quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Pastor ou Executivo de Deus?



Pr. Araúna dos Santos

Ao declarar, categoricamente, “O bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas” e exemplificar, objetivamente, “Eu sou o bom pastor”, Jesus Cristo estabeleceu critério de avaliação do exercício pastoral na igreja. À semelhança de Cristo, o pastor eclesiástico não deve servir a si mesmo, mas ao rebanho – congregação – e esse serviço tem como característica o sacrifício pessoal. Dar-se por inteiro – corpo e alma – imitando, ou melhor, reproduzindo a vida e o ministério do Supremo Pastor, é a chamada, o propósito, o foco, o desafio que distingue o verdadeiro Pastor do “Executivo de Deus” – o que cuida do rebanho de Deus e o que administra seu próprio negócio.

Em outra ocasião (Mc 10.32-45; Mt 20.20-28), quando dois de seus discípulos lhe pediram a honra de sentarem-se à sua direita e à sua esquerda, na sua Glória, o Mestre, em resposta, lhes ensinou que aquela honra desejada não era de sua competência conceder. Mateus esclarece que Jesus teria afirmado ser da competência de Deus Pai – evidenciando, assim, sua humildade, naquele tempo de encarnação do Verbo – Deus Filho (Fl 2.6-11). Na sequência de seu diálogo com os discípulos, nosso Senhor esclareceu a questão, sintetizando: “Vocês sabem que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim, entre vocês. Ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos. Pois, nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de muitos”. E não se pode esquecer o belo exemplo de Paulo – pastor e apóstolo – ao escrever à igreja que estava em Corinto (II Co 4.5) e lembrar-lhes o escopo de seu ministério pastoral naquela igreja: “porque não pregamos a nós mesmos, mas a Jesus Cristo, e a nós como escravos de vocês, por causa de Cristo” – O amor real de Cristo.

Digna de destaque também é a advertência de Pedro – igualmente pastor e apóstolo – ao dirigir-se diretamente aos presbíteros (pastores) em sua carta “aos peregrinos dispersos no Ponto, na Galácia, na Capadócia, na província da Ásia e na Bitinia” (I Pe 5.1). Ao final de carta exorta, com todas as letras: “pastoreiem o rebanho de Deus que está a seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho. Quando se manifestar o Supremo Pastor, vocês receberão a imperecível coroa da glória”.

Na observação cuidadosa do texto, saltam aos olhos as palavras: não por obrigação, não por ganância, não como dominadores. E, por outro lado, os aspectos positivos são também ressaltados: livre vontade, desejo de servir, como exemplos. Aqui estão características de personalidade, modelos de atuação, traços de caráter, objetivos de vida, compreensão de ministério, construção de relacionamentos e saúde de alma ou enfermidades que modelam o pastor ou, simplesmente, o executivo de Deus.

A consciência ministerial do pastor é que ele está cuidando do rebanho de Deus, a quem prestará contas. O.S.Hawkins, em seu valiosíssimo livro - “The Pastor’s Prime” – deixa claro que nenhum pastor tem seu próprio ministério e seu próprio rebanho. O ministério é recebido de Deus e pertence a Deus, e o rebanho também. A igreja é de Cristo não do pastor e de ninguém mais. O pastor e outros líderes na igreja, como a congregação, são apenas servos de Cristo e uns dos outros, chamados para fazer o que Ele quer para a sua igreja. O pastor não tem o domínio, mas precisa ter o cuidado. 

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