“Não queremos que este reine sobre nós” Lc 19:14
A doutrina da Providência afirma que Deus reina soberanamente sobre toda Sua criação. Isto significa que o Senhor sustenta e preserva a natureza, dirige a história e domina sobre os seres morais de forma que absolutamente nada acontece à parte de Sua vontade. Assim, a providência é a realização na história do que Deus decretou na eternidade, e este decreto é todo abrangente, incluindo tudo o que acontece, até o destino eterno dos seres morais (homens e anjos).
É necessário dizer que esta doutrina, ainda que menos conhecida que a da Predestinação, é alvo da mesma resistência por parte dos não-calvinistas que a conhecem. O motivo declarado é que ela faria Deus autor do pecado e culpado de todo mal existente no universo. Mas as raízes da rejeição à doutrina da providência são mais profundas do que é piedosamente externado.
Jesus contou uma parábola em que “certo homem nobre partiu para uma terra remota, a fim de tomar para si um reino e voltar depois” (Lc 19:12). Incumbindo servos de seus negócios, até seu retorno, partiu. Tendo partido, as pessoas daquele lugar enviaram atrás dele embaixadores, com a clara mensagem de que seu reino, vale dizer, o seu domínio sobre eles não era bem vindo. Tendo tomado posse do reino, voltou e pediu contas aos encarregados de seus negócios e em seguida ordenou “quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os diante de mim” (Lc 19:27).
A vontade do homem é contrária à ideia da providência. Nenhum motivo, além da própria vontade, é apresentado para recusar o reinado divino. Não se coloca em dúvida as bases de Seu reino, a justiça do Soberano ou as vantagens de um tal reinado. Dizem simplesmente “não queremos!”. Em última análise, é a vontade caída e escrava do pecado que se revolta contra o senhorio de Deus e de Seu Cristo.
Mas, por que a vontade humana é contrária ao domínio de Deus? Porque este domínio é exercido “sobre nós”. Desde o Éden o homem acalenta a ilusão de ser como Deus, após dar ouvidos à mentira de Satanás “sereis como Deus” (Gn 3:5). No âmago da rebelião está a egolatria, os homens não querem ceder o lugar no trono de suas vidas ao Regente do universo. Acalentam o diabólico anseio de autonomia pensando “eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono” (Is 14:13). Que o Senhor reine nos céus é algo que o homem tolera, que reine sobre as forças da natureza é suportável, mas reinar sobre eles próprios? Não, isto é inaceitável! Que Deus controla os pensamentos e os corações, inclinando-os para fazer através deles a Sua vontade é algo que o orgulho humano não consegue engolir, embora seja isso mesmo que a Bíblia ensine. Lutam com unhas e dentes para manter a aparente autonomia que desfrutam.
Mas a verdade é que queiram ou não os homens, Deus reina. E reina absolutamente, não abrindo mão das prerrogativas de Sua soberania em favor de ninguém, pois em todo o Seu domínio Ele “faz todas as coisas, segundo o conselho da Sua vontade” (Ef 1:11). Embora pareça que sua vontade está sendo contrariada, a própria rebelião dos que rejeitam seu domínio serve aos Seus propósitos eternos. E, ao final, todos os que não se submeteram voluntariamente ao Seu domínio sofrerão o dano da segunda morte.
Soli Deo Gloria
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