Por Roberto Aguiar
Ao contrário do que a maioria de
nós crentes imagina, o apelo feito no final do culto para que o perdido
entregue sua vida à Cristo, é uma prática relativamente nova, portanto
completamente desconhecida dos apóstolos. Durante seus primeiros 1.800 anos, o
cristianismo se desenvolveu sem a famosa ajuda do apelo, “Quem quiser aceitar
Jesus, levante sua mão”. Há propósito, alguém já encontrou o termo, “Aceite a
Cristo” no novo testamento?
“Foram os Metodistas e os Evangelistas
reavivalistas do século XVIII que deram luz a esta novidade no cristianismo que
se chama de “apelo”. Esta prática de convidar pessoas que desejam orações a
colocar-se de pé e vir à frente para recebê-las surgiu de um evangelista
Metodista chamado Lorenzo Dow. Posteriormente o reverendo James Taylor foi um
dos primeiros a chamar pessoas para virem à frente em sua igreja em 1785 no
Tennessee. O primeiro uso do altar de que se tem registro com relação a um
convite público aconteceu em 1799 em um acampamento metodista em Rio Vermelho,
Kentucky, E.U.A. [117]
Mais tarde, em 1807 na
Inglaterra, os metodistas criaram o “banco de penitentes”. [118] Agora, os
pecadores ansiosos tinham um local para confessar seus pecados ao serem convidados
para vir à frente. Este método chegou aos Estados Unidos dentro de poucos anos.
O evangelista Charles Finney (1792-1872) acatou este “banco de penitentes”.
Finney começou a usar este método a partir de sua famosa cruzada de 1830 em
Rochester, Nova Iorque. [119] O “banco de penitentes” localizava-se defronte ao
lugar onde os pregadores se postavam no púlpito. 120[120] Ali tanto pecadores
como santos carentes eram convidados a ir à frente para receber as orações do
ministro. [121] Finney elevou o “apelo ao altar” ao nível de uma obra de arte.
Seu método consistia em pedir àqueles que queriam ser salvos para que se
levantassem e fossem à frente. Finney tornou esse método tão popular que “após
1835, chegou a ser um elemento indispensável no moderno evangelismo”. [122]
Charles Finney (1792-1872)
Com o tempo, esse “banco de
penitentes” dos acampamentos feito em fazendas e beira de estradas foi
substituído pelo “altar” no salão da igreja. O “caminho de serragem” usado nos
acampamentos deu lugar ao corredor da igreja. Assim, pois, surgiu o famoso
“apelo ao altar”. [124] Talvez o elemento mais dominante proporcionado por
Finney ao moderno cristianismo foi o pragmatismo. Por pragmatismo quero dizer a
crença de que se algo funciona ou dá resultados, então deve ser apoiado ou
aceito. Finney acreditava que o NT não ensinava nenhuma forma determinada de
adoração. [125] Ele ensinava que o único propósito da pregação é ganhar almas.
Qualquer mecanismo que ajudasse atingir esta meta poderia ser aceito. [126] Sob
Finney, o evangelismo do século XVIII se converteu em uma ciência e foi
integrado à corrente principal das igrejas. [127] O cristianismo moderno nunca
se recuperou desta ideologia antiespiritual. É o pragmatismo, não a Bíblia ou a
espiritualidade, que governa as atividades da maioria das igrejas modernas.
(Posteriormente as igrejas atentas aos seus “índices de audiência” foram além
de Finney). O pragmatismo é daninho porque ensina que “os fins justificam os
meios”. Se o fim é considerado “santo”, qualquer “meio” é válido. Por estas
razões Charles Finney é aclamado como “o reformador litúrgico mais influente na
história da igreja americana”, [e em conseqüência, da igreja moderna]. [128] Do
ponto de vista do genuíno protestantismo, é necessário que a doutrina esteja
rigorosamente de acordo com as escrituras para poder ser aceita. Mas pela
prática da igreja, tudo é válido desde que resulte em novas conversões! Em
todos os aspectos, o Evangelismo reavivalista converteu a igreja em um ponto de
pregação, restringindo a experiência da ekklesia a uma missão evangelística.
