quarta-feira, 1 de maio de 2013

Impostores expositivos

 
Por Mike Gilbart-Smith

Mark Dever corretamente descreve a Pregação Expositiva como “pregação que toma como o assunto do sermão o assunto de uma passagem particular da Escritura”. Entretanto, tenho ouvido muitos sermões que tentam ser expositivos, mas falham de alguma forma. Abaixo estão sete armadilhas que alguém pode  evitar. Cada uma dessas armadilhas ou não faz da mensagem da passagem a mensagem do sermão, ou, no final das contas, não a faz uma mensagem para a congregação.

1) O assunto da passagem é mal-entendido: o “Sermão sem Fundamento”.

Este é o caso em que o pregador diz coisas que podem ou não serem verdadeiras, mas que, de nenhuma forma, vieram da passagem, quando ela é entendida corretamente. Isso pode acontecer tanto por falta de cuidado com o conteúdo do texto (por exemplo, “produção, motivação e inspiração”, tirado de 1 Tessalonicenses 1.3, versão NIV; embora nenhuma palavra tenha paralelo no grego), quanto por falta de cuidado com o contexto (por exemplo, o sermão em Davi e Golias, que pergunta “quem é seu Golias, e quais são as cinco pedras que você precisa preparar para usar contra ele?”).

Se o pregador não está extraindo profundamente da Palavra de Deus para guiar a mensagem de seus sermões, eles estão possivelmente sendo dirigidos pelas próprias preferências do pregador. Pois, “quando alguém regularmente prega de uma forma que não é expositiva, os sermões tendem a ser somente sobre assuntos que interessam ao pregador” (Nove Marcas). Portanto, a congregação não recebe tudo o que Deus pretendia. A lição? Pregadores devem se entregar ao entendimento absoluto do texto antes de sentar para escrever seus sermões. Uma leitura casual não é o bastante. Os pregadores devem permitir que Deus determine a dieta do rebanho como prevenção contra uma alimentação insuficiente.

2) O assunto da passagem é ignorado: o “Sermão Trampolim”.

Bastante parecido é o sermão em que o pregador entendeu o centro do texto, concorda superficialmente com ele , e então fica intrigado com algo que é um ponto secundário ou terciário, fixando sua atenção nisso pelo resto do sermão. O que ele diz vem do texto, mas não é o assunto principal do texto (por exemplo, o sermão em João 3 que enfoca primeiramente a permissão de cristãos beberem álcool).

3) O assunto da passagem não é aplicado: o “Sermão Exegético”.

Algumas pregações que se dizem expositivas são rejeitadas como chatas e irrelevantes… e com justiça! O ouvinte poderia muito bem ler um comentário exegético. Tudo que é dito é fiel à passagem, mas não é realmente um sermão; é meramente uma leitura técnica da passagem. Pode-se aprender muito sobre o uso paulino do Genitivo Absoluto, mas pouco sobre a pessoa de Deus ou a natureza do coração humano. Não há aplicação pra nada a não ser às mentes da congregação. A verdadeira pregação expositiva certamente deve informar primeiro a mente, mas também aquecer o coração e constranger a vontade.

4) O assunto da passagem é aplicado a uma congregação diferente: o “Sermão Irrelevante”.

Muitas pregações promovem orgulho na congregação por jogarem pedras nos tetos de vidro de outras pessoas. Ou o ponto da passagem é aplicado apenas aos incrédulos, sugerindo que a Palavra não tem nada a dizer para a igreja, ou é aplicada aos problemas que raramente são vistos na congregação onde se prega. Assim, a congregação se torna orgulhosa, e como os fariseus na parábola de Jesus, acabam agradecidos por não serem como os outros. A resposta não é arrependimento e fé, mas “se a Sra. Brown ouvisse esse sermão!” ou “esse sermão realmente deveria ser pregado na Enésima Igreja Batista de Smorgsville, Pensilvânia!”.

5) O assunto da passagem é mal aplicado à congregação atual: o “Sermão Inadaptado”.

Algumas vezes, a distância hermenêutica entre a passagem original e a congregação atual pode ser mal compreendida, de forma que a aplicação do contexto original é transferida de maneira errada ao contexto atual. Assim, se o pregador não tem uma teologia bíblica correta do culto, passagens sobre o Templo no Antigo Testamento podem ser aplicadas erroneamente sobre o prédio da igreja no Novo Testamento, ao invés de estarem cumpridas em Cristo e em seu povo.

6) O assunto da passagem é separado de seu impacto geral: o “Sermão Doutrinário”.

Deus deliberadamente falou a nós “de muitas e diversas maneiras”. Muitos sermões ignoram o gênero de uma passagem, e pregam narrativa, poesia, epístola ou apocalíptica – todos como se fossem uma série de afirmações proposicionais. Embora toda pregação deva transmitir verdades proposicionais, elas não deveriam ser reduzidas a isto. O contexto literário das passagens deveriam significar que um sermão de Cântico dos Cânticos soa diferente de um a partir de Efésios 5. As passagens podem ter o mesmo ponto central, mas é transmitido de uma forma diferente. Esta diversidade não deve ser perdida na pregação.

7) O assunto da passagem é pregado sem referência à passagem: o “Sermão Atalho”.

Outro sermão pode ter até uma aplicação apropriada à mente, coração e vontade, ainda que a congregação fique sem saber como isso foi apropriadamente aplicado a partir do texto. Oposto do sermão exegético, esse tipo de pregação não mostra nenhum “trabalho” exegético, afinal. Embora o Senhor tenha apresentado seus objetivos em sua Palavra, apenas o pregador está totalmente ciente desse fato. A congregação pode muito bem acabar dizendo “que sermão maravilhoso” ao invés de “que passagem maravilhosa da Escritura”.

Pregação expositiva é tão importante para a saúde da igreja porque permite que o conselho inteiro de Deus seja aplicado à igreja inteira de Deus. Que o Senhor equipe os pregadores de Sua Palavra de forma que Sua voz possa ser ouvida e obedecida.

Fonte: Ipródigo

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