Por Jorge Fernandes Isah
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Primeiro, gostaria de dizer que Cristo é a segunda Pessoa da Trindade Santa, portanto, é Deus. São tantos os versículos que apontam a Sua divindade, que é desnecessário indicá-los. Qualquer conhecedor mínimo da Escritura não terá problemas em aceitá-la como verdadeira, pois Ele mesmo diz: “Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou. E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou” [Jo 12.44-45].
Segundo, Cristo é 100% Deus e 100% homem. Igualmente há muitos versículos que confirmam esta assertiva. Também creio que o conhecedor mínimo da Bíblia não terá problemas em aceitá-la como verdadeira. E sempre tenho em mente que a humanidade serve à divindade, e, por isso, acredito que a humanidade de Cristo está a serviço da sua divindade, não o contrário. Ou seja, sempre que houver alguma dúvida, apelarei para a divindade do Senhor; exatamente por ela preceder e ser a origem da Sua humanidade. Como está escrito: “E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” [Gn 1.26]. Em outras palavras, o Cristo-homem existe pela vontade e poder de Deus, sendo Ele o Adão perfeito, o espírito vivificante, o segundo homem, o Senhor, que é do céu, diferente do primeiro Adão, a alma vivente, terrena [1Co 15.45-47]. O que me leva a meditar sobre a eternidade do Cristo-homem. Seria Ele eternamente homem assim como é eternamente Deus?
Apenas para não deixar a pergunta sem resposta, a qual poderei esmiuçar em outra postagem, acredito [sem me aprofundar no assunto], que o Cristo-homem é eterno, ainda que assumisse a natureza corpórea no tempo, pela encarnação, mas desde sempre foi o Verbo, Deus e homem, como os apóstolos dizem:
“O segundo homem, o Senhor, é do céu” [1Co 15.47];
"Como também diz, noutro lugar: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque" [Hb 5.6];
"O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós" [1Pe 1.20];
“No princípio era o Verbo, e o verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” [Jo 1.1].
Porque Cristo é, sempre!
Esta afirmação pode parecer contraditória em relação ao parágrafo anterior; acontece que o Cristo-homem veio a ser pleno na encarnação, quando assumiu a forma humana, visto Deus ser Espírito [Jo 4.24]. Porém, como essência, Cristo sempre foi Deus e homem, pois, caso contrário, haveria um dilema: se a natureza humana foi criada [como essência], Cristo não seria imutável, não seria eterno, logo, não seria Deus. E essa possibilidade é inimaginável e inadmissível à luz da Escritura.
“O segundo homem, o Senhor, é do céu” [1Co 15.47];
"Como também diz, noutro lugar: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque" [Hb 5.6];
"O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós" [1Pe 1.20];
“No princípio era o Verbo, e o verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” [Jo 1.1].
Porque Cristo é, sempre!
Esta afirmação pode parecer contraditória em relação ao parágrafo anterior; acontece que o Cristo-homem veio a ser pleno na encarnação, quando assumiu a forma humana, visto Deus ser Espírito [Jo 4.24]. Porém, como essência, Cristo sempre foi Deus e homem, pois, caso contrário, haveria um dilema: se a natureza humana foi criada [como essência], Cristo não seria imutável, não seria eterno, logo, não seria Deus. E essa possibilidade é inimaginável e inadmissível à luz da Escritura.
Terceiro, Cristo orou várias vezes ao Pai. Também está na Escritura. Sem entrar nos motivos pelos quais Ele orava: se para nos ensinar; conseqüência da comunhão que havia entre Pai e Filho; se para demonstrar humildade, e revelar a obra de Servo Sofredor que viera realizar; esse não é o objetivo do texto. Mas evidenciar que Cristo orava constantemente ao Pai, como fato inegável.
Quarto, como Deus, Ele sabia tudo o que iria acontecer. Portanto, não há possibilidade, nem a factibilidade, de se afirmar que Cristo pediu ao Pai o que não estivesse dentro do plano eterno; como algo realizável a se realizar, como algo exeqüível a se cumprir. Por qual motivo pediria o irreal e o não-existível?
O problema está em se acreditar que Cristo pediria e não seria atendido. Então, sabendo que não teria a sua solicitação considerada, por que oraria? Visto ser um com Pai [Jo 17.21], e estar em plena comunhão com Ele, tinha a resposta, antes de pedir. Como Criador do mundo, sem o qual “nada do que foi feito se fez” [Jo 1.3], e como sustentador “de todas as coisas pela palavra do seu poder” [Hb 1.3], parece-me improvável Cristo dirigir-se ao Pai pedindo o impossível[1].
Feitos os esclarecimentos iniciais, transcreverei os versículos que supostamente apontam a não concretização, parcial ou total, da oração do Senhor[2]:
1) "E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” [Lc 23.34].
2) "Pai, se queres, passa de mim este cálice; todavia não se faça a minha vontade, mas a tua" [Lc 22.42].
3) “Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” [Jo 17.15].
Primeiro, Cristo pediu pelo perdão dos que o crucificaram, mas seria apenas daqueles que efetivamente levaram-no à cruz, naquele tempo? Pilatos, os fariseus, os soldados romanos, os judeus? Ou estaria a pedir pelos eleitos? Na verdade a igreja foi quem o crucificou; por nós, Ele morreu [At 20.28; Ef. 5.25;1Ts 5.10, Ap 1.5], não por todos os homens, muito menos os que já estavam condenados antes da fundação do mundo.
Alguém poderá inquiri: “Mas essa realidade já não estava definida? Jesus não sabia que pela Sua morte todos os eleitos estariam perdoados? Por que então clamou ao Pai o perdão?”.
Na cruz, mesmo diante de todo o sofrimento e injustiça cometidas contra Ele, o Seu coração estava tão cheio de amor e misericórdia para com os Seus, os eleitos, que Ele deixou-os evidenciados. Não como um simples exemplo de obediência, humildade, amor, compaixão, mas por ser obediente, humilde, amoroso e misericordioso em verdade. Falou do que o Seu coração estava cheio; falou do que sentia; mesmo sendo eu, você, e os remidos em todos os tempos, culpados pela Sua crucificação. Ele demonstrou o amor com que nos amou, não somente expiando-nos, mas também clamando pelo nosso perdão.
Outra implicação quanto ao sentido da oração do Senhor é dada pelo verso: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus... E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim” [Jo 17.9,20]. Cristo jamais oraria genericamente por todos, indistintamente. Não oraria pelos eternamente condenados, nem por aqueles que não seriam perdoados. Como diz Isaías: “Mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores” [Is 53.12]. O sentido de todo o Evangelho é Cristo orando pelos eleitos, o Seu povo, aquele por quem morreu e também ressuscitou.
Segundo, se Cristo pediu ao Pai para afastá-lo do cálice, e não ser crucificado, estaria em contradição, pois, disse: “Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora; mas para isto vim a esta hora” [Jo 12.27]. Pertencendo-lhe a vida, e sabendo que a daria, e para isso veio ao mundo, por que pediria ao Pai para não dá-la? “Por isso o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la” [Jo 10.17-18]. Cristo a deu, e poderia muito bem não a dar se quisesse, nem precisaria orar para não dá-la, mas desde sempre quis dá-la, assim como o Pai também quis que o Filho a desse, por amor de nós [Jo 12.30].
Como homem, Cristo inquietou-se, angustiou-se, afligiu-se diante da proximidade da morte, mas isso não quer dizer que Ele tenha, em algum momento, desejado não cumprir a obra que por sua vontade estava prestes a executar. Novamente, entra aqui um dos atributos divinos, a imutabilidade; e Cristo, sendo Deus, tinha a Sua vontade inalterável, perene, eterna. É uma definição complexa, porém, se levarmos em consideração que as duas naturezas de Cristo não se contrapunham, de que não havia oposição entre elas, mas uma coordenação tal que “cada forma de Cristo, como Deus e ser humano, desempenha as suas atividades próprias em comunhão com a outra”[3], jamais poderemos afirmar a mutabilidade do Senhor, e de que, assim, Ele não desejou realizar aquilo a que veio fazer. Não há como aceitá-la nem mesmo como uma mera hipótese, impossível de ser cogitada pelo Filho.
Terceiro, a questão aqui é definir o que seja “mal”. A palavra pode implicar em muitas coisas, desde o pecado cometido pelos eleitos; ao sofrer-se o mal, seja pelos pecados de outros, seja pela influência maligna; até mesmo a alusão direta ao diabo. A ARA apresenta a seguinte tradução: “Não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno”. Os versículos anteriores e posteriores dizem que o Senhor está a falar que o “mal” é o “sistema” que odeia e odiará cada vez mais tudo o que se refere a Deus, inclusive aos eleitos; porque Ele nos deu a palavra do Pai, “e o mundo os odiou, porque não são do mundo assim como eu não sou do mundo... não são do mundo, assim como eu do mundo não sou” [v. 14,16].
A alegação é de que Cristo orou para que fossemos livres do mal, mas os crentes não o foram, visto passarem por perseguições, sofrimentos, tribulações, dores, morte, etc. Sendo assim, a oração do Senhor não teve “eficácia” junto ao Pai, que não nos livrou do mal. Dizer que a palavra significaria “livrar-nos da condenação”, é apenas a tentativa de se mudar o foco da questão, pois Cristo sabe perfeitamente que o eleito “não entrará em condenação, mas passou da morte para a vida” [Jo 5.24], “e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” [Jo 10.28]. Portanto, jamais será condenado.
Mas será esse sentido impróprio?
Em várias passagens, Cristo orou por algo que sabidamente aconteceria, inapelável. Por exemplo, ora para que sejamos um com o Pai [Jo 17.21]; para o Pai guardar aqueles que deste a Ele [Jo 17.11]; para que fossemos enviados ao mundo, assim como o Pai o enviou ao mundo [Jo 17.18]; para sermos santificados na verdade, sendo a palavra do Pai a verdade [Jo 17.17], etc.
Mas será esse sentido impróprio?
Em várias passagens, Cristo orou por algo que sabidamente aconteceria, inapelável. Por exemplo, ora para que sejamos um com o Pai [Jo 17.21]; para o Pai guardar aqueles que deste a Ele [Jo 17.11]; para que fossemos enviados ao mundo, assim como o Pai o enviou ao mundo [Jo 17.18]; para sermos santificados na verdade, sendo a palavra do Pai a verdade [Jo 17.17], etc.
O verso que talvez clarifique o significado de “mal” aqui é: “Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse” [Jo 17.12]. Evidencia-se o sentido de “preservação dos santos”, do Senhor nos resguardando da condenação, ao ponto em que nenhum dos que o Pai lhe deu se perderia. Cristo cumpriu e cumprirá a Sua missão de guardar e cuidar dos Seus, mesmo nos momentos em que a Igreja passe por aflição, dor, sofrimento. Estaremos sempre mantidos por Ele, para Ele, como está escrito: “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a nudez, ou o perigo, ou a espada?” [Rm 8.35].
Alguém poderá dizer: “Mas o significado de mal em Jo 17.15 não é esse. O termo refere-se ao Maligno, o diabo, visto a palavra grega usada ser ‘ho poneros’, a mesma utilizada em Mt 13.19” .
Tenha o “mal” o sentido de mau, maligno, dano, malfeitor, Satanás, etc, o certo é que Cristo nos preservará de sucumbir ao mal, de sermos destruídos por ele, enganados, feitos discípulos do mal, pois a nossa salvação foi planejada e executada de tal forma que somos preservados para ela, porque mediante a fé estamos guardados na virtude de Deus para a salvação, já prestes para se revelar no último tempo [1Pe 1.5]. Fomos reservados para o glorioso dia de Cristo, cuja missão foi a de nos salvar, mas também a de nos guardar completa e finalmente da condenação.
Portanto, a conclusão é: todas as orações de Cristo foram atendidas, confirmadas na palavra do próprio Senhor: "Pai, graças te dou, por me haveres ouvido. Eu bem sei que sempre me ouves, mas eu disse isto por causa da multidão que está em redor, para que creiam que tu me enviaste" [Jo 11.41-42]. Aqui o significado de ouvir não é apenas escutar, mas de ser atendido, ter a oração respondida, positivamente. Cristo estava à porta do sepulcro de Lázaro, o qual ressuscitaria como cumprimento da oração de Jesus. “E tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro sai para fora” [Jo 11.43].
E o defunto saiu.
Notas: [1] O fato do Senhor ser o Deus do impossível, e para Ele tudo ser possível, não quer dizer a realização daquilo que não estiver decretado eternamente. Isso implicaria na não-imutabilidade divina, na não-perfeição, na não-santidade, sugerindo que Deus é passível de engano, visto ser necessário corrigir seus planos e adequá-los aos acontecimentos no decorrer da história. E esse, como sempre digo, não é Deus, mas um "deusinho chulé", feito à imagem e semelhança do homem imperfeito e volúvel.
[2] Desenvolvi o texto a partir da preciosa pergunta do irmão Natan de Oliveira, no post anterior: “Como você explica a oração de Jesus ‘Senhor perdoa-os porque não sabem o que fazem...’?”. E por nunca ter considerado a questão, decidi refleti-la aqui detalhadamente, mesmo eu e o Natan termos iniciado o debate na seção comentários, já citada.
[3] Teologia Sistemática, de Franklin Ferreira e Alan Myatt, Editora Vida Nova, página 489, citando Mark Noll.
Fonte: KÁLAMOS
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