Por Clóvis Gonçalves
É claro que algo vai acontecer. Abandonaremos o nosso corpo atual em
determinado momento, e a nossa partida e o que deixaremos para trás não
parecerão agradáveis àqueles que gostam de nós. Mas esse momento, como
Paulo também afirma, simplesmente será uma questão de "deixar o corpo e habitar com o Senhor" (2Co 5:8).
Os primeiros cristãos diziam que os que passavam pela morte física
"dormiam". Nessa condição estamos, como dizemos ainda hoje de uma pessoa
adormecida, "mortos para este mundo". Para aqueles que ficam existe uma
semelhança óbvia, embora superficial, entre o corpo daquele que dorme e
o corpo de outro que passou ao mundo pleno. Mas nesse modo de falar não
havia intenção de dizer que estaríamos inconscientes. A consciência
persiste enquanto dormimos, e do mesmo modo quando "dormimos em Jesus"
(1Ts 4:14; At 7:60). A diferença é simplesmente uma questão daquilo de
que estamos conscientes. Na verdade, na morte "física" nós nos tornamos
conscientes e desfrutamos de uma riqueza de experiência que jamais
conhecemos antes.
O evangelizador americano Dwight Moody observou já perto do fim da vida: "Um dia, breve, vocês vão ouvir dizer que eu morri. Não acreditem nisso. Eu então estarei mais vivo do que nunca".
Quando os dois guardas chegaram para levar Dietrich Bonhoeffer ao
cadafalso, ele puxou de lado um amigo e brevemente lhe disse: "Isso é o fim, mas para mim é o princípio da vida".
Como então deveríamos conceber a transição? O não termos uma forma de
concebê-la é uma das coisas que a torna persistentemente aterrorizadora
mesmo para aqueles que têm plena confiança em Jesus. O inimaginável é
para nós naturalmente assustador. Mas há duas metáforas que creio serem
corretas e também úteis. Elas podem nos ajudar a saber o que devemos
esperar no momento em que deixarmos o nosso "tabernáculo", o nosso corpo
(2Co 5:1-6).
A primeira é de Peter Marshall, e ficou famosa alguns anos atrás. É a
metáfora de uma criança brincando à noite com seus brinquedos. Pouco a
pouco ela vai ficando cansada e abaixa a cabeça para repousar um pouco,
continuando a brincar preguiçosamente. A próxima coisa que ela vivência
ou "prova" é a luz da manhã de um novo dia inundando a cama e o quarto
para onde sua mãe ou seu pai a levou. O interessante é que nunca nos
lembramos do momento em que adormecemos. Não o "vemos", não o
"provamos".
Outra metáfora é de uma pessoa que passa por uma porta entre dois
recintos. Ainda em relação com as outras pessoas do recinto que ela está
deixando, já começa a enxergar e conversar com as pessoas do outro
recinto, que podem estar totalmente ocultas àqueles que ficaram para
trás. Antes da disseminação do uso de pesados sedativos, era bem comum
observar algo parecido com isso. A pessoa que faz a transição muitas
vezes começa a falar com aqueles que partiram antes dela. Eles nos vão
receber enquanto estamos ainda em contato com aqueles que ficam. As
cortinas se abrem para nós pouco antes de passarmos.
Falando do esplendor dessa passagem para o mundo pleno dos "céus reabertos", John Henry Newman comenta o seguinte:
"As coisas maravilhosas do novo mundo já são agora mesmo o que serão
então. São imortais e eternas; e as almas que então ficarem conscientes
delas as verão na sua tranqüilidade e na sua majestade, onde sempre
estiveram... A vida que então começará, bem o sabemos, durará para
sempre; no entanto, com toda a certeza, se a memória for então para nós o
que é hoje, esse será um dia certamente a ser celebrado perante o
Senhor pelos séculos dos séculos". Será o nosso nascimento num mundo pleno de Deus.
Dalla Willard, 04/09/1935 - 08/05/2013
A Conspiração Divina.
Fonte: Cinco Solas
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