Aproveitando que virou série, eu gostaria de falar justamente sobre a eternidade do universo. Mencionei na última postagem que admito a possibilidade de se pensar um universo eterno, mas não aceito a possibilidade como pressuposto. Sobre o universo, entretanto, restam-me certas dúvidas que me esquentam a cabeça. Farei os comentários a seguir apenas de memória, pelo que já antecipo desculpas por qualquer imprecisão. Também, nem de longe tenciono ser exaustivo. Apenas estou a registrar certas inquietações. Se o assunto lhe parecer fácil demais e minhas dúvidas infantis ou se eu for aqui muito simplista, por favor, sou todo ouvidos!
Ronald Nash, falando sobre Aquino, define “universo” como um conjunto de seres contingentes. O universo é formado por seres que podem não ser e, assim, ele mesmo pode não ser (pelo menos como ente real, e não de razão). Bem, a princípio concordo com uma definição de universo que o considere contingente. Faz parte de meu próprio pressuposto. Mas aí é que está: é pressuposto. Não digo isso porque acredite haver qualquer prova possível sobre o assunto, evitando pressupostos. Repito que de sua fé vivem todos. Não é este o ponto. O ponto é que definições aqui fazem toda a diferença!
Assim, podemos supor que a matéria seja eterna mesmo que os seres dela constituídos não o sejam. Falando com um amigo sobre isso, sendo ele físico, perguntei sobre as teorias quanto ao universo. Diz-se que ele teve origem no Big Bang. Mas depois disso, que acontece? Expande indefinidamente? Expande até um fim? Expande e comprime como uma sanfona? Meu amigo me diz que o comportamento do universo depende de uma constante cujo cálculo não está ajustado e que há uma discussão infinda em torno do assunto. Além disso, mesmo que falemos do início do universo, é bem possível pensar na matéria como eterna desde antes deste início. Mas, enfim, como era claro em nossa conversa desde seu princípio: não é na ciência que encontraremos resposta para essa questão.
Voltando a Nash e a Aquino, aquele afirma que as cinco vias deste não podem passar pela negação de séries infinitas. Eis que esta é uma outra questão de dar nó no cérebro: séries infinitas. Nash parece concordar com Aquino que não se pode provar a impossibilidade de séries infinitas. Se este é o caso, quanto aos eventos no universo, a causa primeira passa a ser desnecessária, não havendo prova de Deus e o universo bem poderia ser eterno. É daí que Nash argumenta em torno do conjunto contingente, ontologicamente e não em função da sucessão de eventos no tempo.
Diferentemente, William Lane Craig argumenta justamente que séries infinitas de eventos não podem ser reais no tempo. Devemos lembrar que não há apenas a questão das séries infinitas aqui, mas fala-se de eventos e tempo. A coisa é bem mais complicada do que simplesmente pensar no conjunto vazio de seres contingentes ou em séries de eventos infinita (ambos podem ser entes de razão e não reais). No entanto, mesmo sem entrar nos detalhes, se considerarmos que certas séries nào podem ser realmente infinitas, inverte-se Nash e a causa primeira de Aquino já não é mais ontológica. Neste caso, os eventos passados não vão ao infinito e há a necessidade de uma causa externa que dê início ao universo. Novamente, é aqui que neoateus revelam sua deficiência lógica, afirmando o universo como contingente e necessário ao mesmo tempo.
Vale acrescentar que Nash está a argumentar em função de Aquino para explicá-lo, enquanto Craig tem um argumento modificado a partir de Aquino. Temos, portanto, objetivos diferentes aqui. Estas duas menções quanto a séries infinitas, no entanto, bastam para mostrar que a coisa não é nada simples. Mesmo assim, há uma pequena conclusão a se retirar daqui. Apesar da dificuldade do assunto, é fácil ver que se séries infinitas de eventos no tempo não podem ser (reais), então precisamos de um ser necessário à parte do universo. Se podem, então o ser necessário pode ser externo ou o próprio universo. De fato, tal conclusão é: de sua fé vivem todos!
SOLI DEO GLORIA!
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