Por Hélio
Uma das objeções mais formuladas por aqueles que combatem a doutrina da Trindade é que ela não tem embasamento bíblico, segundo eles alegam, daí a promoverem uma visão unicista da essência divina. A meu ver, há 3 abordagens para responder a esta objeção, sobre se a Bíblia dá ou não dá suporte à doutrina da Trindade (ou do Unicismo).
A primeira é que, conforme a multiplicidade de igrejas e dissensões prova por si só, a Bíblia dá margem não só à sã doutrina (que é objeto constante das cartas de Paulo a Timóteo - 1 Ti 1:3, 6:3; 2 Ti 1:13 ), como também a pequenas variações doutrinárias que não influem decisivamente no conjunto da obra redentora de Cristo (forma de batismo, guarda da Lei, dons espirituais, etc.).
A segunda é que esta multiplicidade de interpretações, principalmente com textos isolados de difícil explicação, dá também vazão às mais variadas aberrações doutrinárias, como se pode facilmente perceber. Por exemplo, os Testemunhas de Jeová dizem que Jesus não é Deus, os mórmons batizam pelos mortos e têm livros 'adicionais' à Bíblia, e por aí vai.
A terceira é a resposta, propriamente dita, à objeção: a Bíblia NÃO DÁ suporte à versão "mecânica" unicista da essência divina. E isto por razões relativamente muito simples, que passo a explicar:
A questão da doutrina da Trindade é central no cristianismo. Não é por outra razão que ela foi profundamente discutida na origem da Igreja Cristã. A primeira preocupação dos apóstolos e dos cristãos que os seguiram foi defender o fato de que Jesus é, de fato, Deus, ou seja, a doutrina da Encarnação. Não foi uma disputa fácil, pois o gnosticismo e o arianismo (as Testemunhas de Jeová são arianas, por exemplo) eram forças poderosas que ameaçavam minar as doutrinas básicas da Igreja Cristã. Após terem sido combatidas e vencidas, e a doutrina da Encarnação ter sido reconhecida como fundamental, os líderes da nascente Igreja Cristã (que ainda não era a Igreja Católica como a conhecemos hoje, temos que reforçar essa verdade), se depararam com a questão da Trindade, que, mesmo com todas as evidências bíblicas, era negada pela facção minoritária dos modalistas em geral (sabelianismo, monarquianismo, patripassianismo, subordinacionismo, etc.). De forma resumida, eles criam na Encarnação (razão pela qual – a princípio - não se misturaram com os arianos e gnósticos), mas afirmavam que não havia 3 Pessoas distintas - eterna e consubstancialmente coexistentes - no Deus Único cristão. Para eles, o Deus cristão é absolutamente Único, sem qualquer distinção de Pessoas, mas que se apresenta em manifestações ou modos (daí o 'modalismo') distintos.
Ora, nunca é demais insistir no argumento de que, se Deus é absolutamente Único, e não há nEle nenhuma distinção entre Pai, Filho e Espírito Santo, então o fato incontornável é que esse Deus absolutamente Único morreu absolutamente na cruz, e o mundo ficou sem Deus da sexta-feira da Paixão ao domingo da Ressurreição, o que é claramente absurdo. Por outro lado, se Jesus era apenas uma 'manifestação', uma espécie de 'extensão de Deus', como dizem os unicistas, então o fato é que não foi Jesus, 100% homem e 100% Deus, que morreu na cruz, mas uma espécie de 'espectro substituto' do sacrifício que Deus fez de SI MESMO pelos nossos pecados, conforme dizem, entre outros textos, Isaías 53 e Filipenses 2:
5 Tende em vós aquele sentimento que houve também em Cristo Jesus,
6 o qual, subsistindo em forma de Deus, não considerou o ser igual a Deus coisa a que se devia aferrar,
7 mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, tornando-se semelhante aos homens;
8 e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.
Um dos textos bíblicos mais profundos sobre esta questão está em Hebreus 9, que não por acaso começa - no seu v. 14 - a mostrar as 3 Pessoas coexistentes na Trindade operando conjunta e distintamente para a nossa salvação:
Heb 9:14 Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu a si mesmo imaculado a Deus, purificará as vossas consciências das obras mortas, para servirdes ao Deus vivo?
