Por Maurício Zágari
Amor,
alegria, paz, paciência, amabilidade, bondade, fidelidade, mansidão e
domínio próprio. Pronto. Eis aí a essência de ser cristão. É o fruto do
Espirito, que Paulo descreve em Gálatas 5.22,23a. Uma utopia na vida
prática do crente em Jesus? Ou um alvo a ser perseguido mas jamais
alcançado? Algo que brota automaticamente no ato da justificação ou
virtudes a serem desenvolvidas com o passar dos anos? O quê, como,
quando, onde, por quê... nada disso importa. O que importa é ter esse
fruto em nós. Pois o fruto do Espírito é a assinatura da presença de
Deus no cristão. Só que... olho para dentro de mim e vejo a falta de
tantas dessas virtudes! Significa que não sou salvo? Mas... também olho
em volta e não vejo um cristão sequer que tenha todas essas
características. Significa que a Igreja é vazia de Deus? Ou que o fruto
brota de modos que não entendemos? Vamos meditar sobre isso.
A
Bíblia não fala da "árvore" do Espírito, mas do "fruto", algo que brota
porque corre seiva na árvore. Logo, não é causa, é consequência. Também
frutas não nascem prontas: começam com um pontinho, que vai crescendo,
crescendo, crescendo até alcançar a maturidade. E, nesse processo,
enfrenta muitas intempéries. Tempestades. Vendavais. O calor escaldante
do Sol. Mas já reparou que sem a água das tempestades o fruto morre? Que
sem o ar dos vendavais não há a transformação de gás carbônico em
oxigênio, algo que mantém viva a planta? E que o lado da maçã exposto ao
sol sempre fica mais vermelho? Sim, é graças às intempéries que sofre
ao longo de seu desenvolvimento que o fruto torna-se viçoso, suculento,
preparado, pronto, vivo.
Quando,
no momento da justificação, o Espírito passa a habitar em nós creio que
Ele semeia a boa semente do seu fruto. Não faz com que ele brote
automaticamente, mas deposita a semente em nossa alma. Já a carregamos
desde o dia em que Cristo estende a nós a Sua graça. Só que, se isso é
assim, então por que há tantos cristãos sem amor, egoístas, abatidos,
impacientes, odiosos ou sem autocontrole? Por que em tantos momentos não
me reconheço? Se a seiva corre... por que o fruto não é visível?
Creio
que faltaram as intempéries. Faltou o vendaval da vida. Faltaram as
tempestades, com raios e trovoadas. Faltou o sol escaldante dos momentos
de deserto. É nessas horas que vejo Deus trabalhar. Que vejo o fruto
brotar. E quando o momento chega a forma como lidamos com as
dificuldades vão nos tornar amargos ou melhores, temos a capacidade de
decidir, de optar. Virtudes latentes em mim mas inexistentes só ganharam
vida quando passei pelo vale da sombra da morte - o lugar com mais
chuva, vento e sol causticante que existe.
Não
amei de fato até que alguém me amou de um modo que eu não merecia. Não
tive alegria real até que vivenciei profundas e esmagadoras tristezas.
Não entendi a importância de pacificar até presenciar o ódio. Não tive
paciência até descobrir que há coisas que absolutamente não dependem de
mim, que de nada adianta desesperar e só resta esperar a ação de Deus.
Não fui verdadeiramente amável até que em solidões profundas precisei
desesperadamente de mãos estendidas e abraços honestos. Não fui bom até
que eu sentisse na carne as consequências da maldade. Não fui fiel a
Deus até que dependi totalmente do invisível. Não fui manso até que a
ira mostrou suas garras. Não tive domínio próprio até que meus
descontroles me tornaram o opróbrio da humanidade.
Tempestades.
Vendavais. Sol fustigante. Pragas terríveis, bênçãos celestiais.
Indesejáveis e bem-vindos. Quero distância como homem, mas preciso
enquanto espírito. Se desejo ter em mim o fruto do Santo Espírito,
preciso do que não quero. Não que busque , mas quando chega recebo de
bom grado, sabendo que todas as coisas contribuem para o bem dos que
amam a Deus. E eu o amo. Ou, pelo menos, tenho me esforçado para amá-lo
com o amor que brota do Espírito. Pois enquanto amei o Senhor com meu
estúpido amor humano não fui capaz de amá-lo verdadeiramente.
Hoje
creio que o Espírito Santo é um semeador. Põe no solo árido de nossa
alma a semente de Suas virtudes e espera vir a chuva, o vento, o sol - a
dor. E isso demora. Por vezes anos. Por vezes décadas. Muitos morrem
sem que todo o fruto tenha amadurecido. A maioria de nós, aliás. Creio
que eu também morrerei sem tê-los todos maduros. Hoje as dificuldades da
jornada fizeram com que algumas sementes brotassem em mim. Certas
virtudes estão verdes, outras mais maduras, algumas ainda inertes. Mas o
que me consola é que sei que a semente foi plantada. Pois essa é a
maior prova de que, a despeito de sermos o pó que somos, aprouve a Deus
escrever nosso nome no livro da vida. Sua seiva corre em nós. O resto?
Virá com o tempo, com a dor e com a graça do Salvador do mundo.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Maurício
Maurício
Fonte: Apenas
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