Por Lourenço Stelio Rega
Nas décadas de 70 e 80, líderes exigiam que os seminários formassem
pastores e não teólogos. Já ouvi muitos sermões e palestras em que o preletor
faz descaso contra o estudo, como se a dedicação ao conhecimento bíblico e
teológico fosse algo demoníaco ou perda de tempo. Hoje tenho ouvido até líderes
de elevada magnitude afirmarem que o que forma um pastor não é um curso de
Teologia e, muito menos, reconhecido pelo MEC.
De fato o que faz uma pessoa ser pastor é ser portadora do
dom e vocação pastoral, é o chamado de Deus, mas isto não é tudo. Nessa linha de
raciocínio tenho a impressão que podemos estar defendendo a ideia de que se é
vocacionado vai dar certo! Os fracassos com algumas de nossas instituições
denominacionais demonstraram o inverso. Creio que essa argumentação contra o
estudo e o preparo de um líder não passa de sofisma.
Você iria num médico apenas considerando que ele é
vocacionado como médico, contudo, sem ter ele se preparado para o exercício da
Medicina? Um pastor é como um “médico” de vidas, se não for preparado para o
exercício de seu dom e vocação fará muito estrago na vida de suas ovelhas e da
igreja, como tem ocorrido em muitas ocasiões.
Nosso vício pragmático é uma das causas deste maléfico sofisma,
pois reduzimos Cristianismo a trabalho na igreja, então um jovem vocacionado
deve apenas aprender a pregar, dirigir assembleias, fazer visitas, redigir atas
e pronto. Deve aprender a fazer coisas. Para que investir mais tempo? Assim, os
seminários precisam formar pastores e não teólogos! Pergunto: é possível formar
médicos, sem Medicina? É possível formar engenheiros, sem Matemática?
Precisamos ter coragem de colocar estes argumentos no cadinho da prova.
Quanto à oficialização dos cursos teológicos pelo MEC, já
procurei demonstrar em diversas ocasiões que a demonização que é feita sobre o
assunto deixa de considerar a legislação vigente e experiências bem sucedidas
em nosso meio. A legislação dá liberdade curricular e se um seminário quer ser liberal,
conservador ou fundamentalista, é opção de sua mantenedora. A escolha de
professores, modelagem de currículo, etc, vai depender de qual cor se deseja
dar ao curso.
Agora pergunto: como manter cursos de graduação à margem da
Lei? Se um curso é de graduação ou pós-graduação em Teologia deve ser legalizado
em vez de funcionar de forma clandestina. Pergunto mais: se podemos dar aos
nossos alunos condições de ter um diploma reconhecido que lhe proporcione
reconhecimento público, oportunidade de prosseguir em seus estudos em outros
níveis para melhor servir ao reino de Deus, por que não o fazemos? O pior de tudo
é que, por desconsiderarmos este assunto há seminários (inclusive batistas),
“esquentando” diplomas de cursos livres, oferecem cursos clandestinamente à
margem da lei. Por que não se reclama contra isso?
Outro dia vi numa lista de internet argumento de que devemos
aceitar legalizar nossos cursos de Teologia, pois isso seria ir contra nosso
princípio de separação entre igreja e Estado. Seguindo este argumento então as
igrejas devem pedir baixa em seu CNPJ e deixar de entregar a declaração anual de
Pessoa Jurídica à Receita Federal?
Tenho a impressão de que neste assunto existem causas
“ocultas” ou “místicas” não declaradas, que não conseguem dar conta em
responder estas questões.
Não defendo o MEC, o que defendo é a legalidade. Se para
oferecer cursos de graduação a lei exige a oficialização, não há outro caminho,
como não há outro caminho de manter uma igreja sem a devida legalização. É uma
questão de respeito à lei. Mas também é uma questão de conhecer a legislação
educacional e saber se valer dela para a manutenção de nossa liberdade
religiosa. E isso nossos seminários oficializados estão sabendo fazer em geral.
Pena que, em geral, quem discute o problema o faz sem conhecer a legislação e,
muitas vezes, sem avaliar os projetos pedagógicos destes seminários. Precisamos
ter coragem de colocar esse assunto sobre a mesa e discuti-lo com fatos, em vez
de passionalmente.
Mas isto (MEC) é apenas um detalhe. O importante aqui é a
valorização do bom preparo de nossos futuros líderes. Não basta saber fazer coisas,
é preciso ter fundamentação bíblica e teológica para não ser seduzido pelas
ideologias do mundo, para saber como conduzir com segurança o povo de Deus
neste mundo sem Deus. Como pregar profunda e seriamente a Palavra, como cuidar
de vidas, aconselhar, etc, sem o devido preparo (com MEC ou sem MEC)?
Precisamos parar de tratar a dedicação ao estudo e à
pesquisa como um pecado e tarefa de desocupados. Temos duras advertências
contra a preguiça na Bíblia. Vamos colocar a mão na consciência e rever nosso
posicionamento sobre o assunto. Vamos valorizar o estudo da Bíblia, da
Teologia, para aprofundar mais ainda nossos sermões, palestras, aconselhamento
ao povo, etc.
Fonte: Observatório Batista
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