Heb 9:15 E por isso é Mediador de um novo testamento, para que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia debaixo do primeiro testamento, os chamados recebam a promessa da herança eterna.
Heb 9:16 Porque onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador.
Heb 9:17 Porque um testamento tem força onde houve morte; ou terá ele algum valor enquanto o testador vive?
Está claro que é necessária a morte do testador, e como o texto cristalinamente aponta, esse testador é o próprio Deus. Ou seja, a prevalecer o entendimento unicista, ou Deus morreu INTEIRAMENTE na cruz, ou quem morreu (Jesus) era apenas uma 'extensão' dEle, e nesse caso, podia ser qualquer outro ser humano, ou mesmo um anjo, já que a idéia (absurda) é exatamente essa de um sacrifício, digamos, 'menor'. Neste caso, portanto, NÃO HÁ SALVAÇÃO. Ou seja, mesmo que os unicistas fossem, a príncipio, defensores da doutrina da Encarnação, as suas idéias terminam levando, em última instância, à negação da própria doutrina da Encarnação !!!!
A doutrina da Trindade, ainda que inalcançável à razão (como sempre insisto) e às representações ideográficas (como a da ilustração acima), é a única que admite que, de fato, foi Deus quem morreu na cruz, conforme predito pelos profetas e confirmado pelos apóstolos. Naquela cruz estava Jesus Cristo, 100% Deus e 100% homem, morrendo pelos nossos pecados, já que era impossível ao homem salvar-se a si mesmo, e mesmo assim o mundo não ficou sem Deus enquanto Jesus desceu à sepultura.
Foi por esta razão que os pais da Igreja primitiva não contemporizaram com a tese unicista, porque sabiam que, a prevalecer essa idéia, a salvação de Cristo Jesus estaria ANULADA, pelas razões que já comentei anteriormente. Não foi por má vontade, por dificuldade de diálogo, por uma cosmovisão mais ampla, por vontade de falar bonito, que a doutrina da Trindade foi defendida pela Igreja nascente e prevalece até hoje, mas por absoluta necessidade, por ser a doutrina da Trindade FUNDAMENTAL para explicar a SALVAÇÃO, ou seja, que o mundo não ficou sem Deus durante a paixão, crucificação e morte de Cristo, e que foi Deus, de fato, quem morreu oferecendo-se a Si mesmo como sacrifício pelos nossos pecados. É exatamente esta salvação que não existiria, se prevalecesse a idéia unicista.
O concílio de Nicéia, em 325 d.C., apenas oficializou o que JÁ estava nas Escrituras, e representava aquilo que a imensa maioria da Igreja JÁ cria nos 3 séculos anteriores, e felizmente crê até hoje. Os unicistas, espertamente, sabendo que é 'bonito', entre os evangélicos, falar mal dos católicos romanos, dizem que "foi a Igreja Católica que, atendendo às ordens de Constantino, "impôs" a doutrina da Trindade", o que é uma mentira histórica, por duas razões básicas:
1) A Igreja Católica, na época, era o que o nome 'católico' em grego significa exatamente: uma igreja 'universal'. Não havia ainda, como os católicos afirmam, uma supremacia do bispo de Roma, o 'papa', tanto que o 'papa' Silvestre I, inimigo de Constantino, nem compareceu ao Concílio de Nicéia. A Igreja de então era universal, em que os principais bispos (ou 'patriarcas') eram os de Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. A supremacia do bispo de Roma, o 'papa', só veio a se estabelecer mais fortemente a partir do século VI, e somente sobre a ala ocidental da Igreja, já que a ala oriental (modernamente, os 'ortodoxos'), NUNCA a aceitou e continuou sendo governada pelos 'patriarcas' principais.
2) Constantino, que, segundo os unicistas, teria imposto a doutrina da Trindade, morreu ariano. Tecnicamente falando, ele morreu como uma espécie de Testemunha de Jeová do séc. IV. Ora, como é possível que ele 'impusesse' a doutrina da Trindade no Concílio de Nicéia se ele nem cria que Jesus é, de fato, TOTAL, COEXISTENTE e COMPLETAMENTE Deus? Logo, o Concílio de Nicéia decidiu algo contrário ao que o próprio Constantino cria. Como é que alguém impõe algo no que não crê?
