Se há um fenômeno maior do que o aumento
dos blogs evangélicos com ênfase em apologética, é a má qualidade da
apologética que tem sido apresentada. Tenho observado a falta de
princípios reguladores, de capacidade argumentativa e até mesmo de
paciência nos defensores da fé. Isso não quer dizer que o movimento
apologético da internet seja ruim. É bom ver mais cristãos tentando
discernir o erro e desmascarando a hipocrisia reinante. É bom ver a
doutrina cristã escrita de forma simples, para o evangélico comum, o
leigo que andava tomando banho de sal grosso, colocando arruda gospel
atrás da orelha, adorando bispo e apostolo, bebendo água benta,
comprando lenço suado e achando tudo isso um barato.
O problema é
que a qualidade das publicações, bem como a seriedade com que são
tratados os temas, está diminuindo. Descobriu-se que achincalhar alguém
que está em evidencia traz popularidade para o blog, então: “Vamos
esculachar todo mundo!”. Vamos arrepiar com os falsos profetas, e não
importa se a gente não está familiarizado com a bíblia, nem conhece
versículos suficientes para refutar o malandro: basta fazer uma montagem
do sacana com o photoshop e pronto! Eis aí a nossa bela (e vã)
apologética.
Se por um lado há aqueles que abusam da
malemolência e fazem piada de tudo (esquecendo muitas vezes do
principal, que é a correção do erro e o ensino da verdade em amor), há
também aqueles que reclamam de tudo. E se ontem tínhamos protestantes,
agora temos os “reclamantes”. Reclamam de tudo! Do pastor, da música, da
roupa, do penteado da irmã, da coreografia, do que se disse, do que se
deixou de dizer, tudo é motivo para reclamação! Seus textos são
totalmente previsíveis. Geralmente começam com frases de efeito, do
tipo: “Não aguento mais!”, ou “não posso mais suportar”, e aí começam a
reclamar, a reclamar e reclamar… e não param mais!
Mas qual o problema com essa nova
“apologética”? O problema, penso, é que ela não aponta soluções.
Reclamamos da avareza da liderança cristã, mas não apontamos o caminho
para uma liderança ética, nem nos atrevemos a ser os líderes éticos que a
igreja precisa. Reclamamos do evangelho medíocre que é pregado, mas
poucos de nós nos atrevemos a ir além do teclado do notebook em nossa
pregação. Reclamamos da falta de amor entre cristãos, mas não nos
relacionamos com ninguém em nossa comunidade ( nem sequer sabemos o nome
do nosso vizinho!). Somos “profetas” de internet, cuja tarefa mais
subversiva em prol do cristianismo é ajudar a emplacar uma #hashtag
sobre #CoisasQueDetestoNaIgreja ou qualquer besteira deste tipo.
Pergunte aos apologetas de plantão se
eles podem mencionar de memória o nome de 10 países da janela 10/40, ou
se são capazes de listar 20 países onde os cristãos são mais
perseguidos. Peça a eles para mencionarem ao menos 10 grupos étnicos não
alcançados do nosso continente, ou pergunte quanto do seu pressuposto
anual é investido em missões, em projetos filantrópicos, em ajuda
social. Pergunte aos pastores defensores da fé da internet quantos deles
estão diretamente envolvidos na evangelização do seu estado, do seu
município ou do seu país, e você descobrirá que as exceções confirmam a
regra, e que há muito barulho para pouca ação concreta em prol do reino
de Deus.
Amado leitor, apologética não é só
destruir os castelos da heresia, mas construir pontes sobre os escombros
por onde aqueles que são iluminados pelo Espírito Santo possam
transitar.
Apologética não é só desmontar argumentos, mas elaborar uma defesa coerente acerca dos nossos pontos de fé.
Apologética não é só reclamar do que
está errado, mas se esforçar ao máximo para fazer as coisas da maneira
correta, ensinando também com o nosso exemplo, como Jesus fez.
Apologética não é só condenar os falsos
apóstolos, mas cumprir um papel verdadeiramente apostólico (pioneiro) na
manutenção e propagação da verdade entre povos pagãos.
Apologética não é só descascar a ferida,
mas limpar a sujeira ali incrustada e aplicar o balsamo que é o bom
anúncio do evangelho do nosso Senhor Jesus.
Fazer apologética não é só reclamar da
sujeira da igreja (instituição), mas ser igreja, demonstrando amor,
compaixão, altruísmo, conquistando corações empedernidos e mentes
obscurecidas com o evangelho de Cristo.
Pense nisso.
E sigamos combatendo o erro (mesmo que seja o nosso).
Fonte: Napec
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