Resumo
O presente artigo versa sobre a origem e
características dos grupos judaicos do 1º século, e suas influências na
sociedade da época. O autor demonstra que a origem de tais grupos se dá
em um contexto de reação contra o misticismo e ameaça da existência do
judaísmo e que ora tem motivações políticas, ora religiosas, ora
filosóficas. Ainda, se por um lado a sinagoga é criada como instrumento
de preservação do judaísmo, por outro é uma das responsáveis pela
facilitação do surgimento dos diversos grupos judaicos. Dessa forma, as
sinagogas eram utilizadas como plataforma nas quais os grupos propagavam
suas opiniões ao discordarem dos dirigentes do Templo. Por último, o
autor demonstra que os grupos judaicos do 1º século mudaram a essência
da fé judaica, e por isso, se por um lado surgiram com o intuito de
preservar a fé judaica, por outro lado foram exatamente os responsáveis
por fazer com que a fé judaica original se tornasse diferente desse
judaísmo. Por isso, modificaram aquilo que tanto desejavam preservar.
Palavras-chave:
Judaísmo; 1º Século; Fariseus, Saduceus; Samaritanos; Essênios;
Herodianos; Zelotes; Sicários; Publicanos; João Hircano; Flávio Josefo;
Zadoque; Neemias; Gerizim; Sambalate; Mikvah; Mar Morto; Qumran;
Herodes; Hipermodernidade; Lectio Divina, Templo, Sinagoga.
Introdução
As hostilidades contra o cristianismo
primitivo eram comuns, especialmente por parte da comunidade judaica do
primeiro século. Inicialmente por parte dos fariseus, que eram um
partido religioso, e dos saduceus, que eram um partido
político-religioso. Dessa forma, fica claro a existência de grupos
judaicos distintos, entre os quais se vê a representação tanto da
opinião e posicionamento Escriturístico de seus integrantes bem como de
suas ideologias filosófico-políticas.
Todavia, para prosseguirmos é necessário
fazermos uso de algumas fontes primárias, a exemplo de Flávio Josefo
[1]. A importância deste historiador é de tal importância que o Dr.
Augustus Nicodemus declara que “como historiador judeu, as obras de
Josefo são inestimáveis para o nosso conhecimento da história dos judeus
debaixo do domínio romano” [2]. Dessa forma, são três os grupos
judaicos citados por Flávio Josefo, no aspecto filosófico:
Existem, com efeito, entre os
judeus, três escolas filosóficas: os adeptos da primeira são os
fariseus; os da segunda, os saduceus; os da terceira, que apreciam
justamente praticar uma vida venerável, são denominados essênios: são
judeus pela raça, mas, além disso, estão unidos entre si por uma afeição
mútua maior que a dos outros. [3]
Quando observamos o aspecto filosófico
do judaísmo, encontramos três grupos, como fez Josefo – Fariseus,
Saduceus e Essênios. Porém, quando observamos o aspecto étnico
encontramos os samaritanos que são uma miscigenação de judeus e gentios,
e os herodianos que possuíam um laço consanguíneo com Herodes, o
Grande. Ainda, haviam os zelotes que eram um grupo político do século I
que buscava promover uma rebelião contra o Império Romano, com o intuito
de libertar Israel pela força e que termina por promover a Primeira
Guerra Judaico-Romana (66-70).
Ainda, outros grupos são encontrados entre os judeus, a exemplo dos sicários e dos publicanos.
Os Sicários eram um subgrupo oriundo dos
zelotes, porém, mais radicais. O termo é originário do latim ‘sicarius’
e significa ‘homem da adaga’. Essa expressão só surge algumas décadas
após a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C., de acordo com Kippenberg,
que afirma, ainda, que o termo “foi a denominação dada ao movimento
revolucionário rural da Judéia” [4] e já o termo zelotes se referia a
“um movimento sacerdotal” [5], isto é, de cunho mais religioso. Por essa
razão, o grupo dos Sicários não será tratado em particular neste
artigo, pois são uma subdivisão dos zelotes.