Portanto, feitos esses esclarecimentos, não há como aceitar as teses unicistas, não há como fazer um 'acordo' delas com a doutrina da Trindade, porque elas anulam o que os cristãos têm de mais valioso, que é a SALVAÇÃO. A doutrina da Trindade foi uma formulação teológica fundada nas Escrituras que a Igreja Cristã, então nascente, encontrou para resolver alguns problemas lógicos que a idéia da Unicidade de Deus apresenta e, dentre os unicistas, NENHUM deles se dispõe a enfrentá-los.
A doutrina da Trindade, ainda que inalcançável à razão (como sempre insisto) e às representações ideográficas (como a da ilustração acima), é a única que admite que, de fato, foi Deus quem morreu na cruz, conforme predito pelos profetas e confirmado pelos apóstolos. Naquela cruz estava Jesus Cristo, 100% Deus e 100% homem, morrendo pelos nossos pecados, já que era impossível ao homem salvar-se a si mesmo, e mesmo assim o mundo não ficou sem Deus enquanto Jesus desceu à sepultura.
Foi por esta razão que os pais da Igreja primitiva não contemporizaram com a tese unicista, porque sabiam que, a prevalecer essa idéia, a salvação de Cristo Jesus estaria ANULADA, pelas razões que já comentei anteriormente. Não foi por má vontade, por dificuldade de diálogo, por uma cosmovisão mais ampla, por vontade de falar bonito, que a doutrina da Trindade foi defendida pela Igreja nascente e prevalece até hoje, mas por absoluta necessidade, por ser a doutrina da Trindade FUNDAMENTAL para explicar a SALVAÇÃO, ou seja, que o mundo não ficou sem Deus durante a paixão, crucificação e morte de Cristo, e que foi Deus, de fato, quem morreu oferecendo-se a Si mesmo como sacrifício pelos nossos pecados. É exatamente esta salvação que não existiria, se prevalecesse a idéia unicista.
O concílio de Nicéia, em 325 d.C., apenas oficializou o que JÁ estava nas Escrituras, e representava aquilo que a imensa maioria da Igreja JÁ cria nos 3 séculos anteriores, e felizmente crê até hoje. Os unicistas, espertamente, sabendo que é 'bonito', entre os evangélicos, falar mal dos católicos romanos, dizem que "foi a Igreja Católica que, atendendo às ordens de Constantino, "impôs" a doutrina da Trindade", o que é uma mentira histórica, por duas razões básicas:
1) A Igreja Católica, na época, era o que o nome 'católico' em grego significa exatamente: uma igreja 'universal'. Não havia ainda, como os católicos afirmam, uma supremacia do bispo de Roma, o 'papa', tanto que o 'papa' Silvestre I, inimigo de Constantino, nem compareceu ao Concílio de Nicéia. A Igreja de então era universal, em que os principais bispos (ou 'patriarcas') eram os de Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém. A supremacia do bispo de Roma, o 'papa', só veio a se estabelecer mais fortemente a partir do século VI, e somente sobre a ala ocidental da Igreja, já que a ala oriental (modernamente, os 'ortodoxos'), NUNCA a aceitou e continuou sendo governada pelos 'patriarcas' principais.
2) Constantino, que, segundo os unicistas, teria imposto a doutrina da Trindade, morreu ariano. Tecnicamente falando, ele morreu como uma espécie de Testemunha de Jeová do séc. IV. Ora, como é possível que ele 'impusesse' a doutrina da Trindade no Concílio de Nicéia se ele nem cria que Jesus é, de fato, TOTAL, COEXISTENTE e COMPLETAMENTE Deus? Logo, o Concílio de Nicéia decidiu algo contrário ao que o próprio Constantino cria. Como é que alguém impõe algo no que não crê?
Portanto, feitos esses esclarecimentos, não há como aceitar as teses unicistas, não há como fazer um 'acordo' delas com a doutrina da Trindade, porque elas anulam o que os cristãos têm de mais valioso, que é a SALVAÇÃO. A doutrina da Trindade foi uma formulação teológica fundada nas Escrituras que a Igreja Cristã, então nascente, encontrou para resolver alguns problemas lógicos que a idéia da Unicidade de Deus apresenta e, dentre os unicistas, NENHUM deles se dispõe a enfrentá-los.
