quinta-feira, 30 de abril de 2009

ADORANDO O VERDADEIRO DEUS

 
Por Erwin Lutzer

Quando Josafá percebeu que uma coalizão de exércitos superava em muito suas tropas, descobriu que sua esperança só poderia ser depositada em Deus. Em meio a grande desespero, orou dizendo: “Ó nosso Deus, não irás tu julgá-los? Pois não temos forças para enfrentar esse exército imenso que vem nos atacar. Não sabemos o que fazer, mas os nossos olhos se voltam para ti” (2Cr 20.12). Esse homem sabia que nossa maior necessidade é sempre olhar para Deus. Quando mais clara for nossa visão a respeito dEle, maior será nossa motivação para confiar, obedecer e adorar. A.W. Tozer estava certo quando disse que aquilo que acreditamos sobre Deus é a coisa mais importante sobre nós mesmos.

Mas em qual Deus devemos acreditar?

Embora as pesquisas indiquem que a maioria das pessoas acredita em Deus, não é exatamente o Deus da Bíblia que conhecem. De acordo com o jornalista Chris Stamper, essa deidade “se parece cada vez menos com o Deus verdadeiro, pois se aproxima cada vez mais da personagem principal do evangelho self-service da lanchonete pós-moderna”. Essa geração simplesmente eliminou a idéia da crença em uma deidade transcendente, capaz de mexer com nossa vida profundamente, reorganizar nossas prioridades e forçar-nos a lidar com o temível conceito de pecado.

Em vez disso, nossa geração prefere satisfazer suas necessidades espirituais indo às compras em uma busca de uma fé que possua fragmentos do cristianismo misturado com cientologia, budismo e qualquer noção derivada da “experiência pessoal”. Desse modo, embora uma imensa quantidade de pessoas continue a dizer que acredita em Deus, sua concepção de Deus é tão diversa quanto os itens que podem ser encontrados em um shopping center. Nietzsche estava certo: logo que Deus fosse declarado morto, uma “chuva de deuses” se seguiria, e cada pessoa adoraria o deus de sua escolha.

Em círculos acadêmicos mais liberais viceja o pós-modernismo, segundo o qual o conceito de Deus é na verdade uma construção social. Esse conceito afirma que nenhuma realidade exterior pode determinar a noção de Deus, pois cada indivíduo ou grupo de pessoas decide qual concepção adotar. O fato é que, para eles, não existe verdade, religiosa ou não, que devas ser descoberta: a verdade deve ser simplesmente “criada”. A sociedade contemporânea não aceita nenhuma alegação quanto à existência da razão objetiva, declarando pelo contrário, que “tudo o que existe é o que está em minha mente; minhas idéias são ‘verdadeiras’ simplesmente porque eu as concebo”.

Estas tendências são compreensíveis em nosso momento cultural. O mais lamentável é que estas crenças distorcidas sobre Deus também podem ser encontradas na igreja. A grande visão de Deus, o legado dos autores bíblicos, foi, em grande parte, perdida. Essa visão deu lugar à ênfase na “percepção das necessidades” e na “saúde e riqueza”. Pior do que isso é vermos algumas pessoas que ainda querem ser reconhecidas como evangélicas negando que Deus conheça o futuro ou que devamos ser salvos apenas pela fé em Cristo. Muitos freqüentadores-de-igrejas extraem sua compreensão de Deus tanto da cultura popular quanto das Escrituras. Não rejeitam o cristianismo abertamente, mas o filtram para que se encaixe no pluralismo da religião do “sinta-se bem”, muito difundida nos dias de hoje.

“Resumindo”, escreve Os Guinnes, “um dos males de nossa época é termos corpos esbeltos, mas mentes flácidas e almas sedentárias. Desse modo, como o preguiçoso que cochila depois do almoço e reluta em levantar-se para atender ao telefone, vemo-nos pouco inclinados a atender ao desafio de estar acima de nossa geração”. Se a igreja pudesse ser despertada para ouvir a voz de Deus, seria muito provável que nossa tolerante cultura se levantasse e desse uma segunda olhada em sua enfermidade moral e espiritual. Mas isso deve se iniciar com pessoas como nós dispostas a se voltar para o Deus das Escrituras, em vez de ser cooptadas pelo que C.S. Lewis chamou de “cristianismo e água”, a visão segundo a qual realmente existe um bom Deus lá no céu, mas não precisamos nos preocupar com doutrinas complicadas como pecado, inferno e redenção.

