quarta-feira, 29 de maio de 2013

Nossos olhos estão secos!



Por  Josemar Bessa
 
Nenhuma outra geração teve uma visão tão superficial do pecado como a nossa. Leia essas palavras do Puritano William Beveridge (1637–1708), e veja a diferença para os nossos dias:

“Eu não posso orar como convém, mas eu peco. Eu não posso ouvir ou pregar um sermão de forma perfeita, mas eu peco. Eu não posso dar ofertas ou receber o sacramento de forma totalmente pura, mas eu peco. Não, eu não posso confessar sequer os meus pecados perfeitamente, mas as minhas próprias confissões ainda são agravos deles. Meu arrependimento precisa se arrepender, minhas lágrimas precisam ser lavadas, e a própria lavagem das minhas lágrimas ainda precisam ser lavadas mais uma vez com o sangue do meu Redentor. "

William Beveridge, "Private Thoughts" -  (Londres, 1720).

Somos uma geração que não chora: Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados. - Mateus 5:04

Nossa tragédia está em nossos olhos secos.

Martinho Lutero escreveu em 1521:

“Nós fomos chamados a uma vida de arrependimento.
Esta vida, por isso,
não é justiça,
mas o crescimento em justiça,
não é saúde perfeita,
mas a cura,
não sendo,
mas tornando-se,
Não descanso,
mas o exercício.
Nós não somos ainda o que havemos de ser,
mas estamos crescendo em direção a isso inexoravelmente (Santificação).
O processo ainda não está terminado,
mas está acontecendo.
Este não é o fim,
mas é a estrada.
De forma plena ainda não brilhamos  em glória,
mas tudo está sendo purificado.”

Lutero está afirmando que o arrependimento é a única forma de progresso diário na vida cristã.

Mas em nossa superficialidade nossa geração acredita que o culto deve ser um momento leve, descontraído, de boas dicas para a vida, auto-ajuda... Que ao fim todos devem ter experimentado sentimentos doces e agradáveis apenas, devem se sentir leves... Nada desagradável deve fazer parte do culto... fazer as pessoas se sentirem bem é o propósito. Com isso, o verdadeiro arrependimento foi banido do culto, e sem ele, não temos um verdadeiro culto:

“Agora, porém, me alegro, não porque vocês foram entristecidos, mas porque a tristeza os levou ao arrependimento. Pois vocês se entristeceram como Deus desejava, e de forma alguma foram prejudicados por nossa causa. A tristeza segundo Deus produz um arrependimento que leva à salvação e não remorso, mas a tristeza segundo o mundo produz morte”. 2 Coríntios 7:8-9

Achamos algo duro e pesado: “Chorai! Quebre seus corações!” – Pregação bíblica equilibrada em cada tema é a necessidade da hora. O estado da igreja, o estado de cada membro individual, de forma geral, na igreja de nossos dias, pede um ministério de grande despertamento sobre o arrependimento.

Um grande pregador ao ouvir Whitefield pregar disse: “Eu senti que em todo o meu ministério eu dei conforto muito cedo” – Se um pregador acha que a coisa mais importante na pregação é ter um sermão aceito e admirado por quem ouve, necessariamente irá tirar qualquer “ofensa”, desconforto, algo que leve a tristeza... deles.

O arrependimento não é produzido por corações bons em detrimento aos corações maus, o arrependimento bíblico é um dom de Deus. A natureza humana o bombeia sempre para fora de seu coração de pedra. Um sermão que move congregações ao arrependimento sob a convicção do Espírito, é um ouro fino, um artigo precioso e raro na terra em nossos dias. Assim toda a pregação se tornou fraca e isso é agravado por três fatores.

1)  O apelo do evangelismo moderno não tem sido focado em arrependimento, mas no alistamento. Mas um para o grupo...

2)  Igrejas inteiras tornaram-se simplesmente sem vontade e incapazes de aceitar a realidade da culpa pessoal ( com todo suporte que a psicologia humanista dá para isso ) e, portanto, incapazes de reconhecer sua necessidade desesperadora de arrependimento verdadeiro e bíblico.

3)   “Pecado” – é uma palavra cada vez mais raramente ouvida em nossa sociedade, exceto em caso de crimes.... As próprias igrejas não tem noção, ou negam, a união do homem com Adão, que todos nós estamos envolvidos em sua rebelião, culpa, depravação e maldição, que cada ser humano já nasce assim. Os valores humanistas corromperam os púlpitos.  O elemento central de arrependimento foi banido. O elemento central foi banido da Grande Comissão – que diz: “e que em seu nome seria pregado o arrependimento para perdão de pecados a todas as nações, começando por Jerusalém”. - Lucas 24:47

A mensagem apostólica ao mundo é um testemunho de “arrependimento para com Deus e de fé em nosso Senhor Jesus Cristo” ( Atos 20.21). Qual foi a mensagem em Atenas, para os gregos sofisticados? “No passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos" - Atos 17:30-31

Assim, o arrependimento é algo que muda a mente, mudando valores, metas, propósitos, visão do pecado, horror ao pecado e não simplesmente a alguns pecados particulares... A mudança é radical, tanto interna como externamente – mente, julgamento, vontade, comportamento, estilo de vida, motivos, propósitos... tudo está envolvido. Leva o homem a ir numa direção nova e viver uma nova vida.

Considere esta definição bíblica de arrependimento feita no século XVII, quando a Verdade foi vista mais claramente que em nossos dias sombrios e a preocupação de agradar e para com a honra de Deus transcendia qualquer desejo de agradar a uma congregação ou aos homens:

Movido pelo reconhecimento e sentimento, não só do perigo, mas também da impureza e odiosidade do pecado como contrários à santa natureza e justa lei de Deus; apreendendo a misericórdia divina manifestada em Cristo aos que são penitentes, o pecador pelo arrependimento, de tal maneira sente e aborrece os seus pecados, que, deixando-os, se volta para Deus, tencionando e procurando andar com ele em todos os caminhos dos seus mandamentos - Ezeq. 18:30-31 e 34:31; Sal.51:4; Jer. 31:18-19; II Cor.7:11; Sal. 119:6, 59, 106; Mat. 21:28-29.

Ainda que não devemos confiar no arrependimento como sendo de algum modo uma satisfação pelo pecado ou em qualquer sentido a causa do perdão dele, o que é ato da livre graça de Deus em Cristo, contudo, ele é de tal modo necessário aos pecadores, que sem ele ninguém poderá esperar o perdão - Ez. 36:31-32 e 16:63; Os. 14:2, 4; Rom. 3:24; Ef. 1: 7; Luc. 13:3, S; At. 17:30,31.

Como não há pecado tão pequeno que não mereça a condenação, assim também não há pecado tão grande que possa trazer a condenação sobre os que se arrependem verdadeiramente - Rom. 6:23; Mat. 12:36; Isa. 55: 7; Rom. 8:1; Isa. 1: 18.,

Os homens não devem se contentar com um arrependimento geral, mas é dever de todos procurar arrepender-se particularmente de cada um dos seus pecados - Sal. 19:13; Luc. 19:8; I Tim. 1:13, 15.

Isso é o que a Bíblia ensina, esse é o arrependimento que desejamos, e é isso que nós desejamos que todos amem, acreditem e preguem a partir de seus corações.
 
Fonte: Josemar Bessa

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