Governo
Paulo instruiu os cristãos em Roma a “sujeitar-se às autoridades governamentais” (Rm 13:1). Sem dúvida, Deus tem um papel positivo para o governo. Ele deve encorajar o bom comportamento e restringir o mal (v.3). Um mau governo é melhor do que nenhum governo. Se não houver governo, todos farão o que é bom aos seus próprios olhos. Haverá anarquia e nenhuma comunidade. O benefício do governo para a comunidade humana é reconhecido.
O que é verdade a respeito do governo humano em geral é “válido na igreja” (Stanley J. Grenz, 714). Durante a era apostólica, o povo de Deus reconheceu a necessidade de uma estrutura organizacional para a comunidade local de crentes para facilitar o ministério dado por Cristo. Sabemos que os doze apóstolos chamaram a congregação de discípulos para eleger diáconos (At 6:2-6). Paulo fornece as qualificações dos presbíteros e diáconos (Tt 1:6-9; 1 Tm 3:1-13; 5:17) e instruiu Tito a nomear presbíteros (Tt 1:5). Deus concedeu à igreja “apóstolos, profetas, pastores e mestres” e aos crentes Ele deu dons “para a obra do ministério” (Ef 4:11ss). Os ofícios na igreja se desenvolveram e diferentes tradições eclesiais variaram as suas aplicações para as suas organizações específicas.
Através de toda a história da igreja, os crentes reconheceram que cada igreja local é uma miniatura da igreja de Jesus Cristo. Havia uma necessidade de estabelecer linhas de conexão entre as várias comunidades da fé. Tal necessidade requeria “algum tipo de estrutura organizacional para as igrejas em seus contextos associativos” (Stanley J. Grenz, 715). Três destes modelos são identificáveis na história da igreja: o modelo hierárquico ou episcopal (Catolicismo Romano e denominações Anglicanas), o modelo representativo ou presbiteriano (tradição reformada) e o modelo independente ou congregacional (batistas). Além deles, diversos modelos híbridos, que misturam ele 3, surgiram dentro do movimento pentecostal.
Disciplina
Os diversos tipos de governo eclesiásticos podem organizar melhor e devem trazer ordem e disciplina na igreja local. Santidade e pureza são componentes importantes para um testemunho efetivo da comunidade da fé dentro de si mesma e fora dela. O próprio conceito de Corpo de Cristo fala da qualidade dos relacionamentos e da responsabilidade mútua, bem como da liderança e das funções. A metáfora da Igreja-Noiva fala do amor e da pureza, da preparação e da antecipação das festividades e da consumação do relacionamento. Nesta comparação, claramente, não apenas organização como também a disciplina são necessários. A Primeira Confissão Escocesa (Capítulo XVIII) faz da disciplina a terceira marca da igreja.
A Bíblia declara “santo, santo, santo é o Senhor” (Is 6:3). Deus se refere a Israel como Seu povo santo (Dt 7:6). Ele ordena que Seu povo seja santo assim como Ele é santo (1 Pe 1:16). Mais que outras marcas da igreja esta é uma necessidade ética no mundo pós-moderno. A essência da salvação não apenas levará à mudança de mente ou de lealdade, mas de conduta e comunidade. Tal conduta deve ser medida através de padrões divinos. Esta santidade é refletida na Lei que foi dada por Deus a Moisés no Monte Sinai (Ex 20:7) e aprofundada e aplicada especialmente em textos como o sermão da Montanha em Mateus 5-7 ou nos escritos de Paulo em Romanos 12.
Santidade e ordem são essenciais para o testemunho da igreja diante do mundo. Quando olhamos ao redor, não percebemos a diferença entre cristãos e não-cristãos com relação ao dia-a-dia. A igreja deveria ser a vitrine de Deus acerca do que há de vir, do que parcialmente já está aqui e do que é parcialmente vislumbrado. A igreja demonstra a realidade da nova humanidade que invadiu a comunidade. Esta tarefa de trazer ordem pode ser derivada do caráter de Deus como um Deus de ordem (1 Co 14:33).