[129] Isto normatizou os métodos reavivalísticos de Finney e criou
personalidades do púlpito como a atração dominante. A igreja passou a ser uma
questão de preferência individual em vez de ser uma questão coletiva. [130]
Em outras palavras, a meta dos
reavivalistas era levar pecadores individualmente a uma decisão individual, por
meio de uma fé individualista. Como resultado, a meta da Igreja Primitiva — a
edificação mútua e o funcionamento de cada membro manifestando Jesus Cristo
coletivamente diante dos principados e potestades — perdeu-se completamente.
[131] Ironicamente, João Wesley, [a quem muito admiro], um dos primeiros
reavivalistas, compreendeu os perigos do movimento reavivalista. Ele escreveu
que “o cristianismo é essencialmente uma religião social [...] transformá-lo em
uma religião solitária é certamente sua destruição”. [132] O último tempero que
o Reavivalismo agregou à liturgia protestante foi fazer o “apelo ao altar” após
um hino. Esta é a liturgia que domina o protestantismo até hoje”.
Frank A. Viola
O texto acima introduz um pouco
de luz sobre o tema, nos fornecendo mais condições de entender alguns fatores
pelo qual as coisas se encontram como estão. A problemática do apelo, é que
numa área de extrema complexidade, a salvação do indivíduo, ele apela para um
recurso extra bíblico. O apelo também não leva em consideração a necessidade de
arrependimento do pecador, como condição para a sua salvação, como as
escrituras determinam, “Disse Jesus: Se não se arrependerem, todos de igual
modo perecerão”. Lucas 13:3. Mas alguém pode observar, “mas o que pode haver de
errado em algo que é extra bíblico, se esse recurso ajuda as almas a se
encontrarem com o salvador?” Realmente ajudaria se não atrapalhasse. O apelo acelera
um processo que jamais poderia ser apressado. No evangelho, Jesus ensina
justamente o oposto:
“Grandes multidões estavam
seguindo Jesus. Então Ele fez um discurso assim: “Todo aquele que quer ser meu
seguidor deve amar-Me bem mais do que ao seu pai, mãe, esposa, filhos, irmãos
ou irmãs – sim, mais do que a própria vida; caso contrário, não pode ser meu
discípulo.
E ninguém pode ser meu discípulo
se não carregar sua própria cruz e seguir-Me. Mas é preciso pensar muito antes
de resolver. Pois quem começaria a construção de um edifício sem primeiro fazer
os cálculos e depois verificar se tem dinheiro suficiente para pagar as contas!
Para que não aconteça que, depois de haver posto os alicerces, e não a podendo
acabar, então todo mundo se riria dele! Estão vendo aquele sujeito ali diriam
em tom de gozação: ‘Começou aquela construção e ficou sem dinheiro antes de
terminar!’
E qual é o rei que algum dia
pensou em ir à guerra sem primeiro sentar-se com os seus conselheiros e
discutir se seu exército de 10.000 tem força suficiente para derrotar os 20.000
homens que vêm marchando contra ele’! Se acharem que não, enquanto as tropas
inimigas ainda vêm longe, ele mandará uma comissão para combinar as condições
de paz. “Assim ninguém pode ser meu discípulo se primeiro não resolver abrir
mão de todas as outras coisas, por mim”.
Lucas 14: 25 a 33
Observe que
apesar da missão do
messias ser fundamentalmente o resgate da humanidade, em momento algum
ele
minimiza ou rebaixa o padrão pelo qual os homens devem recebê-lo.
Querer resolver tudo em um só evento, em algo
de tamanha magnitude, é um erro crasso, é o calcanhar de Aquiles da
pregação do evangelho. A verdadeira conversão é algo muito mais
superior e complexo do que a nossa vã teologia supõe, podemos notar isso
pelos
termos que Jesus apresenta para aceitar alguém ao seu lado. Na verdade
nós é
que precisamos ser aceitos por Jesus, e não o contrário como se diz
irresponsavelmente. Essa conversa de que a salvação é gratuita é
verdade, mas
com certas considerações, e jamais sem elas.
Oferecer a salvação como a um brinde que pode ser recebido
incondicionalmente, é propaganda enganosa,
uma mentira maldosa para com os pobres ouvintes.
