Por J. I. Packer
Muitas vezes diz-se que o objetivo de Deus no plano da salvação é o exaltar-se a si mesmo, exaltando aqueles a quem ele salva, e isto é verdade. Mas o Novo Testamento vai além, insistindo que o propósito principal do Pai é a exaltação do Filho, a quem conhecemos em sua forma humana como Jesus Cristo, nosso Senhor. O Filho de Deus, que é Deus Filho (a segunda pessoa da Trindade), foi e é o agente de todas as obras do Pai na criação, na providência e na graça.
Ele é o mediador de toda bondade e misericórdia que tem fluído de Deus para homens e mulheres. O Novo Testamento identifica sua vida, morte, ressurreição e entronização como o ponto decisivo da história do mundo, do mesmo modo que descreve seu trono como a peça centro do céu (Ap 4,5). Assim como o Pai ama o Filho e expressa esse amor honrando-o na comunhão eterna da Trindade, ele deseja que, pela execução do plano de salvação, no qual Jesus é a figura central, "todos honrem o Filho do modo por que honram o Pai" (Jo 5.23).
Para isso, e em direto reconhecimento da perfeição da preciosa obediência do Filho na expiação dos pecados cometidos pela humanidade, "Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é Senhor, para glória de Deus Pai" (Fp 2.9-11).
Paulo, escrevendo aos colossenses, que estavam sendo ensinados a adorar não somente a Jesus, mas aos anjos, fala do plano do Pai para "o Filho do seu amor" (Cl 1.13) de receber a suprema honra em todos os níveis:
Pois, nele, foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele. Ele é antes de todas as coisas. Nele, tudo subsiste. Ele é a cabeça do corpo, da Igreja. Ele é o princípio, o primogênito de entre os mortos, para em todas as coisas ter a primazia, porque aprouve a Deus que, nele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus. (Cl 1.16-20).
O qual nós anunciamos, advertindo a todo homem e ensinando a todo homem em toda a sabedoria, a fim de que apresentemos todo homem perfeito em Cristo; em quem todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos. (Cl 1.28; 2.3)
Porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade. Também, nele, estais aperfeiçoados. Ele é o cabeça de todo principado e potestade. (Cl 2.9,10)
Porque morrestes, e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus. Quando Cristo, que é a nossa vida, se manifestar, então, vós também sereis manifestados com ele, em glória. (Cl 3.3,4)
Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem com os seus feitos e vos revestistes do novo homem que se refaz para o pleno conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou; no qual não pode haver grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, escravo, livre; porém Cristo é tudo em todos. (Cl 3.9-11)
Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração (...) Habite, ricamente, em vós a palavra de Cristo (...) E tudo o que fizerdes, seja em palavra, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai. (Cl 3.15-17)
Nestas passagens, que juntas constituem a "linha-mestra" de Colossenses, estão claramente definidas a centralidade e a supremacia de Jesus Cristo no plano da salvação.
O livro de Apocalipse mostra-nos o mesmo (como, de fato, fazem todos os livros do Novo Testamento: contudo, limito-me a este outro exemplo que segue). Começando com a visão de Cristo em glória, ditando as cartas pessoais para cada uma das sete igrejas (Ap 1-3), o texto segue descrevendo Jesus como o Leão de Judá na forma do Cordeiro que foi morto, entronizado como o Redentor e Senhor da História (Ap 5), a quem são oferecidas incessantemente canções de louvor. No decorrer do livro, o Cordeiro aparece como o vitorioso "Rei do Reis e Senhor dos Senhores" da Palavra de Deus (Ap 19.11-16).
O livro encerra com Jesus falando de si mesmo, como ele havia feito nos três primeiros capítulos, como o Senhor de todos e de todas as coisas, e declarando: "E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras. Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã" (Ap 22.12,16).
O que preciso aprender, então, é o seguinte: minha salvação se dá, do início ao fim, por meio de Jesus Cristo e em Jesus Cristo ("em" significando uma comunhão pessoal que é também uma união viva, desejada e realizada pela ação divina). Deus Pai planejou desta maneira para glória e louvor de Cristo, seu eterno Filho. As misericórdias da eleição, redenção, regeneração e justificação são mi¬nhas em Cristo (Ef 1.4,7; 2.4-10; Gl 2.17).
Morri com Cristo. Portanto, Deus está fazendo morrer, dentro de mim, meu antigo modo de viver, o qual já renunciei. Fui criado para compartilhar a vida de ressurreição de Cristo pelo Espírito Santo, de modo que, no entanto, ainda sou quem eu era, não sou mais o que eu era, mas sou agora, interiormente, uma pessoa diferente (Rm 6.2-11; 7.4-6; Gl 2.20; Ef 4.20-24; Cl 2.11-13,20; 3.1-4,9-11). Meu objetivo de vida, daqui para a frente, é confiar em Cristo, obedecer-lhe, amá-lo, exaltá-lo, adorá-lo e fortalecer-me nele (2Co 12.9; Fp 4.13; Cl 1.11; lTm 1.12; 2Tm 4.17), alegrar-me nele (Fp 3.1; 4.4), render-lhe graças, perseverar nele (Jo 15.4-7) e esperar o dia em que Cristo voltará para levar-me ao lar com ele (Jo 14.1-3; Fp 1.23; 2Co 5.6-8). Sei que Cristo vê seus discípulos como seus amigos (Jo 15.15). Tenho de mostrar minha gratidão por este maravilhoso privilégio de ter amizade com o Rei e Senhor do mundo. Preciso honrá-lo e glorificá-lo de todas as maneiras possíveis.
Fonte: Josemar Bessa
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