Os Publicanos eram os coletores de
impostos nas províncias do Império Romano. De acordo com Buckland [6],
haviam dois tipos de Publicanos: os Publicanos Gerais e os Publicanos
Delegados. Os Publicanos Gerais respondiam ao imperador romano e eram
responsáveis pelos impostos. Os Publicanos Delegados eram aqueles que
eram comissionados pelos Gerais para coletar os impostos nas províncias.
Estes eram considerados como “ladrões e gatunos”. Muito embora fossem
odiados pelos seus compatriotas, os judeus, Buckland afirma que
diferentemente dos fariseus, os Publicanos não eram hipócritas. Como os
Publicanos são mais uma “profissão” do que um grupo
filosófico-político-religioso ele não será tratado em particular neste
artigo.
Diante do quadro apresentado é
importante se estudar cada um desses grupos de forma separada, para
depois se montar o quadro político-religioso geral da nação. Por último,
buscar aprender com a história para que não se cometam os mesmos erros
outra vez.
1. Os fariseus
Em geral, atribui-se o surgimento do
farisaísmo ao período correspondente ao cativeiro babilônico (587-536
a.C.). E, basicamente, toda a informação acerca desse grupo é oriunda
das obras do historiador Flávio Josefo [7], dos diversos escritos dos
rabinos, por volta do séc. II, e das informações contidas no Novo
Testamento.
Muito embora se atribua ao termo
‘fariseu’ o sentido de ‘separado’ este significado não é uma certeza.
Porém, sabe-se que era o grupo mais seguro da religião judaica (At
26:5), e que surgiu por volta da guerra dos macabeus, com a finalidade
de oferecer resistência ao espírito helênico trazido por Roma e que
possuía, em seu interior, a intenção de preservar o judaísmo e suas
crenças ortodoxas. Muito embora, Enéas Tognini declare que “há dois
grupos terrivelmente antagônicos desses “fariseus”: separatistas e
liberais. O primeiro se opunha terminantemente às influências
helenísticas na Palestina [8], enquanto o segundo era favorável” [9].
Um dos fatores que mais colaborou para a
organização deste partido foi a perseguição promovida por Antíoco
Epifânio. Porém, Flávio Josefo declara que foi sob a influência de João
Hircano [10] que os fariseus passaram a desfrutar do apoio do povo em
geral [11].
Ainda, segundo citação de Tognini [12]
sobre Josefo, os fariseus criam no livre-arbítrio do homem, na
imortalidade da alma, na ressurreição do corpo, na existência de anjos,
na direção divina de todas as coisas, nas recompensas e castigos na vida
futura, na preservação da alma humana após a morte e na existência de
espíritos bons e maus. Contudo, Jesus denunciou severamente este grupo
por causa de sua hipocrisia e orgulho.
Em linhas gerais, podemos afirmar que
este grupo surgiu por uma boa razão, mas seus objetivos foram
desvirtuados no decorrer do tempo, especialmente porque não se deve
apenas adquirir o conhecimento ou defendê-lo, mas colocá-lo em prática.
Por essa razão, o termo fariseu tornou-se sinônimo de hipócrita. Tanto
que o próprio Jesus afirma: “… tudo o que vos disserem, isso fazei e
observai; mas não façais conforme as suas obras; porque dizem e não
praticam” (Mt 23:3).
Ao extrairmos os ensinos que a história
deste grupo nos traz, podemos iniciar uma maratona de cautela e
vigilância, porque a defesa da fé deve ser feita alicerçada no amor
bíblico e não em bases religiosas fanáticas e desprovidas do biblicismo
necessário. Por outro lado, a prática da Lectio Divina [13] precisa ser
reensinada na Igreja, para que assim o sistema educacional eclesiástico
na hipermodernidade [14] volte a ensinar para o povo a Teologia Bíblica
aliada à vida devocional, o que nos auxiliará a não cair em um
neo-farisaísmo.