É necessário retornar à polêmica do arianismo para verificar como a heresia ariana caminha de braços dados com a doutrina unicista. Isto porque negar a Trindade significa também negar a Imutabilidade de Deus e a própria Encarnação. E é este exatamente o ponto central do arianismo, heresia que Ário defendeu no século III. Ário dizia que o Verbo (Jesus) era, de fato, pré-existente à criação, mas que Ele havia sido gerado em algum ponto do tempo, e, portanto, não era Deus, mas uma espécie de “ser divino”, ou "sabedoria" divina, como alguns arianos modernos afirmam. Ora, admitir que Jesus (o Verbo) foi gerado num determinado ponto do tempo que não a eternidade, significa dizer que Ele é apenas uma criatura, não Deus. Sendo uma criatura, e não Deus, Jesus seria então, mutável. E Deus, como bem sabemos, é IMUTÁVEL. Observem agora como a sutileza do erro opera: se o Filho foi criado num determinado ponto do tempo (que não a eternidade), então houve um tempo em que Deus Pai não era Pai, mas passou a sê-lo. Logo, DEUS SERIA MUTÁVEL !!! E, sendo Deus mutável, esta idéia termina por anular o próprio Deus, já que ele deixa de ser IMUTÁVEL como sempre afirmamos que era, é e será, e como Ele próprio se apresenta na Bíblia ("o Pai das luzes, em quem não há mudança nem sombra de variação" - Tiago 1:17). E se Jesus é apenas uma criatura, não foi Deus quem morreu na cruz, logo não há como o sacrifício de Jesus possa salvar alguém. Isto também anula a salvação.
Logo, de uma tacada só, o arianismo, aqui disfarçado de unicismo, anula a salvação e nega a própria existência de Deus. É por isso que se diz que Jesus foi gerado eternamente, e a idéia de eternidade é algo que a mente humana não consegue alcançar. Se Jesus não tivesse sido gerado eternamente, Deus teria se tornado Pai no decurso do tempo, e isto quebraria a sua condição de imutável, o que, em última instância, anula a existência de Deus e torna vã a fé.
Fonte: O contorno da sombra
Sim, caro Pr. Silas!
ResponderExcluirEm resposta ao seu comentário no meu blog, o conjunto Voz da Verdade é unicista. Confira:
http://www.cacp.org.br/midia/artigo.aspx?lng=PT-BR&article=1093&menu=16&submenu=6
é sempre bom lembrar que, dada a semelhança dos nomes, o Voz da Verdade não deve ser confundido com o Jovens da Verdade:
http://www.jovensdaverdade.com.br/
Graça e paz!
Fique à vontade para deletar este comentário, ok!
Abraço!
Parabéns pela postagem, nos ajuda a refletir e considerar pntos de dificil de argumentação referentes a Tindade.
ResponderExcluir"no batismo de Jesus está descrito, claramente a ação dos Três no ato. Jesus sendo batizado... à voz de Deus dizendo, Este éo meu filho amado... E o Espirito Santo descendo em forma corporea de uma pomba".
Excelentes esclarecimentos. Graça e Paz.
ResponderExcluirGraça e paz Hélio.
ResponderExcluirEu resolvi não deletar o seu comentário para que outras pessoas possam saber que o Grupo Voz da Verdade é unicista, inclusive no site deles há um estudo sobre esse assunto.
Muito obrigado pelo esclarecimento.
Fique na Paz!
Pr. Silas
Graça e paz Ivan.
ResponderExcluirObrigado pela visita e pelo comentário.
É bom saber que essa postagem o abençoou.
Fique na Paz!
Pr. Silas
Graça e paz Gilson.
ResponderExcluirEsse assunto tem sido distorcido por muitas pessoas por falta de entendimento, mas é bom saber que essa postagem lhe trouxe ainda mais esclarecimento.
Fique na Paz!
Pr. Silas
Parabéns pela postagem e pelo blog
ResponderExcluirGostaria de apenas saber a fonte histórica para fundamentarmos que constantino morreu ariano, se possível.
Abraços
Graça e paz Dumane.
ResponderExcluirObrigado pela visita e comentário, mas respondendo a sua pergunta talvez o melhor lugar para você encontrar a resposta para seu questionamneto seja no site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Constantino_I. Esse site esclarece muitas coisas e responde a sua pergunta, dê uma olhada nele e qualquer dúvida me escreva.
Fique na Paz!
Pr. Silas