Por Maurício Zágari
Sou
apaixonado pelos filmes de Charles Chaplin. Para mim é o melhor
cineasta de todos os tempos e “Luzes da Cidade” é meu filme favorito.
Sua sequência final, quando a florista cega tenta lhe dar uma esmola, é
minha predileta da história do cinema. Chaplin tem outro filme genial,
“O Garoto” (foto). Nunca me esqueço de uma cena desse
longa-metragem em que o menino adotado por Carlitos tenta repetidamente
se aproximar dele após aplicarem um trambique e, como há um policial por
perto, Carlitos o empurra para longe com o pé. Novamente o menino volta
e é enxotado. E assim faz para que o garotinho que ele ama não seja
descoberto como participante do golpe. Na nossa vida muitas vezes
precisamos tomar atitudes semelhantes: empurrar para longe aqueles que
amamos e gostaríamos de ter por perto se for o melhor para eles – e até
machucar, se isso for redundar em algo espiritualmente mais excelente.
Machucar quem nos é caro para o próprio bem dessa pessoa.
Pus aqui esse trecho de “O Garoto” para você visualizar. Merece
atenção o take final, quando o menino tenta caminhar junto com Carlitos
mas, por amor, é afastado de forma nada gentil. Se quiser assista e, em
seguida, continuamos. Tem menos de 3 minutos.
Em Gênesis 27 vemos o trambique que Jacó passa em seu pai, Isaque,
para receber sua bênção, tendo a mãe, Rebeca, como cúmplice. Irado, ao
descobrir o ocorrido Esaú planeja matar o irmão. Para que Jacó não seja
morto, por amor sua mãe decide enviá-lo para longe de si. Literalmente
diz a ele para se exilar. Ela não afasta o filho porque o odeie ou coisa
parecida, mas por cuidado e para zelar pelo futuro dele. Nesse caso,
afastá-lo é uma expressão de amor.
Em
nossa vida, muitas vezes temos de tomar a decisão de afastar ou
machucar pessoas que amamos para o próprio bem delas – usando aquilo que
apelidei de “psicologia impetuosa”. Conversei, algum tempo atrás, com
uma senhora, mãe de um pastor da Assembleia de Deus, que me relatou o
que teve de fazer para proteger o filho e salvaguardar o futuro dele.
Ainda adolescente, o rapaz ingressou no tráfico de drogas. Em seu
primeiro dia de serviços prestados aos bandidos, ele, ao chegar ao
barraco em que morava somente com a mãe, contou-lhe que tinha se unido
ao “movimento”. Ela tentou argumentar de todos os modos para demovê-lo
da ideia. Como viu que não cederia, a mãe tomou uma atitude extrema:
caminhou até ele e tascou um bofetão em sua cara. E disse: “Suma desta
casa e, enquanto não deixar essa vida, você não é mais meu filho”. No
dia seguinte o jovem procurou o gerente do tráfico e explicou a
situação. Como mães são muito respeitadas pelos traficantes, recebeu
autorização para deixar o bando. Retornou para casa. Hoje esse homem é
um pastor, pai de família. Essa senhora, agora uma velhinha de cabelos
brancos, me disse a frase que me fez pensar muito: “Às vezes machucar é
um gesto de
amor”.
Apliquei a “psicologia impetuosa” com minha filha de menos de dois
anos uma só vez depois de ter tido essa conversa. Não gostei, mas foi
preciso. Ela cismou em brincar com facas. Sempre que tinha oportunidade
dava um bote e pegava a faca de meu prato. Apavorado com o que aquilo
poderia provocar fiz de tudo o que podia. Conversei. Expliquei. Cortei
cascas de banana na frente dela para mostrar o que aquele objeto poderia
causar. Mas nada adiantava. O amor delicado não estava resolvendo
e comecei a temer que em algum momento ela pegasse uma faca sem que eu
visse, com possíveis resultados desastrosos. Foi quando, certo dia, ela
mais uma vez esticou a mão para pegar a faca em meu prato. Dessa vez eu
lembrei-me daquela frase: “Às vezes machucar é um gesto de amor”. Então
não falei nada. Tomei delicadamente a faca, pus fora de seu alcance e
somente saí da sala, algo que nunca faço durante as refeições. Ela ficou
me olhando, confusa. Chamou-me em voz baixa algumas vezes,
propositadamente sem resposta. Até que foi atrás de mim no quarto. Eu
estava cabisbaixo, honestamente entristecido e sem saber mais o que
fazer. Quando viu as lágrimas descendo pelas minhas bochechas ela
arregalou os olhos. Não escondi dela meus sentimentos. E lhe disse algo
que sabia ser duro, mas que tinha certeza que teria um impacto sobre ela
e provocaria uma reação: “Filhinha, quando você desobedece o papai
arrebenta o meu coração”. Ela ficou paralisada. Depois veio até mim e
deu um beijinho no meu joelho, muda, pensativa e visivelmente triste. Vi
que ela estava transtornada e que eu disse algo que doeu fundo em sua
alma. Pode parecer uma atitude forte, só que foi motivada não por
maldade, mas por puro amor. Daquele dia em diante nunca mais ela quis
pegar uma faca. Sei que de certo modo a machuquei. Mas foi uma medida
extrema pelo próprio bem dela.