2. Os saduceus
Era o grupo que fazia oposição aos fariseus.
O surgimento desse grupo traz alguma
controvérsia, pois as suas origens são desconhecidas. Alguns acreditam
que deve ter surgido com Zadoque, um sacerdote do período do rei Davi.
Este grupo era mais sacerdotal e
aristocrático e, sendo mais fechado, não fazia questão de popularização.
Ainda, Schubert [15] afirma que de 539 a.C. (período do domínio persa),
até o período de Alexandre, o Grande, as famílias dos sumo sacerdotes
se mostravam complacentes com os vizinhos pagãos, vivendo em harmonia
com os povos helênicos.
Era um grupo composto por homens
educados, ricos e de boa posição social. Em geral, tinham crenças
opostas a dos fariseus. De acordo com Schubert, ao citar Josefo, os
saduceus negavam a ressurreição e juízo futuro, criam que a alma morria
com o corpo, negavam a imortalidade, negavam a existência dos anjos e
dos espíritos, criam que Deus não intervinha nas vidas dos homens, não
tinham as mesmas crenças que os patriarcas, negavam a existência do
Sheol (inferno) e só depositavam a crença naquilo que a razão pura
pudesse provar. De forma geral, o Novo Testamento apresenta de forma
negativa um resumo da crença dos saduceus: “os saduceus dizem que não há
ressurreição, nem anjo nem espírito” (At 23:8).
Com isso, percebemos que este era um
grupo que interpretava as Escrituras utilizando como base os mesmos
pressupostos que futuramente passaram e ser denominados de ‘humanistas’
[16], desconsiderando o caráter divino, espiritual e sobrenatural.
Franklin Ferreira faz a seguinte declaração acerca da crença dos
saduceus:
Os saduceus, com o seu repúdio à
doutrina da ressurreição e descrença na existência de seres angelicais,
podem ser considerados como precursores dessa corrente de interpretação
das Escrituras. Pouco se sabe sobre a origem desse partido judaico, mas
parece haver adotado uma posição secular-pragmática de interpretação das
Escrituras. Ao negarem verdades básicas das Escrituras, os saduceus
podem ser considerados, guardadas as devidas proporções, como os
modernistas ou liberais da época. [17]
Por isso, conclui-se que enquanto os
fariseus eram os conhecedores da Escritura, mas hipócritas, os saduceus
eram os líderes, mas mercenários e humanistas, no uso geral do termo.
Por causa de suas atitudes venais e suas más práticas começaram a se
tornar impopulares. A influência dos saduceus era grande, mas sua
fidelidade a Deus mínima. A riqueza dos saduceus era grande, mas sua
integridade mínima. A influência política e religiosa dos saduceus era
grande, mas seu caráter era mínimo.
Ao extrairmos os ensinos que a história
deste grupo nos traz, podemos concluir que há uma profunda semelhança na
sociedade hipermoderna com os saduceus, já que presenciamos uma
diversidade de líderes religiosos que têm se prostituído por causa de
benefícios financeiros, status e vantagens pessoais.
3. Os samaritanos
Atribui-se a origem dos samaritanos a
ocasião quando Sargom tomou Samaria para o cativeiro e tentou
desnacionalizá-los misturando-os com os babilônios (IIRs 17:24). Talvez
esse tenha sido um dos motivos pelos quais os outros judeus abominavam
os samaritanos, considerando-os a escória da sociedade. Além disso, os
samaritanos eram acusados pelos judeus de serem oportunistas, procurando
ficar do lado dos judeus apenas quando estes estavam em ascensão.
Este grupo era frequentemente
ridicularizado e desprezado pelo restante dos judeus. Joachim Jeremias
[18], ao citar a obra de Levi VII 2, afirma que “a partir de hoje Siquém
será chamada a cidade dos idiotas, porque nós zombamos deles como se
zomba de um louco”.
