Processos de divisão em igrejas evangélicas deixam sequelas na congregação e na vida espiritual dos membros.
No início, o Evangelho espalhou-se graças à presença do próprio Senhor Jesus. Mais tarde, após sua morte e ressurreição, coube aos novos convertidos ao recém-criado cristianismo romper com suas tradições religiosas e sair pregando as boas-novas do Reino. Em pouco tempo, a nova fé cresceu e, como não poderia deixar de ser, surgiram as primeiras divergências entre seus seguidores. A lei de Moisés perdera a validade ou não? Os mortos voltariam à vida antes ou depois do retorno do Senhor? A circuncisão continuava obrigatória? Depois, vieram as diferenças teológicas – e mesmo gigantes da fé, como os apóstolos Paulo e Pedro, tiveram lá suas diferenças por causa de interpretações conflitantes acerca do Evangelho. Quando a Igreja ganhou formas institucionais e o clero se fortaleceu, as divisões passaram a ocorrer, principalmente, por questões internas e administrativas. A falta de consenso, seja por motivos espirituais ou simples disputa de poder, levou a cristandade a grandes rachas, como o ocorrido em 1054, entre cristãos do Ocidente e do Oriente, ou a Reforma Protestante do século 16.
A verdade é que, ao longo destes dois mil anos e pelos mais diversos motivos – ou desculpas –, igrejas cristãs seguem tendo dificuldades em manter a sua unidade, gerando novas divisões e afetando a vida e o ministério de seus fiéis. Na história recente das igrejas evangélicas brasileiras, grandes separações aconteceram, tanto nos grupos históricos – como a Igreja Batista, que viu surgir em seu meio um segmento avivado nos anos 1960 –, como nas igrejas pentecostais e neopentecostais. E as separações acontecem tanto em nível denominacional como dentro das próprias comunidades locais, em geral por mero desentendimento entre seus líderes e, muitas vezes, gerando igrejas vizinhas – e até rivais – de mesma fé. “A divisão é intrínseca à experiência da Igreja cristã: simplesmente, nunca houve um cristianismo indiviso”, aponta o professor Joanildo Burity, coordenador do mestrado sobre fé e globalização do Departamento de Teologia e Religião da Universidade de Durham, na Inglaterra.
As razões que desencadeiam essas cizânias, na opinião dos especialistas, incluem desde a vaidade pessoal dos líderes até insubordinação, dificuldades de se trabalhar em equipe e interesses pessoais nocivos. Há também os motivos espirituais – caso das divergências teológicas ou de vocações ministeriais legítimas, que são sufocadas por lideranças centralizadoras. “Dificilmente, a divisão é provocada por uma ovelha, mas quase sempre por um pastor ou líder”, argumenta o pastor Osvaldo Lopes dos Santos, presidente da União das igrejas Evangélicas Congregacionais do Brasil (UIECB). A denominação, introduzida no Brasil no século 19 pelo missionário e médico escocês Robert Kalley, enfrentou uma grande cisão em 1967, por causa da adesão de alguns pastores ao avivamento espiritual.
Se, por um lado, as separações em igrejas contribuíram para a acelerada disseminação do cristianismo no mundo, devido à multiplicação do número de congregações, por outro geram verdadeiros traumas emocionais e de fé nos membros, geralmente os que mais sofrem com as divisões. “Toda ruptura, quer seja pessoal ou institucional, sempre causa algum tipo de trauma emocional, psicológico, social, e, no caso da igreja, um espiritual”, continua Osvaldo. “Trata-se de um divórcio eclesiástico, que afeta profundamente a história e a identidade de um povo, removendo as suas bases e criando um grande vazio existencial por um longo tempo.”
