Estava lá a notícia: “Governo da Colômbia não sabe o que fazer com os Hipopótamos!” Confesso que li a frase novamente. Hipopótamos e Colômbia, o que isso tinha a ver? Seria a mesma coisa de eu estar lendo: “Governo da Mongólia não sabe o que fazer com os tamborins enviados pelo Brasil para o Carnaval local”. Mas continuei lendo, afinal, o que hipopótamos foram fazer na Colômbia? Pelos meus conhecimentos zoológicos, eles ‘não nascem’ lá, mas no continente africano. Nem sei se em outras partes do mundo tem hipopótamos soltos na natureza. Só na África… e na Colômbia, agora.
O negócio foi o seguinte: o traficante Pablo Escobar, morto pela polícia há anos, traficou também hipopótamos para as suas fazendas porque queria um zoológico particular. Quatro desses bichos fáceis de serem escondidos debaixo da blusa entraram ilegalmente naquele país. E não é que gostaram da Colômbia?! Pablo Escobar morreu, seus negócios foram desbaratados, muitas de suas terras viraram ‘terra de ninguém’… e os hipopótamos? Bem, eles ficaram por lá. E como eu disse, eles gostaram da Colômbia. Clima agradabilíssimo (na opinião dos hipopótamos), natureza selvagem, floresta tropical… e dos quatro que vieram, hoje eles são mais de trinta, vivendo soltos e sem controle humano. Só que tem uma coisa ‘muito simples’: na África hipopótamos matam humanos muito mais do que os leões. Só isso.
Que incômodo para a nação vizinha e amiga. Com tantas coisas para resolver, agora tem problemas do tamanho de um hipopótamo.
Trazendo para o nosso dia-a-dia, o que poderíamos tirar de lições para a vida? Penso que algumas lições.
TEM QUEM VÁ LONGE, ARRUMAR ENCRENCA.
Achando-se ‘o dono do pedaço’ e tendo todas as condições de atender os seus caprichos e gostos, o ser humano é capaz de muitas coisas para suprir seus devaneios. Tem sempre quem queira inovar; inventar e, porque não, fazer algo que até agora ninguém fez? Assim, seus pés caminham longe em busca de aventuras e do que chama de prazeres, afinal, quem não quer contar para o outro sua última cartada; sua última aventura que até então ninguém havia pensado ou tentado?! “Olhem os meus hipopótamos!” E todos dirão: “óhhhh!!! Como fulano é ousado; como fulana é criativa! Como ele/ela faz cada coisa que ninguém até hoje fez”. O ser humano, entregue aos seus próprios pecados não mede esforços para brincar com o perigo; para ir buscar o perigo, não importando distância, preço e nem o incômodo de carregá-lo. O pecado em forma de perigo pode até ser ‘exótico’, mas não deixa de ser nem pecado e nem perigo. E basta um ataque certeiro para o exótico virar morte.
TEM QUEM ACHE QUE TEM O DOMÍNIO.
Olhando para os seus negócios, olhando para as suas terras, para o seu exército particular de homens bem armados… Pablo Escobar sentia-se o rei. E um rei merece tudo o que o seu coração desejar. “Quero hipopótamos!”. E eles vieram e serviram aos olhos do Pablo.
Nesses dias bem secularistas de salários mais altos, postos mais elevados, diplomas mais destacados e facilidades para se trazer o pecado ou ir atrás dele, homens e mulheres não têm medido esforços para satisfazer seus interesses. Acham que têm o domínio. Pensam que tem o controle e até gostam de controlar pessoas. Mandam e desmandam; não temem ninguém e riem da lei e da justiça, contando os seus casos ao redor das mesas dos escarnecedores para outros grandes escarnecedores. E o povo que admira esta gente e esse estilo de vida, fica acompanhando tudo o que eles fazem, procurando imitá-los, cada um segundo as suas possibilidades. E são muitos os súditos que têm as opiniões e gostos desses reis e rainhas em alta conta, bebendo as suas sugestões em grandes goles. Tudo o que fazem e tudo o que dizem é tragado (ver, Salmo 73.10).
Escobar foi mais um dos iludidos com o poder momentâneo dos homens. Depois, logo viu que aquilo não era ‘palácio’, mas sim prisão sem grades e muros. Um dos homens mais poderosos do seu país, passou a viver se escondendo, recluso, dormindo cada noite em outro lugar. Vivia para se esconder e fugir no final da vida. O medo era a sua companhia, a desconfiança, seu torturador. Penso como ele não teve uma noite tranqüila e reparadora de sono por anos. Pablo Escobar não podia levar os seus hipopótamos de estimação, mas o peso da sua culpa, ah, este ele transportava sempre nas costas.
À semelhança desta recente parábola sul-americana tão conhecida nossa, a Bíblia diz: “O teu pecado te há de achar” (Números 32.23 ). Encontrou Pablo Escobar na Colômbia. E ele foi alvejado. Morreu onde jamais imaginaria que alguém pudesse morrer: caçado como um bicho, cravejado em cima de um telhado. O pecado nunca errou o endereço de ninguém; também em baixo ou em cima de telhados. Sempre encontrou e cobrou o seu preço: a vida de alguém, só isso. Tudo isso.
ALGUÉM PODE MORRER POR SUA CAUSA.
Os Hipopótamos chegaram ao novo lar em 1981. Vinte anos depois estavam espalhando o terror na região. Eles foram atrás de comida e de água. Pessoas que não tinham nada a ver com Pablo Escobar agora se deslocam com medo perto da antiga Fazenda Nápoles, cerca de 300 kms. da capital. Esses camponeses simples vão para a roça, ou estão voltando para as suas casas com muito medo, sabendo que o ataque pode surgir a qualquer momento.
Um dia alguém plantou o pecado na família. E filhos e netos comem desse amargo fruto até hoje. Um dia alguém transportou um pecado lá de longe, e tem dos seus que foram feridos por presas assassinas e mordidas capazes de dividir uma pessoa ao meio, hoje, passados tantos anos. As inconseqüentes atitudes no pecado podem gerar conseqüências terríveis para outros que nada tinham a ver com tais loucuras particulares, mas sofreram e caíram, vítimas delas.
Não culpo os bichos na Colômbia. Eles são só animais. Mas os que brincam com o pecado, esses sempre serão culpados.
O pecado, além de um terrível incômodo quando revela todo o seu poder, fúria e força, é capaz de espalhar tristeza, medo, terror e morte.
Não admire o pecado. Não brinque com o pecado. Ele não brinca com você.
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