“É impossível alguém se
arrepender [segundo os padrões de Cristo] sem ter uma profunda decepção consigo
mesmo”
Com esse tipo de apresentação que
nos acostumamos a fazer do evangelho, não me admiro que a maior parte dos
conversos abandone o caminho após uma leve ciência dos fatos, e outra parcela
gigantesca das chamadas ovelhas, estejam na igreja simplesmente interpretando o
personagem do cristão, após descobrirem que foram impulsionadas a optarem
precipitadamente por um salvador, do qual não conheciam absolutamente nada. E o
que as mantém na congregação então? É simples, disseram a elas que a salvação
eterna lhes foi oferecida em troca de um consentimento verbal e público de que
Jesus era o filho de Deus, o salvador. E que após essa “promoção celestial”, o
que se esperava deles seria penas uma leve freqüência nos cultos, algum
dinheiro, seguido do abandono de meia dúzia de maus costumes. Como dizem alguns
sóbrios homens de Deus, “Nunca ninguém ofereceu tanto, por tão pouco”.
“A natureza da salvação de Cristo
é deploravelmente deturpada pelo evangelista de hoje. Eles anunciam um Salvador
do inferno ao invés de um Salvador do pecado. E é por isso que muitos são
fatalmente enganados, pois há multidões que desejam escapar do Lago de fogo que
não têm nenhum desejo de ficarem livres de sua carnalidade e mundanismo”(A.W. Pink).
Outra questão que facilitou a
introdução cega do apelo foi a má interpretação da palavra Crer. No mundo
secular, a palavra crer tem um significado diferente do que há na bíblia. A
igreja de um modo geral, influenciada pelos reavivalistas, pegou textos sobre o
tema e os interpretou segundo o contesto humano:
“Porque Deus amou o mundo de tal
maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna”(João 3:16).
“Quem crer e for batizado será salvo; mas quem
não crer será condenado" ( Marcos 16:16).
“Quem crê nele não é condenado” (João 3:18).
Num país cristão, se você
perguntar as pessoas se elas acreditam em Jesus, a maioria dirá que sim, claro!
Elas entendem que estamos perguntado se elas acreditam na existência da pessoa
e da obra de Jesus Cristo. Mas o problema é que o texto não está questionando
isso. O que o texto está indagando é se a pessoa acredita no que Jesus fala, e
não se acredita em sua existência pessoal. E isso faz alguma diferença? Claro,
faz toda a diferença, porque se tratam de coisas absolutamente diferentes!
Acreditar na existência de Cristo e de sua obra, não exige nada de mim. Mas
acreditar em suas palavras significa o fim da minha vida como a conheço,
significa a morte do meu ego, a extinção de minha independência, a renuncia das
coisas que amo, mas que me fazem mal, e o montante de tudo isso é alto demais
para que seja calculado em alguns minutos. É por isso que uma decisão dessas
não pode levar apenas alguns momentos. O
apelo é a causa do exorbitante número de decisões por Cristo abortadas.
“Quem vende propostas de baixo
risco são comerciantes de mercadorias falsificadas. É exatamente isso que as
igrejas modernas estão oferecendo”
Em minha igreja jamais faço um
apelo. E algumas pessoas me perguntam, “Mas como você sabe que alguém entregou
sua vida à Cristo?” Eu respondo: É simples! Quando a vida da pessoa começa a
mudar para de acordo com as escrituras, a conexão entre ela e Deus foi efetuada
com sucesso. “Disse Jesus: Pelos frutos
os conhecereis…” Então assim está tudo resolvido? De forma alguma! Após uma
possível decisão por Jesus, trato de informá-las que uma escolha por Cristo,
foi apenas o início do jogo e não o final dele. Foi apenas o primeiro, de
diversos passos que deverão se suceder até o fim de suas vidas. Embora isso
afete o numero de candidatos a seguidores de Cristo, nem Jesus, nem os
apóstolos jamais tiveram compromisso com as estatísticas, mas sim com a
verdade. Eles procuravam construir nas pessoas uma fé firme, inabalável, que
resistisse a tudo e a todos. Esse tipo de fé não se consegue com decisões instantâneas,
de momento, nem com o rebaixamento dos padrões bíblicos, nem com a omissão das
condições impostas por Deus.
