Por João A. de Souza Filho
Pois meus amigos, vocês que são leitores assíduos do que venho escrevendo poderão ou não concordar comigo de que a igreja brasileira vive a doce ilusão de que é possível implantar o reino de Deus através da política. A velha crença de que se tivermos um governo cristão, com um Presidente comprometido com os ideais de Cristo, e que se tivermos no Senado e na Câmara bons cristãos – evangélicos é claro – dizem alguns, teremos outro Brasil.
Não quero desiludi-los. Nem me refiro a ter ou não mais liberdade religiosa, porque esta liberdade está garantida pela atual constituição. Quem sabe os amigos do “rei” ganhariam mais emissoras de rádio e de tevê; que mais verbas da cultura ajudassem as editoras a publicar livros com cunho cristão e que livrarias se interessassem por tudo o que gospel.
Mas, a igreja nunca precisou de liberdade para pregar o evangelho, porque este é pregado independentemente de haver liberdade ou não, com a única possibilidade de que os cristãos não sejam julgados e presos. Mas, se tivéssemos um governo totalmente evangélico, por certo que caminharíamos para um governo radical, xiita, que censuraria tudo o que fosse escrito, televisado ou falado no rádio, cerceando a liberdade religiosa de credos diferentes dos cristãos. Não é verdade? Os evangélicos não são maduros suficientemente para governarem uma nação, porque, caso o presidente por eles eleito comparecesse a uma festa social e beneficiasse credos diferentes, logo haveriam de execrá-lo do poder. É assim que funciona. Seríamos iguais aos países religiosos totalitários do Oriente.
O segundo aspecto é que desde as eleições de 1988 ainda não vi um político evangélico que não tenha se corrompido moral e politicamente com a política. Obviamente que o político precisa, primeiramente se comprometer com os ideais de seu partido, inda que tais ideais sejam de partidos que sistematicamente perseguiram e mataram os cristãos na Europa Oriental em décadas passadas. Os políticos que não se comprometem com o programa do seu partido são expulsos, e, convenhamos o programa do partido do atual governo é contrário aos ideais cristãos. Os políticos evangélicos os não-evangélicos têm um discurso atraente e convincente antes de serem eleitos, mas depois a prática da política os conduz pelos corredores da propina e do enriquecimento – às vezes ilícito – esquecendo-se de onde vieram, e das promessas feitas em campanha.
O terceiro aspecto, é que o sistema mundial que governa o curso deste mundo está nas mãos de Satanás, e o mundo só terá um governo de justiça por ocasião do segundo advento de Cristo. Qualquer pessoa, por mais intencionada que esteja terá que seguir o curso do sistema, ou chocar-se-á contra ele e se espatifará. Isso tem acontecido com todos os que não concordam com o sistema. Conheço vários ex-políticos que se desiludiram porque o sistema os estava destruindo, e alguns até foram destruídos. É bem possível que alguns que estão no cenário da política nacional não tenham se corrompido – o que não acredito – porque em escala menor ou maior já obtiveram vantagens pessoais com o cargo que exercem.
Os apóstolos deixaram claro seu posicionamento em relação ao sistema, avisando que o mundo está no maligno; que o deus deste século cega o entendimento das pessoas. Se a tendência é o de deixar a malignidade tomar conta do coração, como Deus alertou o povo de Israel – “e não seja maligno o teu coração” (Dt 15.10), imagine cair no sistema maligno! “Que harmonia, entre Cristo e o Maligno?” (2 Co 6.15) pergunta Paulo. Nenhuma, diz João, porque “o mundo inteiro jaz no Maligno” (1 Jo 5.19), e Jesus afirmou que nada tem a ver com o “príncipe deste mundo” (Jo 14.30).
Admiro a todos os políticos evangélicos que se arriscam trilhar o perigoso caminho da política sob cuja égide age abertamente Satanás. Oro por eles, como sempre orei por meus amigos que desde 1988 entraram para a política e se corromperam. Construíram uma “linda” carreira e a tão sonhada estabilidade financeira, ao custo de algumas perdas, quem sabe, a maior delas, a perda do galardão que lhes estava preparado. Não me refiro à salvação, adquirida pelos méritos de Cristo, mas ao galardão que está preparado a todos os que são fieis. Reconheço seus avanços e a forma como impediram que certos decretos e leis fossem estabelecidos com prejuízo para o povo de Deus, e nisto são elogiáveis – mas também sei que a igreja vive acima das leis, sua existência terrena é revestida de transcendentalidade.
Como afirmou certo escritor no passado: “... a trilogia das atividades humanas se resume nestas palavras: fama, prazer e bens. Tudo está subordinado a esses três objetivos, em defesa dos quais o mundo apresenta hábeis argumentos, criando a ilusão de que são realmente dignos”.
Pense nisso. Vote consciente, afinal, vivemos numa falsa democracia em que somos obrigados a votar. Escolha bem, se é que você tem opções, caso contrário, compareça às urnas e opte por não votar em ninguém! Para o bem do país!
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