Costumeiramente, os samaritanos adoravam
no templo, porém, ao voltar do cativeiro os judeus os proibiram de
participar da reconstrução de Jerusalém, e o genro de Sambalate, que era
sacerdote, foi expulso dali por Neemias. Por não terem ‘sangue puro’,
não possuir religião judaica, por serem acusados de oportunismo, porque o
sacerdote (genro de Sambalate) foi expulso do convívio social e por
serem proibidos de participar da reconstrução, começaram a se empenhar
contra a obra que Neemias estava fazendo. Então, Sambalate construiu um
templo rival ao de Jerusalém, no monte Gerizim. Ainda, para piorar a
situação, desde a construção deste segundo templo, a situação entre
judeus e samaritanos se agravou, e o clima de ódio e desprezo se torna
cada vez maior, como nos apresenta o livro apócrifo de Eclesiástico ao
afirmar que “há dois povos que minha alma abomina, e o terceiro, que
aborreço, nem sequer é um povo: aqueles que vivem no monte Seir, os
filisteus, e o povo insensato que habita em Siquém” [19]. Sabendo que
este denominado “povo insensato que habita em Siquém” são os
samaritanos.
Ainda, os samaritanos mantinham crenças semelhantes à dos saduceus.
Apesar de todas as acusações do judaísmo
contra os samaritanos, encontramos diversas passagens bíblicas,
neotestamentárias, nos mostrando a pregação do Evangelho para os
samaritanos (Lc 17:16; Jo 4; At 1:8; At 8:5,14; At 9:31) e até uma
conduta destes que é contraposta à conduta do farisaísmo (Lc 10:25-37).
Ao extrairmos os ensinos que a história
deste grupo nos traz, podemos concluir que o verdadeiro evangelho não
faz acepção de pessoas, e trata a todos de igual para igual,
independente dos erros passados.
4. Os essênios
Enquanto os fariseus se tornaram
sinônimos de hipócritas e os saduceus de mundanismo, o essênismo se
torna sinônimo de isolacionismo, isto é, vida separada e afastada de
todos.
Os essênios surgiram na tentativa de
manter a instrução Escriturística viva, assim como os fariseus, mas sem a
hipocrisia característica desse grupo, e a busca por uma vida de
fidelidade e compromisso, diferentemente dos saduceus. Por isso, Charles
C. Ryrie afirma que o “essenismo foi uma reação ascética ao
externalismo dos fariseus e ao mundanismo dos saduceus” [20]. O problema
é que eles pensavam que para se cultivar uma vida de santidade teriam
que viver isolados do mundo, em um sistema de ascetismo.
Basicamente, os essênios se dedicavam ao
estudo das Escrituras, a oração e as lavagens cerimoniais, conhecidas
como banhos Mikvah. Dividiam seus bens com a comunidade e eram
conhecidos por seu trabalho e vida piedosa.
Existe, ainda, a teoria da existência de
dois grupos distintos de essênios, que é apresentada na Enciclopedia de
la Biblia, que apresenta o grupo essênio de Qumran e outro, talvez, no
Egito [21].
Nos achados do Mar Morto, os manuscritos
de Qumran, encontram-se evidências de que os essênios se isolaram por
desejarem abandonar as influências corruptas das cidades judaicas. Eles
se dedicaram a preparar o “caminho do Senhor”, crendo que o Messias
viria, e consideravam-se o verdadeiro Israel. Segundo Josefo, os
essênios, além de enviar suas oferendas ao templo, realizavam seus
sacrifícios de forma diferente do restante dos judeus e acentuavam a
importância da purificação [22]. Por causa dessa diferenciação
ritualística, os judeus os proibiram de sacrificar no templo, que os
mesmos essênios afirmavam estar contaminado pela impureza da
religiosidade social e judaica.