“A menos que um homem seja posto
no nível de sua miséria e culpa, toda nossa pregação é vã. Somente um coração
contrito pode receber um [o verdadeiro] Cristo crucificado”(Robert Murray McCheyne).
Existe um prejuízo em seguir ao
Cristo escriturístico, existe algo à perder. Se formos sinceros, admitiremos
que o messias claramente dificultava a adesão de novos candidatos a discípulo
como ficou evidente no episódio do jovem rico. Jesus agia assim porque
diferentemente de nós, acima de tudo prezava pela verdade, e a verdade nos
obriga a sermos extremamente francos e transparentes, ingredientes
indispensáveis para se construir relacionamentos profundos e duradouros.
A igreja evangélica moderna, pelo
menos em países pobres e em desenvolvimento, continua se expandindo sob terreno
arenoso e irregular, usando técnicas de engenharia extra-bíblicas. Eles visam
apenas a multiplicação do empreendimento, sem atentar para a sua solides.
Fundamentos duvidosos põem em risco toda a estrutura, mas isso parece não
intimidar os alto-afirmados lideres da igreja moderna.
Aos servos sinceros que ainda se preocupam com
a voz do mestre, aconselho a abandonarem a fobia por novos convertidos à
“sangue-frio”, e a investirem o suor em serem verdadeiros discípulos. Só assim
estarão aptos para fazerem discípulos de verdade. Não confundam, a ordem do
mestre não foi conseguir o maior numero de “decisões”, mas de discípulos.
“Não procuramos enganar as pessoas para que
creiam, não estamos interessados em fazer trapaça com ninguém. Nunca procuramos
fazer com que alguém creia que a Bíblia ensina o que ela não ensina. Nós nos
abstemos de todos esses métodos vergonhosos” (II Coríntios 4:2).
NOTAS
________________________
Fonte: Frank A. Viola, “Cristianismo Pagão”.
[116] Revival and Revivalism, pp. 185-190.
[117] The Effective Invitation,
pp. 94-95. Veja também Protestant
Worship: Traditions in Transition, p. 174.
[118] Finney destacou-se também
por inovar em termos de apelo e por iniciar revivamentos. Empregando o que era
chamado de “novas medidas”, he argüia que não havia nenhuma forma normativa do
culto no NT. E tudo que tivesse êxito em trazer pecadores para Cristo seria
aprovado (Christian Liturgy, p. 564; Protestant Worship: Traditions in
Transition, pp. 176-177).
[119] The Effective Invitation p.
95.: O primeiro uso histórico da frase “banco de penitente” vem de Charles Wesley .[ “Oh,
aquele banco penitente santificado.” Para uma crítica completa sobre o banco de
penitentes veja J.W. Nevin’s The Anxious Bench (Chamgersburg: Wipf & Stock,
1843).
[120] Protestant Worship:
Traditions in Transition, p. 181; Christian History, Volume VII, No. 4, Issue
20, pp. 7, 19.
[121] Christian History, Volume
VIII, No. 3, Issue 23, p. 30; Christian
History, Volume VII, No. 4, Issue 20, p. 7;
Christian Liturgy, p. 566.
[122] Revival and Revivalism, pp. 226,
241-243, 277.
[123] The Effective Invitation, p. 96.
[124] Dictionary of Pentecostals and Charismatic
Movements, p. 904. Ainda sobre este
tema, veja Gordon L. Hall’s The Sawdust
Trail: The Story of American Evangelism (Philadelphia: Macrae Smith Company,
1964). O “caminho da serragem” foi tido depois como uma garantia da eficácia do
evangelista. Este uso (“percorrer o caminho da serragem”) foi popularizado pelo
ministério de Billy Sunday (1862-1935). Veja Evangelism: A Concise History, p.
161.
[125] Protestant Worship:
Traditions in Transition, p. 177.
Fonte: Graca Plena
lamento mas o frank deu uns tirinhos no pe no aretigo ele nao conhece historia da igreja
ResponderExcluirGraça e paz Cláudio.
ExcluirNem sempre iremos concordar com tudo que se escreve e pensa, mas respeito o seu comentário.
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira