Por Johnny Bernardo
Trazidos da África para substituírem os
índios no trabalho de mão de obra escrava, os negros que aqui chegaram
tiveram de se adaptar à religião dos senhores escravistas, temerosos
pelas constantes punições decorrentes do Tribunal da Inquisição. Em todo
o país, mas particularmente na Bahia, os negros adoradores dos orixás
se viram obrigados a adaptarem suas crenças e nomenclaturas às crenças e
santos católicos. O sincretismo religioso foi a saída encontrada para a
manutenção de suas comunidades e devoção religiosa – cada um dos 16
orixás cultuados pelos africanos de origem iorubá, ganharam
correspondentes no Catolicismo Romano. Dessa forma, Ogum, tido como
orixá guerreiro, é associado a São Jorge, e Iansã, deusa dos ventos, a
Santa Bárbara.
Tal
sincretismo religioso – já antes verificável nos primórdios da Igreja
Católica, em Roma e a partir de 385 d.C.– se deu no campo das crenças,
da transposição de liturgias e de ídolos pagãos. Atualmente, no entanto,
um novo tipo de transposição vem ocorrendo particularmente nos países
de maioria cristã. A busca por aceitação social, comodidade,
compatibilidade etc. vem norteando o surgimento de novas igrejas
(inclusivas?) e tendências dentro de denominações protestantes e também
católicas. São praticamente os mesmos objetivos dos negros africanos e
dos pagãos europeus do período da conversão compulsiva, mas com uma
variante: o foco hoje é o adaptar da fé a um estilo de vida, de opção
sexual e de consumo. A ordem natural – pregada pela maioria das igrejas
cristãs – é de que o meio tem de se adaptar a fé e não o inverso.
Vivemos um período de pós-modernidade,
de contestação ao modelo tradicional de família, de conduta social.
Progressistas e outros mais sugerem um novo modelo de sociedade,
caracterizada por uma crescente liberalidade sexual, de opinião e quebra
de outros valores tidos como fundamentais da humanidade. Há uma
preocupação, contextualizada pela eleição do novo papa, quanto à
preservação dos valores morais e a integração dos grupos sociais ao
sagrado. O homossexualismo é um dos focos de preocupação, por conta da
tentativa de aceitabilidade social. Para tal aceitabilidade social –
acreditam alguns grupos de homossexuais -, o casamento cível, a adoção
de crianças e o desenvolvimento de uma prática religiosa qualquer são
elementos vitais. Há, portanto, uma tentativa de enquadramento da
sociedade ao seu estilo de vida.
Neste contexto, a religião também deve
ser adaptada, mesmo com uns poucos arranjos doutrinários. As igrejas
inclusivas – das quais a Igreja da Comunidade Metropolitana, a Igreja
Cristã Contemporânea e a Comunidade Cristã Refúgio destacam-se no
cenário religioso brasileiro – propõem a inserção de homossexuais no
universo evangélico, citando a Bíblia como “favorável” ao
homossexualismo. A tentativa de adaptação da fé ao meio é nítida com a
publicação, por Gladstone, do livro A Bíblia sem preconceito. Fundador
da Igreja Cristã Metropolitana (2006), o carioca Marcos Gladstone
acredita ser o homossexualismo uma prática natural e diz ter como
principal objetivo auxiliar homossexuais vítimas de preconceito nas
igrejas evangélicas.
Embora diferente, a fé adaptada ao meio é
uma prática cada vez mais comum em igrejas neopentecostais, a exemplo
da Igreja Universal, da Renascer em Cristo, da Bola de Neve e da Sara
Nossa Terra. Se na Igreja Universal há uma tentativa de adaptação da fé
ao estilo de vida consumista de seus fieis, na Renascer, na Bola de Neve
e na Sara Nossa Terra há uma estratégia no sentido de acomodação de
seus membros, com a reencenação do estilo de vida secular. Dessa
maneira, o púlpito ganha
a forma de uma prancha de surfe, a igreja é usada como pista de dança,
de lutas de MMA e disputas de skate. Há uma tentativa de adaptação da fé
ao meio, uma espécie de contextualização da mensagem bíblica com foco
em grupos específicos, como surfistas, skatistas, funkeiros etc. A
estratégia é vista com preocupação por outras denominações evangélicas,
que veem no modelo uma distorção da liturgia bíblica e uma
superficialidade da vivência cristã.
Fonte: NAPEC
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