Por Maurício Zágari
Uma
das coisas que mais ferem minha alma são as injustiças. Não sei
explicar, sempre foi assim, desde criança. Certa vez sumiu um montante
de dinheiro da bolsa de minha mãe e, nem me lembro por que, ela cismou
que eu tinha pego. Eu chorava, dizia que não tinha sido eu, mas ela
insistia. No final lembrou que tinha posto embaixo do telefone. Eu devia
ter uns 7 ou 8 anos, mas a agonia da injustiça daquele evento me marcou
tanto que me recordo até hoje. Outra vez, ainda nessa época, houve uma
festa de aniversário na minha casa e duas coleguinhas da escola ficaram
por último. Resolvemos brincar de "gato mia", em que as pessoas se
trancam num quarto escuro e alguém tem que entrar e achar quem está
escondido. Coisa inocente e boba, sem nenhuma maldade. Meu avô chegou e
começou a gritar conosco, arrastou a mim, a meu irmão e as duas meninas
para a sala e nos sentou em sofás separados. Nos olhávamos os quatro com
cara de "o que está acontecendo?". Naquela época, nunca poderíamos
desconfiar que aos olhos de meu avô adulto estávamos engajados em alguma
atividade sexual dentro do quarto. Era uma criança. Nem sabia o que era
aquilo. No dia seguinte, minha mãe veio falar sobre a história,
perguntando se tínhamos feito alguma coisa e explicou o quê. Foi quando
entendi, dentro do que eu compreendia. Desabei no choro, me sentindo
acusado de algo que não tinha feito. Lembro até hoje. Pois injustiças
marcam.
Jesus
foi injustiçado. Acusado falsamente. Cordeiro sem mancha indo para o
abatedouro. Não é à toa que transpirou gotas de sangue: injustiça rasga
nossa pele. Rasga nossa alma. Se o Verbo encarnado passou por isso,
quanto mais nós, meros mortais. Seremos alvos de falsas acusações.
Seremos acusados do que não fizemos nem pensamos. Desconfiarão de nós.
Você dará pães e peixes e receberá de volta açoites. Prepare-se, um dia
isso vai acontecer com você. E não será no mundão não: será dentro da
igreja. De supostos irmãos. De gente que se chama pelo nome do Senhor. E
você ficará ainda mais ferido por causa disso. Quem acusou Jesus foi um
de seus apóstolos: Judas. Com um beijo. O traidor acusou Jesus de trair
o status quo e, assim, o inocente virou réu de cruz. Imagino o
que se passou no peito do Inocente na hora em que recebeu aquele beijo.
Meu Deus... deve ter doído. Principalmente porque a injustiça veio da
parte de alguém que Jesus chamava "amigo":
"Dirigindo-se
imediatamente a Jesus, Judas disse: 'Salve, Mestre!', e o beijou. Jesus
perguntou: 'Amigo, o que o traz?' Então os homens se aproximaram,
agarraram Jesus e o prenderam" (Mt 26.49,50).
Muitas
vezes, assim como Jesus, somos aprisionados em injustiças. E, como
Jesus, não nos darão chance de defesa. Nossa probidade será açoitada,
nossa honra será cuspida, porão uma coroa de espinhos em nossa verdade e
pregarão nossas boas intenções numa cruz de vergonha e dor. Não se
engane: vai doer. Você vai sofrer por isso. E Deus não afastará de você
esse cálice.
"Eis
o homem!", dirão. E você só poderá se calar, carregando nas costas o
peso da sua inocência perante as acusações falsas, a desconfiança, o
desamor.
Sofrer
injustiça tem seus efeitos. Você sentirá sede de justiça e muitas vezes
o que receberá será algo amargo como vinagre para saciar essa sede.
Precisará de uma palavra de conforto e os que estão ao teu redor te
porão ainda mais para baixo. Implorará a Deus por socorro e se sentirá
abandonado. É o que João da Cruz chamou de "a noite escura da alma". E
como você estará cravado nessa cruz de desconfiança, não terá o que
fazer. Vão lhe insultar a honra, balançando a cabeça, e você estará sem
ar nos pulmões para se defender.
Mas
aí você pergunta: "Zágari, e o que fazer então diante de um cenário tão
pessimista? Não há justiça para a vítima de injustiça?" A solução,
querido, querida, está em fazer o que Jesus fez: primeiro, mantenha-se
íntegro como você sempre foi. Mantenha-se cristão. Ou seja: siga o
exemplo do Cristo. Primeiro, perdoe quem te pôs no banco dos réus. "Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que estão fazendo", deve
ser sua primeira atitude. O verdadeiro cristão não é o que revida,
aprendi isso com um bom homem de Deus. Sofra calado. E perdoe os que te
injustiçam e te acusam de intenções inexistentes. Fale apenas com o Pai,
chore em oculto. E, em seguida, continue fazendo como Jesus fez: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito". Ou seja: entregue a situação nas mãos de Deus.
Quando
te acusarem injustamente, desconfiarem de tua honra, puserem tua
hombridade em xeque, perdoe quem te injustiçou, sofra calado e entregue a
situação. E se você achar que isso é pouco, que deveria berrar e
espernear para provar que é inocente, saiba que Deus é Justo. Logo, a
injustiça dos homens jamais poderá se equiparar à Justiça de Deus. Se
você tentar se defender, Deus permitirá que o faça, mas não interferirá.
Mas se você der um passo para trás e deixar o Senhor Bom e Justo tomar
conta da situação, chegará o momento em que haverá um grande terremoto, a
pedra que oculta a verdade rolará e a verdade virá à luz.
Se
neste momento você está sendo alvo de injustiça, meu irmão, minha irmã,
saiba que a sua dor e a sua angústia podem durar uma noite ou mesmo
três dias. Mas se você depositar a situação aos pés de Jeová Tsidkenu, o
'Senhor Justiça Nossa", Ele não deixará que tua carne permaneça na
corrupção. E você sairá da sua tumba de vergonha e dor com as roupas
resplandecentes, a alma limpa e a honra alva, mais que a neve.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Fonte: Apenas
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