Lucas 22 nos fala de uma atitude semelhante de Jesus. Ele havia dito a
Pedro que na mesma noite, antes que o galo cantasse, o negaria três
vezes. É exatamente o que ocorre. E o que se passa depois disso é o que
me estremece: “Então, voltando-se o Senhor, fixou os olhos em Pedro, e Pedro se lembrou da palavra do Senhor, como lhe dissera: Hoje, três vezes me negarás, antes de cantar o galo. Então, Pedro, saindo dali, chorou amargamente”.
Você consegue imaginar esse olhar de Jesus? E consegue imaginar o que
Pedro sentiu naquela hora? Que dor terrível! Mas… você já parou para
pensar que o Mestre sabia exatamente o que provocaria em seu amigo
lançando-lhe aquele olhar fixo e perfurante? Será que Jesus era sádico e
machucou o apóstolo pelo puro prazer de deixá-lo mal? Não creio. Para
mim, aquilo era pura “psicologia impetuosa”. Jesus amava tanto Pedro que
queria levar aquele homem a um estado de alma que o fortalecesse e o
preparasse para o que viria pela frente. Pois Ele sabia o quanto o amigo
teria de ser firme para enfrentar as perseguições, os sofrimentos, as
prisões e tudo o mais que aconteceria em breve para propagar o Evangelho
sem esmorecer. Então creio com convicção que Jesus lançou o olhar que
destroçou Pedro por dentro e o fez chorar amargamente para que seu
discípulo seguisse o caminho mais excelente. Por amor.
Machucar
por amor. Magoar por amor. Entristecer por amor. Que coisa estranha.
Que aparente contradição. Mas que eficiente, em certas circunstâncias.
Por vezes um salva-vidas precisa dar um soco em quem está se afogando
para poder salvá-lo, caso o indivíduo esteja histérico e pondo a vida
dos dois em perigo. É um soco pelo bem do outro e nao por desejar o mal.
O ideal é que nunca tenhamos de aplicar isso. Só que, em situações
extremas… é necessário, infelizmente. Melhor empurrar quem amamos com a
perna do que deixá-lo ser levado para um reformatório. Carlitos sabia
disso. Aos nossos olhos, ele estava enxotando como um cachorro aquela
pobre criança. Aos olhos de seu coração, estava protegendo e
resguardando quem amava. Se você continua assistindo ao filme vê que
grande amor aquele homem tinha pelo garoto.
Que grande amor Deus tem por mim e por você. Mas às vezes ele nos
machuca como um gesto que expressa esse amor. Se não fosse isso, como
explicar realidades como “Eu repreendo e disciplino a quantos amo” (Ap
3.19)? Como justificar Jesus dizer “esta enfermidade não é para morte, e
sim para a glória de Deus” (Jo 11.4)? Como entender o Pai ter feito um
homem nascer cego “para que se manifestem nele as obras de Deus” (Jo
9.3)? Sadismo divino? Maldade celestial? Não. A mais pura expressão de
amor: uma dor momentânea, uma tristeza aguda, uma mágoa sofredora… em
nome de algo muito mais excelente.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
Fonte: Apenas
Estava aflita em como fazer para meu filho me obedecer ,sou cristã e ele tambem , mas depois q ficou adolescente ele mudou ,ele continua na igreja é frequente nos cultos e nos ensaios ,ele é instrumentista, está respondendo com brutalidade na voz em tudo q eu pergunto :orei ,conversei , mais parecia q nada adiantava .Foi exatamente quando achei este site sem estar procurando nada a respeito da situação q estava vivendo e Deus falou profundamente comigo,chorei muito ,mais agora estou mais confiante e sei q Deus vai mudar o quadro e me dar sabedoria para ensinar o caminho em q se deve andar como sempre fiz .Ore por nós (mariandria(eu),jean (ele)e leonardo(esposo).Meu esposo é diácono e uma benção nas nossas vidas.Paz seja convosco !!!
ResponderExcluirGraça e paz Mari.
ResponderExcluirEu entendo bem o que você está passando com seu filho, pois também tenho um filho adolescente e que está agindo assim também. Creio que seja da idade, mas nem por isso deva nos tratar, como diz a minha esposa, como lixo. Temos procurado sempre lhe mostrar o quanto tem sido agressivo algumas vezes conosco, principalmente com a mãe, tentando lhe mostrar que quando estamos lhe fazendo várias perguntas é para sabermos se está tudo bem com ele, se está precisando de alguma coisa... Ainda mais agora que está morando em outro estado, pois ele está na universidade. Creio que seja uma fase, mas nem por isso ele pode e deve nos tratar assim. Ele também é um menino crente em Jesus, frequenta uma igreja batista lá na cidade em que esta, mas você sabe como é preocupação de mãe rs.
Mari, assim como tenho orado pelo meu filho estarei orando por vocês também, e creio que essa fase irá passar.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira