Por John Piper
Olhemos para Mateus 15.8: podemos "adorar" a Deus em vão. "Este povo honra me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim." Um ato de adoração é vão e fútil quando não vem do coração. Isso estava implícito nas palavras de Jesus à adúltera samaritana: " Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores" (Jo 4.23). Mas o que é essa experiência do espírito? O que acontece no coração quando a adoração não é em vão?
É mais do que um mero ato de força de vontade. Todos os atos exteriores de adoração são atos da vontade. Isso, porém, não os torna autênticos. A vontade pode estar presente (por todos os tipos de razão) sem que o coração esteja genuinamente envolvido (ou, como diz Jesus, "longe"). A atuação do coração na adoração é o despertar de sentimentos, emoções e afetos do coração. Lá onde os sentimentos por Deus estão mortos, a adoração está morta.
Os afetos que tornam autêntica a adoração Agora sejamos específicos. Quais são esses sentimentos ou afetos que tornam autênticos os atos exteriores de adoração? Para chegar à resposta, recorreremos aos salmos e aos hinos inspirados do Antigo Testamento. Um conjunto de afetos diferentes entrelaçados pode tomar conta do coração a qualquer momento. Portanto, a extensão e seqüência da lista abaixo não têm a intenção de limitar as possibilidades de prazer no coração de alguém.
Talvez a primeira resposta do coração ao ver a santidade majestosa de Deus seja o silêncio perplexo. "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus" (Sl 46.10). "O Senhor está em seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra" (Hc 2.20).
Do silêncio brota um sentimento de temor, reverência e maravilha diante da imensa grandeza de Deus. "Tema ao Senhor toda a terra, temam-no todos os habitantes do mundo" (Sl 33.8). E por sermos todos pecadores, em nossa reverência há um medo santo do poder justo de Deus. "Ao Senhor dos Exércitos, a ele santificai; seja ele o vosso temor, seja ele o vosso espanto" (Is 8.13).
"Entrarei na tua casa e me prostrarei diante do teu santo templo, no teu temor" (Sl 5.7). Esse temor, porém, não é um terror paralisante, cheio de ressentimento contra a autoridade absoluta de Deus. Ele encontra alívio na contrição, no arrependimento e na tristeza por nossa distância de Deus. "Sacrifícios agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e contrito, não o desprezarás, ó Deus" (Sl 51.17). "Assim diz o Alto, o Sublime, que habita a eternidade, o qual tem o nome de Santo: Habito no alto e santo lugar, mas habito também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos e vivificar o coração dos contritos" (Is 57.15).
Misturado ao sentimento genuíno de contrição e tristeza pelo pecado aparece um anseio por Deus. "Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo" (Sl 42.1, 2). "Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra. Ainda que a minha carne e o meu coração desfaleçam, Deus é a fortaleza do meu coração e a minha herança para sempre" (Sl 73. 25,26). "Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água" (Sl 63.1).
Deus não fica indiferente ao anseio contrito da alma. Ele vem, retira a carga do pecado e enche nosso coração de alegria e gratidão. "Converteste-o meu pranto em folguedos; tiraste o meu pano de saco e me cingiste de alegria, para que o meu espírito te cante louvores e não se cale. Senhor, Deus meu, graças te darei para sempre" (Sl 30.11, 12).
Nossa alegria, porém, não é resultado apenas da gratidão gerada pelo olhar em retrospectiva. Ela também vem do olhar esperançoso prospectivo: "Por que estás abatida, ó minha alma? Por que te perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu" (Sl 42.5). "Aguardo o Senhor, a minha alma o aguarda; eu espero na sua palavra" (Sl 130.5).
No fim das contas, o coração não anseia por qualquer das dádivas de Deus, mas pelo próprio Deus. Vê-lo, conhecê-lo e estar em sua presença e o maior banquete da alma. Depois disso ela não quer mais nada. As palavras passam a ser insuficientes. Nós falamos de prazer, alegria, delícia, mas esses são apenas frágeis indicadores da experiência indizível.
"Uma coisa peço ao Senhor, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo" (Sl 27.4). "Na tua presença há plenitude de alegria, na tua destra, delícias perpetuamente" (Sl 16.11). "Agrada-te do Senhor" (Sl 37.4).
Esses são alguns dos afetos do coração que podem evitar que a adoração seja "em vão". Adorar é uma maneira alegre de refletir de volta para Deus o brilho do seu valor. Não é um mero ato de vontade, pelo qual executamos ações externas. Sem a participação do coração, não adoramos de verdade. O envolvimento do coração na adoração é o despertamento de sentimentos, emoções e afetos do coração.
Onde os sentimentos por Deus estão mortos, a adoração está morta. A adoração genuína precisa incluir sentimentos interiores que refletem o valor da glória de Deus. Se não fosse assim, a palavra hipócrita não teria sentido. Mas a hipocrisia existe — ter emoções exteriores (como cantar, orar, dar, recitar) que significam afetos do coração que não existem. "Este povo me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim."
Fonte: O Cristão Hedonista
Nenhum comentário:
Postar um comentário