terça-feira, 2 de abril de 2013

C. S. Lewis, Pilatos e um “evangelho” de tolos!



Por Josemar Bessa

Pilatos era um homem pragmático. Ele se tornou peça importante no desenrolar do drama da redenção exatamente por se parecer com nossa sociedade, nossa cultura, com as perguntas que nossa geração tem feito, com seus objetivos... e infelizmente, com a motivação da pregação de nossos dias e com a motivação dos ouvintes de nossos dias.

Pilatos estava diante da Verdade encarnada... mas tudo que ele queria saber era... “como essa situação poderá ser vantajosa para mim? Que tipo de benefício pessoal eu posso tirar disso tudo?” A Verdade será útil para mim?

Num ensaio famoso, C. S. Lewis diz que foi convidado a escrever sobre um tema a ele proposto. O tema era: “Você não pode ter uma vida boa sem crer no cristianismo?”

Esse tipo de tema desnuda toda a mentalidade de nossa geração, seu interesse, seu propósito, seu objetivo na vida. C. S. Lewis diz que antes de começar a escrever a respeito tinha um comentário mais importante e imediato a fazer sobre a pergunta. Ele diz que esse tipo de pergunta, que é tão comum em nossa geração, e feito por pessoas que antes de perguntar disseram a si mesmas: “Eu não me importo se o cristianismo é de fato verdade ou não. Eu não estou interessado em saber se o Deus revelado na Bíblia é como ela diz que é... tudo que me interessa é levar uma boa vida. Eu quero escolher uma crença, não porque ela seja a verdade ou não, mas se ela vai ser útil para minha vida...”

Que tipo de simpatia, diz C. S. Lewis, podemos ter com este estado de espírito... uma das coisas que difere o homem dos animais é que ele pode saber coisas... descobrir o que é a realidade, simplesmente – se não tiver motivo mais nobre – por uma questão de saber. Quando este desejo é completamente extinguido, o homem se tornou menos humano.

C. S. Lewis faz o link dessa abordagem do tipo: “Isso será útil para mim?” – com a pregação do evangelho que na verdade é mera pregação do pragmatismo. Ele diz que essa pergunta é feita constantemente a cristãos por causa de pregadores tolos que sempre pregam a verdade bíblica nos termos de como o cristianismo vai ajudar você e como ele é bom para a sociedade, as desigualdades... o que levou todos esquecerem que o cristianismo não é um mero medicamento patenteado. O cristianismo afirma fatos relacionados a vida agora e a vida para sempre. Então, se o cristianismo não é verdadeiro, crer nele será perda total de tempo, ainda que você achasse alguma utilidade em tal crença. Agora, se ele é a Verdade, então não crer nele será fatal, ainda que neste instante você não encontre utilidade... A questão da utilidade surge na mente que vê as coisas apenas como uma ferramenta para deixar a vida mais confortável ou não. Essa é a tolice da mente pragmática ao olhar a Verdade, e essa é a tolice ainda maior dos pregadores que nisso baseiam sua pregação. Ela é, no ponto de partida, uma falsificação total do que é a verdadeira pregação.

Voltemos a Pilatos... Ele era um homem de sabedoria mundana pragmática – toda questão era de como as coisas lhe seriam úteis. Não é a abordagem da maioria das pregações e essa não é a busca da maioria das pessoas que chegam ao evangelho? Pilatos, como a maioria das pessoas, se veem como realistas... mas a ironia disso tudo é que quando você está completamente errado, você está completamente fora da realidade.

Pilatos via Jesus como um peão no jogo da vida. Um peão que podia ser usado em seu benefício, algo útil... Não é essa a motivação da pregação contemporânea. “Olhe o que o evangelho pode fazer por você!” Não se trata mais de : “Olhem, isso é a verdade!” Pilatos era pragmático e só podia ver assim, ele estava num jogo de xadrez político. Ele usaria Jesus da maneira mais útil possível. Esse é o grande erro da maioria das pessoas que se dizem cristãs em nossa geração... como isso é útil para mim? Como é útil para a sociedade? Que tipos de benefícios sociais isso trará?... e por aí vai no caminho do pragmatismo que vê o Cristo, o cristianismo..., como dissemos, como mero remédio patenteado e não como a Verdade absoluta sobre Deus e o homem. Uns abraçados a “teologia da prosperidade”, outros ao evangelho social... mas todos com a pergunta: “A Verdade será útil para mim? Será útil para a sociedade?...”

O que Pilatos não percebia era que Jesus não era um peão no “jogo de utilidade” que ele estava jogando... Pilatos sim, era um peão descartável, Jesus não era um peão, era o Rei. Quando Jesus disse: “...Meu reino não é deste mundo... para isto vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz”João 18.38 – Numa mente pragmática como a de Pilatos, um reino que não é deste mundo não pode ser útil... e a verdade não lhe interessa, porque o interesse de Pilatos é o interesse de nossa cultura e de muitos que estão na igreja pregando e ouvindo: “Como isso pode ser útil a mim? Como pode ser útil a sociedade?...”

A pergunta de Pilatos revela o desinteresse pela verdade num coração pragmático. Ele pergunta: “Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir com os judeus...” – Bem pós-moderno! “O que é a verdade?” – E como um bom pós-moderno, ele nem esperou a resposta, não conseguia ver nada de útil para sua carreira na resposta que Jesus poderia dar.

A abordagem do tipo: “como essa situação poderá ser vantajosa para mim? Que tipo de benefício pessoal eu posso tirar disso tudo?” “A Verdade será útil para mim? Útil para os problemas sociais? Útil...” – Mostra que a abordagem do mundo, de nossa geração e cultura, dos pregadores e da maioria dos que se dizem cristãos é exatamente a de Pilatos, a questão não é de forma alguma a verdade... mas o evangelho não é um remédio patenteado e útil tendo como centro o que o homem acha ser necessário, útil e relevante para a sua vida... é a Verdade de Deus.

Fonte: Josemar Bessa

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