Afirmo mais uma vez que as mentiras aqui expostas estão cada vez mais presentes não apenas na cultura popular, mas também na própria igreja. Por isso estou firmado em três convicções:

Primeiramente, devemos obter conhecimento de Deus apenas a partir da Bíblia e não a partir de nossas experiências e preferências pessoais.

Naturalmente, não acho que seja possível nos isentarmos totalmente das influencias culturais, mas, à medida do possível, devemos perguntar o que a Bíblia diz, e não o que queremos que ela diga. Logo descobriremos que o que o Deus da Bíblia é profundamente diferente de outras divindades. Esse Deus coloca-se à parte da mais intrincada deidade.

Tal como todos nós, enfrento o perigo da idolatria, ou seja, a tentação de fabricar um Deus baseado em minha inclinação e experiência. Cientistas sociais dizem que há fortes evidencias de que cada cultura cria os próprios deuses; aliás, tais deuses não podem na maioria dos casos, ser separados da cultura onde são adorados. Povos ligados à agricultura desenvolvem deuses a partir do sol e da chuva; culturas ligadas ao mar criam um deus mar e lua. Os ocidentais, de modo geral, obcecados pelo consumismo e pelo prazer, criam um deus que é tolerante com nossos estilos de vida, que nos deixa estar no controle e que serve principalmente para nos ajudar a alcançar o máximo do nosso potencial – um Deus “sob medida” para nós.

Creio que ninguém ousaria criar a idéia do Deus santo e transcendente da Bíblia. Esse Soberano põe à prova nossos pensamentos mais ocultos, pede que nos arrependamos e exige adoração que põe fim a qualquer pensamento de auto-engrandecimento. Nossa tarefa é compreendê-lo da maneira pela qual ele optou para se revelar a nós, não do modo que nós achamos que ele seja.

Minha segunda convicção é que, quanto mais claramente virmos a Deus, mais claramente veremos a nós mesmos.

Calvino estava certo quando disse que nenhum homem pode conhecer a si mesmo sem que primeiramente conheça a Deus. Na presença do Todo Poderoso, a vara com a qual medimos nossa bondade é finalmente revelada. Logo, devemos rapidamente confessar, como fizeram os santos antes de nós: “Ai de mim! Estou perdido! Pois sou um homem de lábios impuros e vivo no meio de um povo de lábios impuros; os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!” (Is 6.5). Felizmente Deus não nos deixa “perdidos”, mas estende a nós a cura de sua amorosa graça e de sua misericórdia.

Equipados com o conhecimento de quem somos, estaremos bem mais preparados para ordenar nossa vida de acordo com os valores eternos. A inquietação interior dará lugar à paz de saber que pelo menos descobrimos a razão de termos sido criados. Nossa busca por Deus afetará profundamente todos os aspectos de nossa vida. Olhemos nosso viver, até mesmo para as tragédias, com a fé de Josafá, que confessou: “nossos olhos se voltam para ti”.

Em terceiro lugar, quanto melhor conhecermos a Deus, mais intensamente o adoraremos.

Quando Jó soube que seus dez filhos haviam sido mortos em uma tempestade, voltou-se para Deus e o adorou. Perceba que, naquele ponto de sua jornada espiritual, não tinha idéia do que havia acontecido. Contudo, lemos:

Ao ouvir isso, Jó levantou-se, rasgou o manto e rapou a cabeça. Então prostrou-se, rosto em terra, em adoração, e disse:”Saí nu do ventre da minha mãe, e nu partirei! O SENHOR deu, o SENHOR o levou; louvado seja o nome do Senhor” (Jó 1.20,21).

Jó aprendeu a adorar a Deus mesmo se não recebesse explicações. Mesmo sem ser capaz de penetrar a mente de Deus e sem estar inteirado de todos os detalhes dos propósitos ocultos do Todo-Poderoso, Jó sabia que seu lugar era diante do Deus em quem confiava.

Concordo com John Stott quando diz que “existe alguma coisa fundamentalmente errada quando temos um interesse em Deus puramente acadêmico. Deus não é um objeto possível de observação científica e de avaliação fria, crítica e isenta. Não, o verdadeiro conhecimento de Deus sempre nos levará à adoração [...] Nosso lugar é diante dele, prostrados em adoração”.

Oro para que você seja transformado, da mesma maneira que eu fui, ao contemplar nosso grande e misericordioso Deus.

Extraído do prefácio do livro 10 mentiras sobre Deus de Erwin Lutzer.

Editora Vida, 1º ed. Fevereiro de 2003.

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