O historiador Plínio [23], o velho, apresenta algumas características desse grupo:
Na parte ocidental do mar Morto os
essênios se afastam das margens por toda a extensão em que estas são
perigosas. Trata-se de um povo único em seu gênero e admirável no mundo
inteiro, mais que qualquer outro: sem nenhuma mulher e tendo renunciado
inteiramente ao amor; sem dinheiro e tendo por única companhia as
palmeiras. Dia após dia esse povo renasce em igual número, graças à
grande quantidade dos que chegam; com efeito, afluem aqui em grande
número aqueles que a vida leva, cansados das oscilações da sorte, a
adotar seus costumes (…) Abaixo desses ficava a cidade de Engaddi, cuja
importância só era inferior à de Jericó por sua fertilidade e seus
palmeirais, mas que se tornou hoje um montão de ruínas. Depois vem a
fortaleza de Massada, situada num rochedo, não muito distante do mar
Morto. [24]
Ao extrairmos os ensinos que a história
deste grupo nos traz, aprendemos que para haver uma vida de santidade e
dedicação não é necessário o isolamento. A luz deve brilhar em meio as
trevas e o sal deve temperar onde não há tempero.
5. Os herodianos
Era um grupo de judeus que acreditava na
cooperação com Herodes, para haver o favorecimento dos judeus, muito
embora Herodes considerasse a si mesmo um deus vivo, tentando helenizar
Israel, exercendo forte pressão política sobre a nação judaica e
buscando corromper os costumes judaicos. Historiadores como Jerônimo,
Tertuliano, Epifânio, Crisóstomo e Teófilo revelam que os herodianos
criam ser Herodes o Messias, surgindo em defesa de Herodes para adquirir
algum tipo de benefício. Tognini [25] declara que “os herodianos eram
um partido mais político que religioso. Eram um com os saduceus em
religião, divergindo apenas em um ou outro ponto político”. E Hale [26]
apresenta os herodianos como um grupo independente e oriundo de uma ala
esquerdista dos saduceus.
As informações acerca dos herodianos são
poucas, porém, Saulnier e Rolland afirmam que os herodianos possuíam
privilégios e regalias concedidas pelo governo de Herodes [27]. Porém,
parece que a finalidade política dos herodianos era se fortalecer o
suficiente para depois se desligar do poder e dependência romana, pois
havia ainda um sentimento de nacionalismo que se opunha a um poder
estrangeiro, como afirma Douglas [28].
Esse grupo se colocava à disposição do
governo romano, trabalhando como espiões que observavam continuamente
possíveis situações que poderiam trazer problemas ao governo, como
rebeliões políticas, insurreições ou movimentos messiânicos, a exemplo
de Jesus e seus discípulos, como declaram Saulnier e Rolland [29].
Ao passo que os zelotes eram fervorosos defensores de uma rebelião, os herodianos se tornam então seus opositores.
Ao extrairmos os ensinos que a história
deste grupo nos traz, perceberemos que existem, em todos os períodos de
tempo, aqueles que sempre estarão dispostos a sacrificar as convicções
em troca do recebimento de benefícios pessoais. Por isso, esse grupo é
caracterizado por aqueles que buscam seus próprios interesses em
detrimento do próximo, e o completo desapego das verdadeiras convicções e
princípios, a começar pelos princípios éticos e Escriturísticos. Para
estes, o que mais importa é estar ao lado daquele que lhes proporciona
benefícios, pois assim poderão experimentar os resultados trazidos pela
influência e status do poder.
6. Os zelotes
Os zelotes são um grupo que se destaca
como sendo o mais radical dentro do judaísmo. Foram os principais
responsáveis por produzirem os levantes contra Roma, provocando a Guerra
judia (66-70 d.C.), culminando na destruição de Jerusalém e do Templo.
Os zelotes tornaram-se sinônimos de ‘fervorosos’, e foram os que uniram o
fervor religioso com o compromisso social, assim como os sicários [30].
Este grupo rebelde idealizava a vinda do
Messias mediante uma ação revolucionária, que resultaria em sua
libertação das mãos opressoras de Roma e do helenismo.
