Por Josemar Bessa
Há textos na Bíblia que
nos surpreendem com base no que lemos na Bíblia. O apóstolo Pedro diz
algo surpreendente em 2 Pedro 2.7 – “E livrou o justo Ló...” – Quando penso em
Ló, não me lembro de Ló como alguém especialmente justo na história famosa em
que ele aparece em Sodoma e Gomorra.
Ele escolheu habitar
nas campinas verdes de Sodoma (Gênesis 13.13). Ainda lembro de algo pior – na
hora da fuga, quando as cidades seriam destruídas, Ló demorou (Gênesis 19.16).
Depois que escapou da cidade foi embebedado por suas filhas... De fato não é
uma grande história.
Mas Pedro ainda
consegui chamá-lo de “justo” em algum sentido. E se Deus repetidamente tinha
assegurado a Abraão que ele não iria punir o justo com o ímpio (Gn 18.25),
então é lógico que o veredicto é o mesmo do de Pedro. Então em que sentido Ló
era um homem “justo”? (Não estamos usando o termo como a justiça imputada por
Deus quando justifica o homem em Cristo – é óbvio – mas de uma vida que resulta
de tudo o que Deus opera no homem por graça – justificação, regeneração...).
Vemos, e Pedro nos
mostra, (que com resultado daquilo que Deus faz no coração de um homem por
graça ) – viver lá foi um tormento para Ló. Ló não foi um homem que banalizou o
pecado e com ele se acostumou. Ló, diz Pedro: “...se afligia, era
atormentado... com o procedimento dos que não tinham princípios morais” – em
outra versão: “Ló vivia enfadado da vida dissoluta dos homens...” (2 Pedro
2.7). Sua alma justa estava “atormentada” ao contemplar todos os dias a vida
dos homens alienados de Deus e expressando seu amor ao pecado – “Pois vivendo entre eles, todos os dias
aquele justo se atormentava em sua alma justa por causa das maldades que via e
ouvia” - “porque este justo,
habitando entre eles, afligia todos os dias a sua alma justa, vendo e ouvindo
sobre suas obras injustas” - 2 Pedro 2.8.
Apesar de todas as falhas que vemos em Ló, ele é um exemplo digno a este respeito: o pecado o incomodava!
Este é um equilíbrio
difícil – como ser atormentado pelo pecado, e ainda ser uma fonte de boa
notícia para o pecador. É um grande desafio – porque muitos ao dizerem que
desejam ser fonte de salvação dos pecadores... missionais... banalizam o
pecado, encontram estratégias que não mostram apenas amor, mas sim que não tem
uma alma atormentada pelo pecado.
Por um lado queremos
mostrar amor e respeito aos nossos vizinhos, amigos de escola, trabalho...
queremos que encontrem misericórdia, desejamos vê-los regenerados pela graça
soberana de Deus... Queremos ver
pecadores reconciliados com Deus em Cristo, em paz com Deus... no entanto,
NUNCA podemos fazer a paz com o pecado do e no mundo.
Tanto quanto queremos
mostrar bondade para com nossos vizinhos, amigos, conhecidos... o seu pecado, a
sua rejeição a Cristo... sua rejeição a lei de Deus, sua vida como se Deus não
existisse... nos atormenta. Não nos opomos ao pecado do mundo simplesmente
porque ele é errado, leva o homem a tristes consequências... Em nossos novos
corações ( se somos de fato regenerados ) – nos opomos aos seus pecado
(pessoas, mundo, sociedade) e nossos, porque o achamos terrível, desagradável,
angustiante... para nossos novos corações, e, acima de tudo, porque rouba a
glória de Deus.
Aí Ló é um exemplo para
nós. Ele não tinha um sentimento frio e morno sobre o pecado, como muitos tem.
Não tinha uma familiaridade com o pecado que o deixou insensível e cauterizado
ante a hediondez do pecado aos olhos de Deus. Muitas pessoas se chocam com o
pecado e a impiedade apenas a primeira vista – nos ambientes em que com ele são
obrigados a conviver, mas logo ficam acostumados a vê-lo, que vê-lo já não faz
grande diferença, pelo contrário há um indiferença.
Já não temos percebido
a estratégia do mundo e do diabo que é fazer com que olhemos o pecado e ao
olharmos nos sintamos normais e como algo normal. Mas como alguém disse no
passado, “nossa grande segurança contra o pecado está em que o pecado nos
choque”. Mas num mundo repleto de sensualidade ( como o que vivemos, como o que
Ló vivia) – estamos em grave perigo de nos tornarmos insensíveis ao pecado, e
disfarçarmos, o que é pior, essa insensibilidade com a desculpa de estarmos
amando os pecadores e tentando salvá-los...
Podemos realmente dizer
hoje que como Ló, nossas almas justas são atormentadas todos os dias ( não
pelas tristezas humanas) mas pelos pecados, maldades... contra Deus que vemos e
ouvimos? Nossas almas ficam atormentadas? Ou seria mais correto dizer que achamos
muito disso normal e as vezes até engraçado? O que você tem ouvido e visto tem
te atormentado? Ou já fizemos paz com os pecados que um dia nos chocavam?
Estamos entretidos com coisas que antes nos fariam recuar de dor na alma pelo
quanto tudo aquilo rouba a glória de Deus e o ofende? Temos crescido em nossos
corações calos insensíveis ao pecado e que nos torna confortáveis diante dele?
Quando não somos
atormentados mais, isso não é evidência de amar o pecador, é evidência de uma
coração que se assemelha a eles em seu pecado. Isso não é abrir portas para
“ganhá-los, é estar sendo vencido pelo pecado.
A verdade triste é que
muitos de nós sente apenas cócegas pelo pecado do mundo, e não tormento.
Podemos morrer de rir dos pecados do mundo. Mas poucos de nós podemos dizer
honestamente hoje: “Rios de lágrimas correm dos meus olhos, porque a tua lei
não é obedecida” – Salmos 119.136.
Fonte: Josemar Bessa
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