Por Josemar Bessa
Certa vez George Whitefield (1714-1770) disse que
qualquer homem que está familiarizado com a natureza humana e a propensão do
seu próprio coração, deve inevitavelmente reconhecer que a justiça própria é o último ídolo a ser erradicado do coração.
Há apenas duas formas
pelas quais o homem pode ter paz verdadeira com Deus. A primeira é ter um
coração completamente livre de qualquer pecado. Quando Adão era santo havia
perfeita paz, mas ela foi quebrada. Todos nós pecamos, e esta porta (a perfeição própria do coração – ser um ser
merecedor de algo da parte de Deus) está para sempre fechada para toda a
nossa raça.
De todos os nascidos de
mulher, de todos que pisaram esta terra, apenas um entrou no céu por seus
próprios méritos, Cristo, o Filho de Deus. Só nEle e em seus méritos a paz
agora é possível: “Tendo sido, pois,
justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo; Pelo
qual também temos entrada pela fé a esta graça, na qual estamos firmes, e nos
gloriamos na esperança da glória de Deus.” - Romanos 5:1-2
A maneira com que
podemos certamente garantir uma falsa paz e nos destruir é fechar os olhos as
ofensas infinitas do pecado, do pecador a um Deus infinitamente santo, é
minimizar o pecado acreditando ser possível ter algum mérito diante de Deus, é
se fazer cego para nossas próprias consciências e nos convencermos de que
realmente não somos culpados além de toda possibilidade de reparação e de toda
possibilidade de ter algum mérito diante de Deus que nos faça digno de
reivindicações diante dEle.
Justiça própria é o maior
ídolo humano. Ele tem “reinado” não só no mundo secular, mas em grande parte
daqueles que dizem ter crido no evangelho. Um evangelho que não destrói o ídolo justiça-própria,
que mantém espaço para a justiça própria e mérito humano na salvação... não é evangelho de forma nenhuma. Homens assim
passam seus dias no engendramento de desculpas transformando o mal em bem, o
demérito em mérito, a necessidade de graça em reivindicações.
Tendo nascido caído em
um mundo caído; tendo nascido sob um pacto de obras, é natural para todos nós
recorrer a um pacto de obras para a nossa salvação eterna. E nós temos orgulho
diabólico suficiente para pensarmos em ter um alguma glória em nossa salvação.
Todo homem é Pelagiano por natureza.
E portanto, não é de se admirar que sem a obra o soberana do Espírito abracemos
facilmente a “liberdade” humana,
nossa capacidade de colocarmos sobre nossa força e desejo o passo fundamental da nossa salvação. O ídolo
justiça-própria é terrível e o mais resistente no coração caído. É a
atitude mais comum debaixo do sol. É um mal que floresce em todas as idades,
todas as classes sociais, todos os níveis intelectuais – do analfabeto ao homem
que possua a maior quantidade de títulos acadêmicos, o ídolo justiça-própria
reina!
Nada ofende tanto nossa
sociedade, cultura... e muitas vezes a igreja de nossos dias, do que atacar o ídolo justiça-própria. Vozes
revoltadas logo se levantam com paixão avassaladora para defendê-lo. Eis a
grande dificuldade hoje com as Doutrinas
da Graça, pois ela não poupa o ídolo justiça-própria, então, se torna uma
pedra de tropeço. A justiça toda suficiente de Cristo não deixa espaço para a
auto-justiça. O ego se levanta então furioso. Esse não é um erro periférico, é
um erro fatal!
Auto-justiça nasceu com
o pecado e ela cresce com o crescimento do pecado. De maneira perversa, quanto
mais o pecado cresce em uma sociedade, cultura e no coração humano, mas a
auto-justiça floresce, mas o ídolo justiça-própria é entronizado. A disposição
para negar o seu crime é universal entre os homens. Nada, senão a Graça
Soberana, pode efetivamente erradicar o hábito da auto-justificação. O homem
tem uma grande estima por si mesmo, por sua bondade... e não o oposto como é
pregado hoje.
Nada na natureza humana
parece mais obstinado, ou mais difícil de erradicar do que o espírito
meritório. Deixado entregue ao seu próprio coração, o homem vive em pecado,
morre em pecado, e deita-se para sempre na tristeza eterna; mas não renuncia
sua própria bondade e abandona suas esperanças hipócritas de que pode merecer
algo de um Deus totalmente santo.
Se não podemos falar
como Jeremias: “O Senhor é a Nossa
Justiça” – Tudo que dissermos estará a serviço do engano: “Naqueles
dias Judá será salvo e Jerusalém habitará seguramente; e este é o nome com o
qual Deus a chamará: O SENHOR é a nossa justiça.” - Jeremias 33:16
Fonte: Fides Reformata
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