De acordo com Horsley e Hanson o zelo
por Deus e pela Lei de Deus não pode ser utilizado como características
para se denominar um grupo, pois de certa forma todos os grupos judeus
possuíam essa característica [31]. No entanto, o que caracteriza os
zelotes não é apenas esse zelo, tão somente, mas a manifestação desse
zelo através do desejo de revolução e luta como meio de libertação. Isso
é o que o faz diferente de outros grupos.
Conclusão
O Israel do 1º século possuía uma gama
de facções e grupos étnico-filosófico-político-religiosos que promoviam
uma nação fragmentada. Muito embora alguns desses grupos visassem a
libertação do domínio de Roma, outros estavam imbuídos do desejo de
reconhecer o governo de Roma e a Herodes como o messias.
Se por um lado a resistência judaica
visava a preservação de sua religião e cultura contra a tentativa de
helenização e paganização de seu povo, por outro lado essa resistência
se formava em frentes que tinham interesses particulares e que se uniam
apenas em ocasiões muito especiais em prol de um objetivo comum, como no
caso da perseguição contra Jesus e Sua crucificação. Ainda, como no
caso da união e geração da Primeira Guerra Judaico-Romana, que termina
quando as tropas do general Tito sitiam e destroem a resistência judaica
em Jerusalém, resultando em um domínio romano mais acirrado.
Outros elementos foram de fundamental
importância para o judaísmo do primeiro século, e que tiveram o seu
início desde o exílio babilônico, como a sinagoga e o rabinado. Enquanto
a sinagoga tinha a função de acomodar judeus que se reuniam para orar,
cantar e discutir a Torah proporcionando assim o ensino teológico,
garantindo a sobrevivência do judaísmo (Ne 8), a figura do rabi tinha a
responsabilidade de viabilizar para o povo judeu essa transmissão
realizada na sinagoga. Packer, Tenney e White Jr. afirmam que “essas
mudanças garantiram a sobrevivência do judaísmo, mas também ajudaram a
criar novas facções” [32].
O que vemos, então, é um quadro
histórico pintado com grupos judeus divididos por pensamentos e
ideologias distintas, no exato momento em que surge Jesus Cristo. Porém,
para os fariseus é apresentada a mensagem de reprovação quanto a sua
hipocrisia. Para os saduceus é apresentada a mensagem de que o amor ao
mundo é inimizade contra Deus. Para os samaritanos é apresentada a
mensagem de que ninguém podia servir a dois senhores. Para os essênios é
apresentada a mensagem de que a luz deve brilhar em meio as trevas.
Para os herodianos é apresentada a mensagem de que aquele que amar a sua
vida esse perdê-la-á. Para os zelotes é apresentada a mensagem de que
aquele que vive pela espada morre por ela.
Posteriormente surge outro grupo. Um
grupo formado pela união de judeus e gentios. Povos de todas as raças,
tribos, línguas e nações. Povos que foram redimidos pelo Messias e se
tornaram seus seguidores em todas as partes do globo, através dos
séculos. Esse grupo perdura até os dias de hoje, e o seu fundador, Jesus
Cristo, disse: “sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas
do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16:18).
NOTAS
[1] Flávio Josefo. Conhecido como
Josefo, viveu por volta do ano 100 d.C. Apesar de judeu, tornou-se
cidadão romano e foi um importante historiador do 1º século. Suas obras
apresentam um importante quadro do judaísmo do século I.
[2] LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
[3] JOSEFO, Flávio. Bellum Iudaicum II, VIII, 119.
[4] KIPPENBERG, Hans. Religião e Formação de Classes na Antiga Judéia. São Paulo: Paulus, 1988, p.121.
[5] Idem. p.121
[6] BUCKLAND, A. R. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Vida, 1981.
[7] Guerra dos Judeus (75 d.C.), Antiguidades Judaicas (94 d.C.), e Autobiografia (101 d.C.)
