segunda-feira, 24 de maio de 2010

Da confiança dos ateus 2


Por Roberto Vargas Jr

Sinceramente eu não esperava que esse post virasse uma série. Bem, ainda não espero, embora esteja a postar uma “parte 2”. O assunto não rendeu no meu blog, mas, como sempre, deu o que falar no O Tempora! O Mores!. Solano Portela também escreveu um post sobre a choradeira atéia a partir de Daniel Dennett: Os Ateus Coitadinhos! Invertendo quem persegue a quem.. Alguns comentários revelam o lugar comum de quem se diz ateu sem ter parado para pensar nas consequências de sua fé no não-Deus.

Não tenho intenção em acusar mais uma vez a presunção de ateísmo. Quero aqui chamar a atenção para um expediente que parece ser muito convincente aos incautos, mas que carece de qualquer fundamento. É o fortíssimo argumento do “todo mundo sabe” (argumentum ad populum).

Comecemos com um cara esquisito que resolveu chamar os cristãos de “bananas” porque seriam perseguidos pelos ateus, que são minoria, segundo ele. Deixemos a ofensa (que, se não prova a perseguição de ateus aos cristãos, confirma o fato de que cristãos não perseguem ateus) de lado, pois o que me salta aos olhos é outra coisa. Pois para confirmar sua afirmação, o tal posta o seguinte em seu blog:

“Acabo de ler um artigo onde o autor diz que não são os ateus os perseguidos, mas os religiosos.
Contudo, de acordo com mapa religioso do ano de 2007 a população mundial está dividida da seguinte maneira:
Cristãos 33.32%
Mulçumanos 21.01%
Hindus 13.26%
Budistas 5.84%
Sikhs 0.35%
Judeos 0.23%
Outras religiões 11.90%
Não religiosos 11.77%
Ateus 2.32%
Mesmo sendo maioria esmagadora, os Coitadinhos dos religiosos se acham perseguidos pelos 2,32% de ateus que, segundo eles, despejam o flagelo e perdição sobre a humanidade.
Hum!
No Brasil, por exemplo, como uma população de 85% de cristãos pode se dizer perseguida por meros 2% de ateus? Das duas uma: ou esses religiosos são uns bananas, ou sua argumentação ideológica é tão fraca que qualquer idéia contraria os faz tremer.”
De Ricardo Cluk

De onde este camarada tirou estes dados? Vá lá, concedamos que ele tenha alguma fonte e a apresente. O que faria uma pessoa crer que estes dados sejam verossímeis? Bem, concedamos, num primeiro momento, que sim. O nosso gênio parece não perceber que os cristãos, sendo 33,32% da população mundial, embora sejam de fato o maior grupo, possuirão 66,68% da população a lhes fazer oposição. Opa! Maior grupo? Não, o maior grupo é o de não-cristãos. Os ateus ainda podem ser apenas 2,32%, mas contam com um belo apoio dos que assim não se nomeiam.

E, a propósito, os ateus contam com o apoio de muitos que também se nomeiam cristãos. De fato, isto se faz sentir quando assumimos com verdade que há 85% de cristãos na população brasileira. Mas claro, o problema dos “cristãos nominais” não passa por sua cabeça. E nem poderia! De todo modo, para completar, repito o que disse no Tempora:

“De onde este povo tira certas informações como essa dos 3%? Sabe, talvez a proporção real dos ateus professos seja bem menor que essa, pois defender o ateísmo teoricamente, filosoficamente, é muito difícil e uma pessoa realmente inteligente sabe disso. Não é sem propósito que entre estes, muitos prefiram o rótulo do agnosticismo (um ateísmo que foge ao ônus da prova, ver: Da fé de ateus e teístas (e da mentira de ser agnóstico)).
Mas não importa, fato é que, se ateus teóricos são raros, ateus práticos são a regra. Se é para chutar uma percentagem, é muito mais verossímil que 3% seja a de crentes! Não é estreita a porta?
Suposições e especulações à parte, isso tudo é mesmo muito chato!”

Voltando à questão das fontes, por que será que as pessoas não as citam? Se no caso acima ainda podemos crer haver uma, embora não necessariamente a aceitemos como fidedigna, não importa qual seja, pior é o caso abaixo:

“É triste ver tanta gente ainda tão apegada a uma idéia como o Criacionismo. Pior ainda é ver um texto calunioso e parcial como este.
Honestamente, não entendo por que ainda existem Criacionistas, pelo menos da variedade que se apresenta como "concorrente" do Evolucionismo, e que inclui o DI. É muita negação de fatos observados consistentemente ao longo de mais de um século.
Não é sem motivo que virou anedota falar da "Queda Inteligente". A esta altura, "duvidar" do Evolucionismo é quase tão sensato quanto "duvidar" da gravidade.
Só posso imaginar que sobra propaganda e faltam coragem e informação em certos meios. É a única explicação para que se tente apresentar o Criacionismo como "válido" depois de décadas em que isso já foi desprovado.”
De Luis Olavo Dantas

O que se usa como fundamento aqui são os “fatos observados consistentemente ao longo de mais de um século” que tornam o evolucionismo uma realidade científica inquestionável. Que fatos? O que foi observado? Eu não sou biólogo nem um estudioso curioso do evolucionismo e admito prontamente que não tenho elementos técnicos para julgar certas teorias em si. Porém, é necessário muito mais que a afirmação de que há fatos “consistentemente observados”. Pois tal alegação, do ponto de vista da ciência, há de ambos os lados[1]. Aliás, que informações faltam? Será que nosso acusador não é culpado do crime que nos acusa?

Mas por que mencionei no início o ad populum? Porque o argumento acima é simplesmente: “todo mundo sabe que o evolucionismo é cientificamente provado”, “todo mundo sabe que há fatos a favor da evolução e nenhum a favor da criação”, “todo mundo sabe, e até nosso livros didáticos ensinam, que evolução é ciência e criação é religião”, “todo mundo sabe que só se pode crer em fatos positivos e Deus é uma ilusão”. Todo mundo sabe? Não, em realidade nada disso pode ser um saber universal. Porém, mesmo que todos “soubessem”, ou que esse “todos” seja a voz da maioria, nada disso é prova do que se propõe provar[2]. A confiança dos ateus se mostra fundamentada em base tão sólida quanto gelatina!

E, enfim, ainda que eu não tenha base técnica, algumas afirmações posso fazer mesmo quanto à ciência. Fico com uma delas para encerrar:

Evolução sem evidências de macroevolução é religião. Limites de variação e adaptação com 100% de comprovação é ciência da criação! De Adauto Lourenço, via twitter.

SOLI DEO GLORIA!

…………………………………………………….
[1] Os “brilhantes” dirão que não estou a propor nada que prove a criação contra a evolução. Muito bem: que brilhante observação! Não estou mesmo, pois não é este meu ponto aqui: não estou a defender o criacionismo. Se eu vier a propor a criação cientificamente, então será conveniente me exigir provas científicas. Mas por agora, eu é que estou exigindo provas científicas de quem afirma ser a evolução um fato científico. E isso para não levar a coisa de todo para a filosofia!
[2] É verdade que se pode dizer que não se está a provar nada, mas apenas “indicando o rumo das coisas”. Não importa, o tom de confiança e arrogância intelectual para argumentos sem base é o mesmo.

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