Os cismas que acontecem no meio das igrejas evangélicas são uma das inúmeras causas das transferências de membros entre igrejas. A flutuação é grande – hoje em dia, é comum se encontrar crentes que já foram ligados a diversas congregações. Caso de R.M., carioca de 50 anos que, a fim de evitar constrangimentos, pediu à reportagem para não ser identificado. “Converti-me na Assembleia de Deus”, conta. “Mas, três anos depois, o pastor rompeu com o Conselho e abriu sua própria igreja. Fui com ele e mais uns trinta irmãos”. O novo trabalho prosperou, mas aí foi a vez de o pastor ser vítima da divisão – um missionário da igreja, insatisfeito com sua liderança, saiu e levou consigo boa parte dos membros. R., decepcionado, por pouco não caiu na fé. “Não fui atrás nem de um, nem de outro. Achei absurdo que homens que se diziam de Deus ficassem brigando entre si.”, reclama. Hoje, o funcionário público congrega na Igreja Cristã Maranata. “Há muito de vaidade e interesses pessoais nesses rachas, e pouco do Evangelho”, opina.
CREDIBILIDADE COMPROMETIDA
“Os crentes que mais sofrem com processos de divisão são justamente os neófitos na fé, que ainda possuem uma visão romantizada da igreja”, aponta o pastor Altair Germano, coordenador pedagógico Faculdade Teológica da Assembleia de Deus em Abreu e Lima (Fateadal), em Pernambuco. “As pessoas ficam marcadas por essas rupturas”. No entender do educador, atitudes de divisão podem criar grandes males espirituais para os membros de uma igreja que se fragmenta – “Embora, em alguns casos, a divisão seja até necessária”, ressalva. Mesmo assim, pondera, levantar as questões de maneira pública não é o melhor caminho. “As demandas e questões que suscitam divisões denominacionais precisam ser tratadas pelos líderes com sabedoria, temor, respeito e amor cristão.”
Até mesmo falar sobre as experiências de divisão é difícil tanto para os líderes, como para os membros das igrejas que sofreram esse tipo de situação. O pastor Josivaldo Carlos, 42, da Igreja Batista Missionária, já foi membro de uma igreja tradicional na periferia de Olinda (PE) antes de iniciar o próprio ministério. Há dez anos, um processo de mudança radical, implantada por um pastor que chegou à congregação, afastou rapidamente os membros mais antigos. “Eles se sentiram excluídos pela nova liderança. A maior parte se espalhou pelas igrejas vizinhas, mas uns até abandonaram o Evangelho.”
Josivaldo lamenta que os estragos da divisão vão além das paredes da igreja – trazem descrédito não apenas para as instituições que passam pelo problema, mas para o Evangelho, como um todo. “Existem consequências muito grandes nesses momentos. Uma delas é o prejuízo ao caráter evangelístico da igreja”, comenta. “Os novos convertidos sofrem um abalo na fé muito grande. Eles esperam da igreja algo novo, querem satisfazer um vazio da alma. Quando se deparam com uma separação que cria um ambiente muito hostil, a decepção é grande. Afinal, no lugar onde tinham a expectativa de encontrar soluções, acabam encontrando mais problemas”, declara Josivaldo.
Para Rinaldo Silva, de 24 anos, do Recife, o que o motivou a deixar a igreja onde congregava foi o que chama de uma crise interna. Envolvido em vários trabalhos na igreja, ele foi levado a deixar o ministério onde se batizara e foi para outra congregação, na mesma localidade, com uma série de irmãos, por conta das mudanças promovidas por um novo pastor, que eram contrárias aos princípios da igreja. “Esses momentos criam períodos de fraqueza espiritual muito grande. Leva os membros a se fecharem; muitos não querem mais saber de igreja nem de participar do Corpo de Cristo. Com o tempo, a pessoa nem quer mais buscar a Deus”. Anos após, com o fim da crise, Rinaldo retornou a igreja de origem, onde congrega até hoje. O aposentado João Neto, 54 anos, também passou por um processo de divisão na sua antiga igreja. Desvios doutrinários instabilidade na congregação, que culminou numa divisão, seis meses depois. “A igreja tinha um perfil e uma história que foram desrespeitados. A unidade da congregação foi enfraquecida. Entre os mais antigos, é uma tristeza ver uma trajetória ser interrompida.