[8] É importante salientar que o termo ‘Palestina’ só foi cunhado por volta do ano 70 d.C. com a invasão do império romano que destruiu o templo e realizou um genocídio, na tentativa de apagar da história a memória da nação de Israel. Portanto, o termo correto aqui é Israel, e não Palestina, que se refere a uma nação que não existe, uma língua que não existe e uma cultura que não existe, mas que é fruto da tentativa do mundo árabe-islâmico de fundar o seu próprio Estado em detrimento da nação de Israel.
[9] TOGNINI, Enéas. O período Interbíblico. São Paulo: Hagnos, 2009, p.153
[10] João Hircano foi um sumo sacerdote que governou a Judéia entre 135 e 104 a.C.
[11] Josefo. Antiguidades XIII. 10.5-7.
[12] Idem, p.155
[13] A Lectio Divina consiste de: 1) Lectio – Leitura; 2) Meditatio – Meditação; 3) Oratio – Oração; 4) Contemplatio – Contemplação. Traduzindo ao pé da letra, Lectio Divina é: “Leitura Divina”. Mas também é conhecida como “Leitura Orante”. Era uma prática dos cristãos antigos, quando dedicavam um tempo exclusivo para meditar no texto da Escritura Sagrada, acompanhado de oração, meditação e oração, sempre contemplando de forma prática a mensagem do texto.
[14] Hipermodernidade é o termo criado pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky para delimitar o momento atual da sociedade humana.
[15] SCHUBERT, Kurt. Os Partidos Religiosos Hebraicos da época Neotestamentária. São Paulo: Paulinas, 1979, p.15,16
[16] O humanismo é uma filosofia moral que apresenta o ser humano como a medida de todas as coisas. Isto é, o homem é o centro de tudo. Portanto, a ideia é contrapor-se a qualquer ser ou coisa de cunho sobrenatural. Surgindo por volta do século XIX é uma das heranças do Iluminismo do século XVIII, e é um dos pressupostos do ateísmo.
[17] FERREIRA, Franklin. Apostila de Hermenêutica. Rio de Janeiro: STBSB, 1999, p.12,13.
[18] Joachim Jeremias foi um teólogo Luterano alemão e professor de Novo Testamento e faleceu em 1979.
[19] Eclesiástico 50:27,28
[20] RYRIE, Charles C. A Bíblia Anotada. São Paulo: Mundo Cristão, 1994, p.1659.
[21] Enciclopedia de la Biblia, v.3, p.143-150.
[22] Antiguidades Judaicas. XVIII, 19.
[23] Gaius Plinius Secundus foi um historiador romano que escreveu Naturalis Historia, um vasto compêndio das ciências antigas composto por 37 volumes e dedicado a Tito Flávio, que viria a ser imperador de Roma.
[24] PLÍNIO, O Velho. Naturalis Historia. v. 73.
[25] Idem, p.167.
[26] HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001, p.20.
[27] SAULNIER, Christiane & ROLLAND, Bernard. A Palestina nos tempos de Jesus. 7 ed. São Paulo: Paulinas, 1983, p.83.
[28] DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995, p.712.
[29] Idem, p. 83.
[30] Uma explicação sobre os sicários é realizada na Introdução deste artigo.
[31] HORSLEY, Richard A. & HANSON, John S. Bandidos, profetas e messias: movimentos populares no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus, 1995, p.166.
[32] PACKER, J. I.; TENNEY, Merril C.; WHITE, William. O Mundo do Novo Testamento. São Paulo: Vida, 1991, p.82.
[2] LOPES, Augustus Nicodemus. A Bíblia e Seus Intérpretes. São Paulo: Cultura Cristã, 2007.
[3] JOSEFO, Flávio. Bellum Iudaicum II, VIII, 119.
[4] KIPPENBERG, Hans. Religião e Formação de Classes na Antiga Judéia. São Paulo: Paulus, 1988, p.121.
