mil pessoas, mostra a força do
movimento carismático e, ao mesmo tempo, a tentativa de superação das
concorrentes neopentecostais, como a Universal do Reino de Deus e a
Igreja Mundial do Poder de Deus que também possuem mega – templos na
região.
Fonte: Napec
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