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Qual a diferença entre acreditar na predestinação ou no livre-arbítrio? Muitas pessoas acreditam que não há diferença prática e que debater o assunto é uma especulação intelectual estéril, fútil e que desvia os cristãos de seus deveres de fé. Eu mesmo ouvi isso de professores de Teologia e colegas de seminário.
Nada poderia estar mais distante da verdade. Quer nos posicionemos de modo consciente ou não, acreditar na predestinação dos salvos ou na salvação pelo livre-arbítrio influencia a nossa evangelização, a nossa maneira de encarar as dificuldades da vida, de orar e até mesmo nossa concepção sobre Deus e o homem. Se os assuntos mais importantes da Teologia Cristã, aqueles que definem se uma igreja é ou não ortodoxa, são a teologia própria (estudo de Deus e Seus atributos) e a soteriologia (doutrinas da salvação), então a predestinação se reveste de uma importância enorme.
Sim, porque a predestinação é domínio da teologia propriamente dita, em seu sentido mais estrito. Se Deus predestina ou não pessoas à salvação ou ao inferno, isso afeta a forma como vemos o amor e a justiça divina. Mais importante: afeta como enxergamos a soberania de Deus e o uso de Sua onipotência. Deus exerce todo o Seu poder sobre a vontade dos homens (calvinismo) ou restringe essa ação para resguardar a liberdade humana (arminianismo)?
Por outro lado, se a predestinação existe, a soteriologia também se defronta com questões difíceis. Cristo morreu apenas pelos seus escolhidos (calvinismo) ou por todos os homens em geral (arminianismo)? A salvação individual é decidida antes dos tempos (calvinismo) ou no momento em que o ser humano se defronta com Deus (teísmo aberto, uma espécie de hiperarminianismo)? Se a predestinação existe, o predestinado não perde a salvação (calvinismo) ou pode perdê-la (arminianismo)?
Todas essas questões influenciam profundamente o dia-a-dia. Devido às fortes convicções na predestinação, homens como Jonathan Edwards e Charles Spurgeon não se preocuparam muito em agradar a ouvintes e concentraram seus ministérios na pregação da Palavra. Por outro lado, hoje em dia, igrejas que acreditam no livre-arbítrio têm se concentrado em pregar de modo agradável aos ouvintes, apostando em mensagens motivacionais, ambientes agradáveis e sermões que não espantem as pessoas. Quando um filho deixa a igreja, a mãe precisará buscar consolo, ou na idéia de que Deus é Senhor de todas as coisas ou na de que a liberdade humana poderá trazer de volta o rejeitado. O adolescente vai entrar na faculdade crendo no Deus que escreveu todos os seus dias antes que existissem ou acreditando que sua vida é um livro aberto, de final indefinido, aguardando que ele decida como a história vai terminar.
Espero que os exemplos acima mostrem a importância da discussão. Queria deixar aqui duas definições minhas para começar o debate:
Livre-arbítrio é a crença de que o homem é livre para se submeter ou rejeitar a Deus, sem qualquer tipo de ação divina sobre Sua vontade. Se ele será salvo ou não, a decisão final pertence a ele, que escolherá entre servir a Deus ou rejeitá-Lo. É o ponto de vista defendido no arminianismo.
Predestinação é a doutrina de que Deus escolheu, antes do início dos tempos, aqueles que seriam salvos. Deus age diretamente sobre a vontade de Seus escolhidos para levá-los a salvação. A decisão final sobre a redenção humana é de Deus, que decide quem Ele vai ou não salvar. É o ponto de vista defendido no calvinismo.
Qual o critério que pretendo usar? A Bíblia. E aqui, quero fazer um apelo. O critério último pelo qual devemos escolher a predestinação ou o livre-arbítrio não deve ser:
- A fé de quem nos levou a Cristo; - A confissão de fé de nossa igreja ou a opinião de teólogos;
- Os conceitos de bem e mal definidos na sociedade secular;
- Aquilo que nossa razão considera bom ou mau.
Apenas a Palavra de Deus deve prevalecer. É Deus quem diz o que é bom ou mau, não nós. Se nos atermos a isso, então será possível entender o que a Bíblia fala sobre o assunto.
Afinal, se as grandes correntes da cristandade chegaram a um acordo sobre a doutrina da Trindade, que é muito mais difícil e complexa, creio que é sim possível descobrir se a Bíblia é favorável ou não à predestinação.
Fonte: 5 Calvinistas
Quanto à importância de se debater este tema, “Predestinação X livre-arbítrio”, concordo plenamente contigo. Já vi dezenas de pessoas neutralizando (ou tentando neutralizar) debates relativos a temas bíblicos e/ou religiosos -- os quais, conquanto que fossem realizados de maneira sóbria e equilibrada, poderiam ser muito produtivos -- com aquele conhecido ditado: “futebol, política e religião não se discutem”. A minha mente sempre rejeitou a “lógica” (ou melhor, a falta de lógica) deste raciocínio. Todavia, as pessoas que o utilizam o fazem como se estivessem emitindo uma proposição irrefutável.
ResponderExcluirComo imaginar a existência bem sucedida do futebol na nossa cultura, sem discussões? E a política, como pensar o seu progresso, sem a sujeitarmos a debates sobre, entre outras coisas, ‘o que’, ‘como’ e ‘quanto fazer’? E, quanto aos temas religiosos, ora! a religião trata daquilo que há de mais importante em nosso ser: o nosso espírito (trata da nossa origem, destino e razão de existimos), sendo, portanto, inquestionável a necessidade de os (os temas religiosos) sujeitarmos a um debate objetivo, sincero e acima de tudo iluminado pelo Espírito Santo.
Que Deus esteja conosco, de forma a conduzir os nossos intelectos a uma postura sincera e receptiva diante dele! E que, assim, a atuação do Espírito Santo nos conduza aos profundos mistérios da revelação que vem do Pai!
Graça e paz!
Graça e paz Denilson.
ResponderExcluirNuma boa discussão muitas vezes pode nos levar a rever os nossos conceitos, por isso é sempre bom estarmos abertos a ela.
Fique na Paz!
Pr. Silas