[5] Idem. p.121
[6] BUCKLAND, A. R. Dicionário Bíblico Universal. São Paulo: Vida, 1981.
[7] Guerra dos Judeus (75 d.C.), Antiguidades Judaicas (94 d.C.), e Autobiografia (101 d.C.)
[8] É importante salientar que o termo ‘Palestina’ só foi cunhado por volta do ano 70 d.C. com a invasão do império romano que destruiu o templo e realizou um genocídio, na tentativa de apagar da história a memória da nação de Israel. Portanto, o termo correto aqui é Israel, e não Palestina, que se refere a uma nação que não existe, uma língua que não existe e uma cultura que não existe, mas que é fruto da tentativa do mundo árabe-islâmico de fundar o seu próprio Estado em detrimento da nação de Israel.
[9] TOGNINI, Enéas. O período Interbíblico. São Paulo: Hagnos, 2009, p.153
[10] João Hircano foi um sumo sacerdote que governou a Judéia entre 135 e 104 a.C.
[11] Josefo. Antiguidades XIII. 10.5-7.
[12] Idem, p.155
[13] A Lectio Divina consiste de: 1) Lectio – Leitura; 2) Meditatio – Meditação; 3) Oratio – Oração; 4) Contemplatio – Contemplação. Traduzindo ao pé da letra, Lectio Divina é: “Leitura Divina”. Mas também é conhecida como “Leitura Orante”. Era uma prática dos cristãos antigos, quando dedicavam um tempo exclusivo para meditar no texto da Escritura Sagrada, acompanhado de oração, meditação e oração, sempre contemplando de forma prática a mensagem do texto.
[14] Hipermodernidade é o termo criado pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky para delimitar o momento atual da sociedade humana.
[15] SCHUBERT, Kurt. Os Partidos Religiosos Hebraicos da época Neotestamentária. São Paulo: Paulinas, 1979, p.15,16
[16] O humanismo é uma filosofia moral que apresenta o ser humano como a medida de todas as coisas. Isto é, o homem é o centro de tudo. Portanto, a ideia é contrapor-se a qualquer ser ou coisa de cunho sobrenatural. Surgindo por volta do século XIX é uma das heranças do Iluminismo do século XVIII, e é um dos pressupostos do ateísmo.
[17] FERREIRA, Franklin. Apostila de Hermenêutica. Rio de Janeiro: STBSB, 1999, p.12,13.
[18] Joachim Jeremias foi um teólogo Luterano alemão e professor de Novo Testamento e faleceu em 1979.
[19] Eclesiástico 50:27,28
[20] RYRIE, Charles C. A Bíblia Anotada. São Paulo: Mundo Cristão, 1994, p.1659.
[21] Enciclopedia de la Biblia, v.3, p.143-150.
[22] Antiguidades Judaicas. XVIII, 19.
[23] Gaius Plinius Secundus foi um historiador romano que escreveu Naturalis Historia, um vasto compêndio das ciências antigas composto por 37 volumes e dedicado a Tito Flávio, que viria a ser imperador de Roma.
[24] PLÍNIO, O Velho. Naturalis Historia. v. 73.
[25] Idem, p.167.
[26] HALE, Broadus David. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2001, p.20.
[27] SAULNIER, Christiane & ROLLAND, Bernard. A Palestina nos tempos de Jesus. 7 ed. São Paulo: Paulinas, 1983, p.83.
[28] DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995, p.712.
[29] Idem, p. 83.
[30] Uma explicação sobre os sicários é realizada na Introdução deste artigo.
[31] HORSLEY, Richard A. & HANSON, John S. Bandidos, profetas e messias: movimentos populares no tempo de Jesus. São Paulo: Paulus, 1995, p.166.
[32] PACKER, J. I.; TENNEY, Merril C.; WHITE, William. O Mundo do Novo Testamento. São Paulo: Vida, 1991, p.82.
Fonte: Napec
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