Por Josemar Bessa
Pilatos era um homem
pragmático. Ele se tornou peça importante no desenrolar do drama da redenção
exatamente por se parecer com nossa sociedade, nossa cultura, com as perguntas
que nossa geração tem feito, com seus objetivos... e infelizmente, com a motivação
da pregação de nossos dias e com a motivação dos ouvintes de nossos dias.
Pilatos estava diante
da Verdade encarnada... mas tudo que ele queria saber era... “como essa situação poderá ser vantajosa
para mim? Que tipo de benefício pessoal eu posso tirar disso tudo?” A
Verdade será útil para mim?
Num ensaio famoso, C.
S. Lewis diz que foi convidado a escrever sobre um tema a ele proposto. O tema
era: “Você não pode ter uma vida boa sem crer no cristianismo?”
Esse tipo de tema
desnuda toda a mentalidade de nossa geração, seu interesse, seu propósito, seu
objetivo na vida. C. S. Lewis diz que antes de começar a escrever a respeito
tinha um comentário mais importante e imediato a fazer sobre a pergunta. Ele
diz que esse tipo de pergunta, que é tão comum em nossa geração, e feito por
pessoas que antes de perguntar disseram a si mesmas: “Eu não me importo se o
cristianismo é de fato verdade ou não. Eu não estou interessado em saber se o
Deus revelado na Bíblia é como ela diz que é... tudo que me interessa é levar uma boa vida. Eu quero escolher uma
crença, não porque ela seja a verdade ou não, mas se ela vai ser útil para
minha vida...”
Que tipo de simpatia,
diz C. S. Lewis, podemos ter com este estado de espírito... uma das coisas que
difere o homem dos animais é que ele pode saber coisas... descobrir o que é a
realidade, simplesmente – se não tiver motivo mais nobre – por uma questão de
saber. Quando este desejo é completamente extinguido, o homem se tornou menos
humano.
C. S. Lewis faz o link
dessa abordagem do tipo: “Isso será útil para mim?” – com a pregação do
evangelho que na verdade é mera pregação do pragmatismo. Ele diz que essa
pergunta é feita constantemente a cristãos por causa de pregadores tolos que
sempre pregam a verdade bíblica nos termos de como o cristianismo vai ajudar
você e como ele é bom para a sociedade, as desigualdades... o que levou todos
esquecerem que o cristianismo não é um mero medicamento patenteado. O
cristianismo afirma fatos relacionados a vida agora e a vida para sempre. Então,
se o cristianismo não é verdadeiro, crer nele será perda total de tempo, ainda
que você achasse alguma utilidade em tal crença. Agora, se ele é a Verdade,
então não crer nele será fatal, ainda que neste instante você não encontre
utilidade... A questão da utilidade surge na mente que vê as coisas apenas como
uma ferramenta para deixar a vida mais confortável ou não. Essa é a tolice da
mente pragmática ao olhar a Verdade, e essa é a tolice ainda maior dos
pregadores que nisso baseiam sua pregação. Ela é, no ponto de partida, uma
falsificação total do que é a verdadeira pregação.
Voltemos a Pilatos...
Ele era um homem de sabedoria mundana pragmática – toda questão era de como as
coisas lhe seriam úteis. Não é a abordagem da maioria das pregações e essa não
é a busca da maioria das pessoas que chegam ao evangelho? Pilatos, como a
maioria das pessoas, se veem como realistas... mas a ironia disso tudo é que
quando você está completamente errado, você está completamente fora da
realidade.
Pilatos via Jesus como
um peão no jogo da vida. Um peão que podia ser usado em seu benefício, algo
útil... Não é essa a motivação da pregação contemporânea. “Olhe o que o
evangelho pode fazer por você!” Não se trata mais de : “Olhem, isso é a
verdade!” Pilatos era pragmático e só podia ver assim, ele estava num jogo de
xadrez político. Ele usaria Jesus da maneira mais útil possível. Esse é o
grande erro da maioria das pessoas que se dizem cristãs em nossa geração...
como isso é útil para mim? Como é útil para a sociedade? Que tipos de
benefícios sociais isso trará?... e por aí vai no caminho do pragmatismo que vê
o Cristo, o cristianismo..., como dissemos, como mero remédio patenteado e não
como a Verdade absoluta sobre Deus e o homem. Uns abraçados a “teologia da
prosperidade”, outros ao evangelho social... mas todos com a pergunta: “A
Verdade será útil para mim? Será útil para a sociedade?...”
O que Pilatos não
percebia era que Jesus não era um peão no “jogo
de utilidade” que ele estava jogando... Pilatos sim, era um peão
descartável, Jesus não era um peão, era o Rei. Quando Jesus disse: “...Meu reino não é deste mundo... para
isto vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da
verdade ouve a minha voz” – João
18.38 – Numa mente pragmática como a de Pilatos, um reino que não é deste
mundo não pode ser útil... e a verdade não lhe interessa, porque o interesse de
Pilatos é o interesse de nossa cultura e de muitos que estão na igreja pregando
e ouvindo: “Como isso pode ser útil a mim? Como pode ser útil a sociedade?...”
A pergunta de Pilatos
revela o desinteresse pela verdade num coração pragmático. Ele pergunta: “Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou
a ir com os judeus...” – Bem pós-moderno! “O que é a verdade?” – E como um bom pós-moderno, ele nem esperou a
resposta, não conseguia ver nada de útil para sua carreira na resposta que
Jesus poderia dar.
A abordagem do tipo: “como essa situação poderá ser vantajosa
para mim? Que tipo de benefício pessoal eu posso tirar disso tudo?” “A Verdade
será útil para mim? Útil para os problemas sociais? Útil...” – Mostra que a
abordagem do mundo, de nossa geração e cultura, dos pregadores e da maioria dos
que se dizem cristãos é exatamente a de Pilatos, a questão não é de forma
alguma a verdade... mas o evangelho não é um remédio patenteado e útil tendo
como centro o que o homem acha ser necessário, útil e relevante para a sua
vida... é a Verdade de Deus.
Fonte: Josemar Bessa
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