Eudemonismo é uma palavra incomum pela qual eu talvez deva pedir desculpas. Eu a uso porque é a única palavra que eu conheço que serve. Não tem nada a ver com demônios. Vem da palavra grega para "feliz", eudaimon, e Webster a define como "o sistema de filosofia que faz da felicidade humana seu objeto mais alto". Uso a palavra como rótulo para a ótica da felicidade, significando a presença do prazer, e o livrar-se de tudo que é desagradável.
O eudemonismo diz que, já que a felicidade é o valor supremo, podemos confiantemente olhar para Deus aqui e agora para nos proteger de coisas desagradáveis em cada circunstância, ou então, se as coisas desagradáveis aparecerem, livrar-nos delas imediatamente, pois nunca é da vontade dele que tenhamos que conviver com elas. Este é um princípio básico da religião da banheira quente. Infelizmente, entretanto, é um princípio falso. Perde de vista o lugar do sofrimento na santificação, por onde Deus treina seus filhos para compartilharem de sua santidade (veja Hb 12.5-11). Tal erro pode provocar uma ruína.
A felicidade, no sentido em que a definimos, será gozada no céu. Apocalipse 7.16-17 nos mostra isso. Quando formos glorificados com Cristo, nossa condição será de alegria consciente e deleite completo em tudo que nos cerca (o mais alto grau de felicidade), e não simplesmente de quieto contentamento com o modo como as coisas são (felicidade em seu grau mais baixo). Mas há um perigo. O céu é um estado de santidade que somente pessoas com gostos santos apreciarão e no qual somente pessoas de caráter santo podem entrar (Ap 21.27; 22.14ss). De acordo com isso, o propósito presente de Deus é operar santidade — isto é, a semelhança de Cristo — em nós, para nos adequar ao céu. É precisamente o interesse de Deus em nossa felicidade futura que o leva a concentrar-se aqui e agora em nos tornar santos, pois "sem santidade ninguém veráaDeus"(Hb 12.14).
A santidade não é um preço que pagamos para a salvação final; é, antes, a estrada pela qual nos aproximamos dela, e a santificação é o processo pelo qual Deus nos guia por essa estrada. O Novo Testamento nos mostra que na escola da santificação muitas modalidades de dor têm seu lugar — desconforto físico e mental, e pressão, desapontamento pessoal, restrição, mágoa e aflição. Deus usa essas coisas para ativar o poder sobrenatural que opera nos crentes (2Co 4.7-11); para substituir a autoconfiança com confiança total no Senhor que nos dá forças (1.8ss; 12.9s.);e para dar continuidade a seu trabalho santo de nos transformar daquilo que somos por natureza na semelhança moral de Jesus "de glória em glória" (2Co 3.18). Assim ele nos prepara para aquilo que já havia preparado para nós, confirmando a afirmação de Paulo de que "Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade ... para alcançardes a glória de nosso Senhor Jesus Cristo" (2Ts 2.13-14; cf.Ef 5.25-27; Tt2.11-14; 3.4-7).
Crianças que fazem o que querem e são constantemente protegidas de situações em que poderiam sentir-se magoadas, nós as descrevemos como crianças estragadas. Quando dizemos isso, estamos expressando que a paternidade superindulgente não só as deixa malcomportadas hoje como também não as prepara para as exigências morais da vida adulta amanhã — dois males pelo preço de um. Mas Deus, que tem sempre os olhos no amanhã enquanto trata conosco hoje, nunca estraga seus filhos, e o curso de treinamento em vida santificada em que nos matricula, e que dura a vida toda, propõe-nos desafios e testa-nos até o máximo repetidas vezes. Os hábitos de agir e reagir à semelhança de Cristo — em outras palavras, o fruto do Espírito: amor, alegria, paz, generosidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5.22s.) — ficam cada vez mais arraigados à medida que aprendemos a mantê-los através de experiências de dor e desagrado, que em retrospecto parecem ter sido o formão de Deus para esculpir nossas almas. A santificação é mais do que isso, mas não menos. "É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos)", escreve o autor de Hebreus. "Pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos" (Hb 12.7-8). Filhos bastardos reconhecidamente passam sem cuidados, mas para vocês que crêem, o escritor afirma, não será assim. Seu Pai celeste tem amor suficiente para instruí-los no viver santo. Apreciem o que ele está fazendo e estejam dispostos para as asperezas que o programa dele para vocês inclui.
Assim, visto que Deus realmente nos ama, qualquer forma da idéia de que ele deva ter a intenção de isentar-nos, ou então imediatamente livrar-nos, de todas as dificuldades que ameaçam — problemas de saúde, isolamento, família desfeita, falta de dinheiro, hostilidade, crueldade, ou o que quer que seja — precisa ser descartada como totalmente errada. Os crentes fiéis irão experimentar ajuda e livramento em tempos de angústia muitas e muitas vezes. Mas nossa vida não vai ser de bem-estar, conforto e prazer de fio a pavio. Serão abundantes os carrapichos debaixo da sela e os espinhos na cama. Ai do adepto da religião do “prazer materialista” que fizer vista grossa para esse fato.
Via: Josemar Bessa e Bereianos
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