A disciplina é indispensável para a santidade e bem aplicada pode transformar vidas e evitar divisões eclesiais. Ela tem uma função purificadora (Pv 22:15). É um corretivo do desvio doutrinário. Também é restauradora. Paulo escreveu sobre isso que“se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais, deverão restaurá-lo com mansidão” (Gl 6:1). Ao lidar com o Seu povo em seus tropeções, Deus disse: “vou tratá-lo com carinho” (Os 2:14). Esta iniciativa divina de buscar aqueles que caíram é ilustrada pela parábola da ovelha perdida. Nela o pastor deixa as noventa e nove e procura aquela que esta perdida (Lc 15.3-7). Melhor ainda quando vemos o filho pródigo sendo recebido pelo pai amoroso sem reservas no coração, sem condições de mudanças, sem imposições e discursos morais, simplesmente abraçando-o, dando-lhe o anel familiar, preparando uma festa de recepção.
A disciplina também deve ser exercida de maneira organizada. Mateus capítulo 18, indica três passos para lidar com o pecado (cobrindo todo e qualquer tipo de comportamento inapropriado): primeiro, deve haver uma confrontação particular; segundo, duas ou três testemunhas são trazidas junto (Dt 19:15), e; terceiro, o assunto deve ser trazido diante da igreja ou congregação (Mt 18:15-20 e Gl 6:2).
Apesar do objetivo primário ser restaurador, a disciplina pode resultar em afastamento. A pessoa não-arrependida deve ser tratada como pagã ou publicana (Mt 18:17). Esta não é apenas uma separação, mas uma “redefinição radical do relacionamento”. Paulo utiliza uma variedade de frases: afastem-se dos que causam divisões (Rm 16:17), não se associem (1 Co 5:11), não comam com tal pessoa (1 Co 5:11), expulsem este perverso do meio de vocês (1 Co 5:13). Estas são palavras ásperas. Mas as práticas disciplinadoras da igreja pretendiam ser medidas remediadoras ao invés de punitivas, porque elas eram infundidas, desde o começo até o fim, de um único desejo pelo bem dos indivíduos que cometeram as ofensas.
Que a igreja censura os que membros cometem ofensas do que dizer que a igreja pune estas pessoas. E estas censuras nunca são físicas, mas sempre espirituais. A igreja nunca deve impor multas aos seus membros equivocados, condená-los à prisão ou boicotá-los em seus negócios. Tudo o que ela deve fazer é admoestá-los ou repreendê-los, em certas circunstâncias privá-los de alguns privilégios da membresia, como por exemplo, o uso dos sacramentos, e em última instância excluí-los da membresia (Kuiper, 308-309).
Mas será que a igreja tem autoridade para impor disciplina sobre seus membros? Os ensinos de Paulo sobre o assunto falam amplamente da disciplina devendo ser administrada por crentes individualmente (Gl 6:1-5; 2 Co 5:18-20), pela comunidade (Rm 16:17; 2 Ts 3:6-15), por delegados apostólicos (1 Tm 5:19-22; 2 Tm 2:25-26) e, em casos sérios, pelo próprio apóstolo (e.g. 1 Co 13:1-2; 1 Tm 1:19-20). Com respeito aos ensinos de Jesus em Mateus 18, parece que a certeza dada por Jesus aos Seus discípulos de que “tudo o que vocês ligarem... será ligado... tudo o que desligarem... será desligado” carrega a autoridade da disciplina. A Igreja “tem a autoridade para pronunciar julgamento em nome de Deus, e a igreja tem a autoridade de liberar pessoas deste julgamento e restaurá-las à comunhão” (Gardner, p. 282). A restauração à igreja local é atribuída ao genuíno arrependimento. Em tal situação, deve haver perdão e esquecimento (Jr 31:34) de forma que o crente restaurado sinta-se parte novamente da comunidade, amadureça e produza frutos. Sem dúvida, uma saudável reflexão e aplicação sábia da disciplina bíblica resultará no amadurecimento e maior santificação da igreja.
Fonte: Sepal
Olá Pr. Silas!
ResponderExcluirParabéns pelo blog, as matérias estão excelentes, já estou seguindo.
Quero aproveitar para divulgar o meu blog http://wwwadoradoresemverdade.blogspot.com/ quando puder faça uma visita.
Um abraço fik na paz.