sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Evangelho de Cristo: permanência e salvação


Por Ricardo Mamedes

Ainda ontem conversando com um amigo, via gtalk, lhe confabulei que estou meio preguiçoso ultimamente. Meu blog está sem novos textos, às vezes não respondo a todos que comentam por aqui (e nem são tantos). Um certo desânimo que nos acomete às vezes, embora estando tudo em ordem, as dificuldades normais do cotidiano... é um sei lá o quê.

Eis que hoje na escola dominical, depois de ouvir uma ótima exposição de um irmão, firmei reflexão neste texto bíblico:

Prega a palavra, insta, quer seja oportuno , quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina (2 Timóteo 4.2).

Essa segunda Carta a Timóteo tem principalmente a característica de exortar os crentes da igreja primitiva, uma vez que um grande número de heresias já acompanhava e perseguia o cristianismo nascente. Muitos, já naquela época, tentavam mudar os seus pilares, firmados na cruz de Cristo, Rocha sólida, para oferecer novos meios de salvação, que não a graça, ou a fé dada diretamente aos santos por Deus. A luta do apóstolo Paulo é constante tanto na pregação como na exortação.

Interessante observar que os versos seguintes do mesmo capítulo citado em epígrafe , da Segunda Carta do apóstolo Paulo a Timóteo, assim assevera, corroborando o que acabei de afirmar:

"Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina ; pelo contrário, cercar-se-ão de mestres segundo as suas próprias cobiças, como que sentindo coceira nos ouvidos; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, entregando-se às fábulas" (vs 3, 4).

Temos a oferta de um evangelho depauperado, trôpego, cambaleante. Oferecem-se tudo aos "frequentadores" de igrejas, desde a melhor unção até a maior bênção financeira. Cristo crucificado e ressurreto, morto vicariamente pelos pecados de muitos não tem mais lugar na pregação. Os jargões tomaram o lugar da letra viva, os "mantras" repetidos à exaustão é que convencem os "usuários" de tal evangelho.

Os vendedores de ilusões, defraudadores da Palavra, se acotovelam nos púlpitos em busca de novos seguidores incautos, oferecendo-lhes, não a Bíblia, mas os "passos" necessários para se "chegar lá". Esse "lá" é o lugar da vitória, é onde você encontrará todas as respostas, é o "abracadabra" . "Lá", todos os seus problemas terminarão (principalmente financeiros), todos os sofrimentos terão fim, pois a bênção te espera, bastando que você "se aproprie dela".

Os "pregadores mercantilistas profissionais" se valem de todas as técnicas de autoajuda, insuflando nos "espectadores" (ou telespectadores) a grande capacidade interior que move cada um, a "força" que os impele para a frente e que é "intrínseca" ao ser humano. Vicejam nas "reuniões" os Augustos Curys, as palavras de ordem, as repetições, as promessas.

O grande mote é a pregação enfática: os gritos, os sapateios, pulos, gemidos, rosnados. Muitos desses "luminares" chegam a espumar os cantos da boca - o que me faz lembrar os lobos vorazes, devoradores. Vez ou outra citam os seus mestres, e um dos mais lembrados é o Marco Feliciano. Eu mesmo já tive o desprazer de ser instado a ouvir um CD do "grande pregador", e embora tendo estômago de avestruz, não me atrevi a tanto.

A pregação expositiva não tem lugar nesse meio evangélico/gospel. Buscam-se sinais e prodígios, curas e milagres. Novas revelações se reproduzem: é uma palavra para cada "usuário".

É terminantemente vedado aos emergentes evangélicos discutir com o "grande líder". Instar, exortar, questionar, tudo proibido! Os robôs, pequenos autômatos, seguem os seus gurus, semideuses, até se precipitarem no abismo. Não há palavra , ensinamento que os faça parar.

Outrora, a não tanto tempo eu afirmei que essa "fé" firmada em experiências emocionais as mais diversas, mas distantes do Logos eterno, do Verbo, do Cristo, não se mantém. Aliás, não é nem mesmo fé. O que eu espero é o que está em Cristo, e o que está nEle está além dos meus olhos, muito próximo do coração. E é racional, inteligível; é compreensível, bem ao contrário do que "pregam" os vendedores de ilusões. Essa fé é perceptível, mas intangível (Hebreus 11), não se materializa em coisas, tampouco em palavreado enfatuado, ou em performances.

Homens que pregam o que não fazem, fazedores de prosélitos vazios (Mateus 23.15) , que nem entram para o reino e também não deixam entrar aqueles que estavam entrando (Mateus 23.13); estes, são os fariseus modernos a que faz referência um hino.

Há momentos em que é triste reconhecer que palavras ditas e escritas previamente se materializaram... palavras proféticas, mas que não foram proferidas com o usual prefixo "Deus me mandou dizer..."

Desviar da Palavra de Deus e embrenhar por experiências humanas como sendo a verdade, traz terríveis consequências, disse eu outrora. Melhor é crescer em graça, diminuir para que cresça Cristo. Necessário é pregar essa Palavra da verdade, ainda que poucas sementes germinem, porém, aquelas que germinarem serão árvores fortes, resistentes; árvores que suportarão grandes intempéries, terríveis tormentas. Aquelas outras, serão apenas sementes que germinam mas logo morrem.

O pior de todos os equívocos é se cortar "árvores frondosas" , ao mesmo tempo em que se semeia joio.

Voltando ao início desta reflexão, retorno à Segunda Carta a Timóteo, capítulo 4, versos 14-17:

"Tu porém, permanece naquilo que aprendeste e de que foste inteirado, sabendo de quem o aprendeste e que, desde a infância, sabes as sagradas letras, que podem tornar-te sábio para a salvação em Cristo Jesus. Toda a escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda a boa obra".

É nessa Escritura que eu quero me manter firme, imune a todo e qualquer movimento humano deturpado, travestido de falsa piedade cristã. A seara é grande, cabendo a nós exclusivamente anunciarmos o Evangelho da salvação sem exibicionismos, sem grandes performances, sem vozerio e sem prodígios ( principalmente de mentira). Além disto, cabe somente a Deus efetuar o "querer e o realizar segundo a sua boa vontade" (Filipenses 2.13). Não há atalhos, somente há um caminho. Atalhos, quando há, levam à morte.

Toda honra e toda glória ao Criador, Senhor de tudo e salvador daqueles que o glorificam em espírito e em verdade, de todo o coração e não apenas "honrando-O com os lábios".

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