quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

"O terremoto da pobreza"


Por João Pereira Coutinho

A tragédia do Haiti não é só produto da natureza; é resultado da incúria humana e da corrupção

LISBOA TREMEU em 1755. O Grande Terremoto horrorizou a Europa culta e pôs Voltaire a pensar. Onde estaria Deus? Sim, onde estaria Deus naquele Dia de Todos os Santos para permitir a matança indiscriminada de mulheres, velhos, crianças?

No século 18, Lisboa deixou de ser, entre os homens letrados do Iluminismo, uma mera cidade. Passou a ser, como Auschwitz no século 20, o símbolo do mal. Do mal radical, inominável, inexplicável.

Passaram 250 anos. Lisboa deixou de tremer. Ou quase: umas semanas atrás, nas primeiras horas da madrugada, senti a casa a dançar um "twist". Durou segundos. Alguns livros no chão, um copo partido. Por momentos, ainda pensei que talvez fossem os meus vizinhos em reconciliação amorosa.

Não eram os vizinhos. Os alarmes dos carros estacionados na rua desmentiam com estridência qualquer cenário romântico. Era terremoto, confirmaram as notícias. Nível 6 na escala Richter. Nenhum morto. Nenhum ferido. Nenhuma interrogação sobre Deus.

Exatamente o contrário do sucedido no Haiti. Incontáveis mortos. Incontáveis feridos. E, nos jornais da Europa, textos pseudofilosóficos sobre o papel do divino. O tom era comum. A tese também: a natureza é insondável.

Difícil discordar. Mas a tragédia do Haiti não é apenas produto de uma natureza insondável. É o resultado da incúria humana; da corrupção; da miséria material; e da tirania.

Eis a tese apresentada em ensaio fundamental para entender a contabilidade macabra dos desastres naturais. Foi publicado em 2005 por Matthew Kahn em revista do prestigiado MIT. Intitula-se "The Death Roll from Natural Disasters: the Role of Income, Geography, and Institutions" (a lista da morte por desastres naturais: o papel da renda, da geografia e das instituições).

O objetivo de Kahn não é metafísico; é bem prático. E foi motivado por crença comum, que vi repetida nos últimos dias: por que motivo os desastres naturais só atingem nações pobres?

Kahn começa por provar que uma crença não passa disso mesmo. Entre 1980 e 2002 (o arco temporal do estudo), a Índia teve 14 grandes terremotos. Morreram 32.117 pessoas. No mesmo período, os Estados Unidos tiveram 18 grandes terremotos. Morreram 143 pessoas. Iguais conclusões são extensíveis aos 4.300 desastres naturais do período em análise e às suas 815.077 vítimas. Observando e comparando 73 países (pobres, médios e ricos), a conclusão de Kahn é arrepiante: os grandes desastres naturais distribuem-se equitativamente pelo globo.

O que não se distribui equitativamente pelo globo é o número de mortos: países com um PIB per capita de US$ 2.000 apresentam uma média de 944 mortos por ano. Países com um PIB per capita de US$ 14 mil, uma média de 180 mortes. Moral da história? Se uma nação de 100 milhões de pessoas consegue subir o seu PIB de US$ 2.000 para US$ 14 mil, isso resulta numa diminuição de 764 vítimas por ano.

Mas a análise não se fica pela riqueza. Não se fica apenas pelos países que têm maior capacidade para planificar com rigor, construir com segurança e socorrer com rapidez. A juntar à riqueza, a política tem uma palavra a dizer.

A política, vírgula: a democracia e a boa governação. A disparidade dos mortos não é só imensa entre países ricos e pobres; também o é entre países democráticos e não democráticos. Em países democráticos, onde os governantes são julgados pelos seus constituintes e vigiados por uma imprensa livre, a forma como se planifica, constrói ou socorre é o verdadeiro teste de sobrevivência para esses governantes. O número de mortos em países democráticos é, mostra Kahn, incomparavelmente inferior aos mortos anônimos dos regimes ditatoriais/autoritários.

No Haiti, um terremoto com 7,1 graus na escala Richter trouxe devastação inimaginável e dezenas de milhares de mortos. Em 1989, um terremoto com 7,1 graus na escala Richter provocou 67 vítimas nos EUA. Nenhum espanto: os EUA não têm um PIB per capita de US$ 1.400 e não foram governados por "Papa Docs", "Baby Docs" e outros torcionários para quem o destino do seu povo era indiferente desde que a rapina pudesse continuar.

Em 1755, quando o terremoto de Lisboa fez tremer a Europa, ficaram célebres as palavras do marquês de Pombal: é hora de enterrar os mortos e cuidar dos vivos. No século 18, era impossível dizer melhor. No século 21, impossível é dizer pior. Depois de enterrar os mortos e cuidar dos vivos, só existe uma forma de mitigar a violência da natureza: enriquecendo e democratizando.

Fonte: MPost

MINHA OPINIÃO

João Pereira Coutinho é jornalista da Folha de São Paulo e analisou a situação no Haiti de uma forma muito lógica. Pois como ele mesmo mostrou, em países onde o PIB per capta é mais alta a possibilidade de terem menos mortos como em tragédias que ocorreu no Haiti é bem menor, pois o país tem uma estrutura, em todas as áreas, muito melhor que a dos países pobres.


O que ocorreu no Haiti foi uma catástrofe natural, mas também algo que procedeu da parte de Deus. Por que estou dizendo isso? O próprio Senhor Jesus falou que nos últimos dias da igreja na terra iria haver terremotos, guerras, rumores de guerras, fome... (Mt 24). Tudo isso nós temos presenciado no decorrer dos anos e a cada ano a coisa se torna pior.


Não creio que Deus tenha mandado esse terremoto como castigo ao povo haitiano por causa da sua religião, se fosse assim os países muçulmanos não ficariam de pé, o Japão que é basicamente budista não existiria hoje. A Palavra de Deus nos fala que o Senhor nos amou estando nós mortos em nossos delitos e pecados (Ef 2.1-10). Então dizer que Deus manda o seu castigo através de terremotos, tsunamis e outras causas naturais para corrigir as pessoas ou castigá-las seria muita ingenuidade de minha parte, mas também dizer que Deus não sabia que isso iria acontecer e que até Ele ficou surpreso com o ocorrido seria apoiar o Teísmo Aberto.


O que ocorreu no Haiti irá se repetir em outros lugares. Outras tragédias ocorrerão. Não podemos esperar dias melhores a medida que os anos vão passando, pois se assim pensarmos estamos desprezando a Palavra de Deus e o que Jesus falou. Mas eu vejo que através de cada terremoto, de cada tsunami Deus permite que a Sua Palavra seja cumprida e que muitas pessoas sejam alcançadas através dela. Creio que através dessa desgraça que ocorreu no Haiti muitas pessoas que se quer tinham noção de que esse país existia ou onde ficava se comoveram com o ocorrido. Muitas igrejas que estavam acomodadas em relação a obra missionária enviarão missionários para aquele país, ou quem sabe se unirão a alguma agência missionária para evangelizar aquele país. Deus, muitas vezes, permite algo como o ocorrido no Haiti para despertar a sua igreja do verdadeiro papel que ela representa aqui. Não de ajuntar riquezas para satisfazer os seus interesses pessoais, mas de avangelizar, de ganhar almas para o Reino, de investir os seus recursos para povoar os Céus.


Espero que não seja necessário um terremoto na Igreja para que ela acorde para a verdadeira razão de estarmos aqui. Espero que o que ocorreu e o que irá ocorrer ainda seja muito diferente do que ocorreu no Haiti, mesmo que ocorram muitas mortes, mas que esses mortos estejam com o nome escrito no Livro da Vida, pois a morte vem para tosos de uma forma ou de outra, mas que essas pessoas tenham pelo menos a chance de terem feito a opção pela Vida.


Que Deus salve o Haiti e nos use para alcançá-lo.


Pr. Silas Figueira

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