Outro grupo de fiéis que demora a superar o embate das divisões são aqueles crentes que possuem longas trajetórias em uma mesma igreja. “Geralmente, aqueles que têm uma caminhada histórica em sua denominação é que apresentam dificuldades maiores numa situação como esta. Aos poucos, aquela sensação de vazio vai se dissolvendo e um novo tempo se estabelece em nossas vidas, porque, afinal, Deus nunca desiste de nós e ele é poderoso para guardar o nosso depósito até o dia final.
Não há solução humana para esses conflitos, principalmente quando envolvem GRANA e ALTA. É cada um puxando brasas pra sua sardinha. O problema está nas bases, nos alicerces desse sistema que teima em ser chamado de evangélico, mas já deixou de sê-lo, a muito tempo. Toda essa estrutura baseada primeiramente em templos, que é onde se "passa a sacolinha" e também onde os líderes colocam medo e opressão no povo sem entendimento chamando-os de ladrões se não "entregarem o dizimo" que jamais é usado como era usado na Velha Aliança (para amparar viúvas, órfãos e estrangeiros) e sim para construção de belas catedrais com pedras caríssimas quando não muitas vezes para enriquecimento pessoal. Se Jesus repetisse aquele episódio do templo de Herodes, hoje, haja chicote e chibatadas... Covil de ladrões soaria como elogio...
ResponderExcluirEntão o que fazer... Cada um que tem entendimento e temor a Deus que comece a pregar a Cristo genuinamente com sua vida diária, em qualquer lugar e situação, viva o evangelho, não dependa de estruturas de templos, denominações, convenções, enrolações, arrecadações, CNPJ, despesas disso e daquilo... Pessoas são muitíssimo mais importantes do que coisas, do que estruturas humanas, do que instituições (aliás, sobre o único templo existente então, Jesus profetizou que não ficaria pedra sobre pedra que não fosse derrubada... E se cumpriu) que jamais estiveram, ainda não estão e jamais estarão nos planos do Pai, do Filho Jesus, que deu Sua Vida pela Igreja, (conjunto dos santos, salvos, não por templos ou instituições, seja de que modelo forem ou de qualquer boa intenção que tiverem, etc) e muito menos ainda do Espirito Santo. Sempre haverá essa erva daninha subindo pela arvore da Vida e tentando sufocá-la.
É melhor ter governos tiranos e maus, que persigam a verdade (*como na China, onde é proibido a pregação do evangelho em público e mesmo em privado, templos evangélicos então nem se fala), e com isso avivando a fé da Igreja Verdadeira do que sinagogas de satanás passando-se de igrejas e que atraem milhões ao inferno pensando estar a entrar nas mansões celestiais.
P.S. A Igreja na China é a maior do mundo, não só em numero de membros como em vida cristã espiritual genuína e sem nenhum templo evangélico ou denominação.
Graça e pa Gilson.
ResponderExcluirEu creio que a igreja instituição, mas sei também que muitas tem passado por momentos muito difíceis. Mas eu conheço algumas igrejas muito sérias, que tem compromisso com a genuína pregação da Palavra de Deus (a igreja que eu pastoreio é assim), então não seria justo colocar na mesma sacola igrejas sérias com igrejas exploradoras dos membros, e pior, que deturpam a Palavra de Deus para sebeneficiárem.
Mas uma coisa é certa, toda vez que há uma divisão na igreja todos sofrem e passam or grandes crises, te falo isso por já ter passado por essa situação. Não é fácil, mas Deus nos acolheu e até aqui tem nos ajudado.
PS: Não tenho nada contra os crentes em Jesus que não frequentam nenhuma igreja, conheço alguns que realmente são muito sérios e fiéis.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira
Excelente postagem! Relevante e atual! Gostaria de poder reproduzí-la em meu blog. Se for possível, espero autorização. Graça e paz.
ResponderExcluirGraça e paz Pr. Raimundo.
ResponderExcluirFique à vontade em reproduzí-la.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira