Por Leonardo Gonçalves
O capítulo catorze do evangelho de Marcos começa dizendo que os sacerdotes e escribas buscavam, com dolo, prender a Jesus (Mc 14.1, RC). Como não conseguiram encontrar algo que o desabonasse, as criaturas mais religiosas de seu tempo decidiram usar um ardil, uma falcatrua, um engano contra Jesus, com intuito de destruí-lo.
A bíblia diz que Jesus conhecia o coração dos homens (Jo 2.24), e que por isso não confiava neles. Jesus sabia exatamente com que intenção as pessoas o rodeavam, conhecia exatamente quem eram aqueles que estavam dispostos a segui-lo e quem eram seus inimigos. Ele conhecia o coração ardiloso do fariseu, o sapiente e inchado coração do escriba, e o cético coração do saduceu. Ele conhecia cada imagem da mente de Judas, de modo que este jamais pode esconder-se dele.
Mas Jesus não tinha apenas atributos divinos. Ele também era humano, e é sobre este Jesus homem que quero falar. O homem que abdicou de uma larga vida, de ter uma família, do carinho de uma esposa e do aconchego de um lar, de todas as comodidades de uma vida normal para experimentar sobre si a punição das nossas faltas. Aquele que, apesar da nobre missão que veio desempenhar, foi rejeitado pelos seus. Daquele que foi negado por Pedro, vendido por Judas, tratado com indiferença por Pilatos, espancado pelos soldados, crucificados pelos romanos e assassinado pelos meus pecados.
O momento da traição se aproxima, e Jesus vai ao Getsêmani orar. Em sua oração ele pediu o que qualquer homem pediria: “Passa de mim este cálice”, mas teve o discernimento que poucos homens possuem: “seja feita a tua vontade e não a minha”. O traidor se aproximava, e ele podia discernir seus passos de longe, de modo que a aflição aumentava. “Passa de mim este cálice”, dizia a sua carne, mas o sentido da sua missão o levava a sussurrar: “faça-se a sua vontade”.
Em cada aflição, “um anjo lhe fortalecia” (Lc 22.43). Ele passou três anos da sua vida consolando uma enorme multidão, mas na única ocasião que precisou de consolo e companhia, não houve amigos, não houve multodão, apenas anjos que o consolavam, situação emblemática que se perpetua na vida dos seus discípulos que vivem pelo senso da missão. Como diz Oswald Sanders, “a maior companheira do líder é a solidão” (ad tempora).
E veio o traidor, para com um beijo delatar o filho de Deus. Junto a ele, a comitiva que havia planejado o “dolo”, e que agora executaria seu plano macabro. Mas apesar da adrenalina envolvida naquele momento, Jesus não esboçou nenhuma surpresa: Ele definitivamente conhecia (de antemão) as intenções daqueles homens.
O processo de Deus é, muitas vezes, estranho aos nossos olhos. Seus caminhos envolvem grande tensão. Mas assim como a traição de Judas e o “dolo” dos seus inimigos não puderam frustrar seu propósito, do mesmo modo nenhuma traição, nenhum engano, nenhuma falsificação, nenhuma tristeza, nenhuma lágrima, nenhum abandono, nada... Absolutamente nada, pode frustrar o seu designo em nós. Nada pode surpreender aquele que conhece as maquinações dos perversos.
O Senhor cumprirá o seu propósito para comigo! Teu amor, Senhor, permanece para sempre; não abandones as obras das tuas mãos! (Salmo 138.8 – NVI)
Fonte: Pastor Leonardo Gonçalves
Pr. Leonardo Gonçalves, Graça e Paz.
ResponderExcluirCom todo respeito ao Pastor Leonardo, mas não concordo com a interpretação da passagem do Getsêmani, quando coloca qualquer dúvida sobre a unanimidade entre a vontade do Deus Pai e a vontade do Filho, no que diz respeito a obra de salvação realizada na cruz do calvário, simplesmente pelo motivo de querer salvaguardar a sua vida neste mundo, como se o fato da sua inevitável morte, pudesse levar nosso Senhor Jesus a ter dúvida sobre a missão que deveria cumprir. Entendo que a oração de Jesus nos mostra algo muito maior, e que está acontecendo no mundo espiritual e não no mundo físico. Não é simplesmente o medo dessa morte, do corpo físico, que muitos homens mortais e pecadores enfrentaram com grande coragem e serenidade. Portanto vejo que muito mais coragem teria naquele momento, como de fato teve, o nosso grande e poderoso comandante, Jesus. Agora se nós refletirmos por um momento sobre o fato de que, todos os pecados da humanidade estariam sobre os seus ombros e a ira de Deus cairia sobre Ele, fica muito mais compreensível. Ele seria abandonado pelo Pai num momento em que todas as forças do mal cairiam sobre ele.
Fico com a posição deste grande teólogo John Stott e coloco uma parte de um pequeno texto de sua autoria. Abaixo o link para quem desejar ler na íntegra.
"O cálice que Jesus desejou ardentemente evitar não foi nem a dor física da crucificação nem a angústia mental da deserção por parte de seus amigos, mas o horror espiritual de carregar sobre si os pecados do mundo. No Antigo Testamento, o cálice era um símbolo da ira de Deus. Por exemplo, Isaías descreveu Jerusalém depois de sua destruição como tendo bebido "da mão do Senhor o cálice da ira dele" (Is 51.17).
Da agonia no jardim, Jesus se levantou com a determinação resoluta de ir para a cruz. Embora João não registre o episódio do Getsêmani, ele menciona uma fala de Jesus que os outros evangelistas não narram: "Acaso não haverei de beber o cálice que o Pai me deu?" (Jo 18.11).
John Stott.
Fonte: http://www.josemarbessa.com/2011/08/dois-calices-venenos-diferentes-john
Graça e paz Paulo.
ResponderExcluirDigo amém as suas palavras e estarei repassando para o Léo o seu comentário. Espero que ele lhe responda (rs).
Fique na Paz!
Pr. Silas Figueira