quinta-feira, 14 de abril de 2011

A Justiça de Deus


Por R. C. Sproul

Gênesis 18.25; Êxodo34.6,7; Neemias 9.32,33; Salmo 145.7; Romanos 9.14-33

Justiça é uma palavra que ouvimos diariamente. Ela é usada nos relacionamentos pessoais, nas convenções sociais, com respeito à legislação e nos vereditos pronunciados nos tribunais. Embora seja muito comum, essa palavra tem deixado perplexos os filósofos que tentam defini-la.

Às vezes conectamos ou equiparamos justiça com aquilo que é conquis¬tado ou merecido. Falamos sobre pessoas que receberam aquilo que mereciam em termos de recompensa ou de punição. As recompensas, porém, nem sempre são baseadas nos méritos. Suponha que façamos um concurso de beleza e declaramos que um prêmio será dado à pessoa que for considerada mais bonita. Se a "beleza" ganha o prêmio, não é porque exista algum mérito em ser bonito. Pelo contrário, a justiça é feita quando o concorrente mais bonito é justamente recompensado com o prêmio. Se os juízes votam em alguém que não consideram o mais bonito (por razões políticas ou porque foram subornados), então o resultado do concurso será injusto.

Pelas razões como as mencionadas acima, Aristóteles definiu justiça como "dar a uma pessoa aquilo que lhe é devido'". O que é "devido" pode ser deter¬minado por obrigações éticas ou por um acordo pré-estabelecido. Se uma pessoa recebe uma punição mais severa do que seu crime merece, tal puni¬ção é injusta. Se alguém recebe uma recompensa inferior à que mereceu, então a recompensa é injusta.

Como, pois, a misericórdia se relaciona com a justiça? Misericórdia e justiça obviamente são elementos diferentes, embora às vezes sejam confundi¬das. A misericórdia ocorre quando aquele que errou recebe uma punição menor do que merecia ou uma recompensa maior do que lhe era devida.

Deus tempera sua justiça com misericórdia. Sua graça é essencialmente um tipo de misericórdia. Deus é gracioso para conosco quando retém o castigo que merecemos e quando recompensa nossa obediência, a despeito do fato de que é nossa obrigação obedecê-lo, de maneira que não há mérito e não merecemos nenhuma recompensa. Com Deus, a misericórdia é sempre voluntária. Ele nunca tem a obrigação de ser misericordioso. Deus reserva a si o direito de exercer sua graça de acordo com o beneplácito de sua vontade. Por isso disse a Moisés: 'Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia, e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão" (Rm 9.15).

Muitas pessoas às vezes se queixam de Deus não distribuir sua graça ou sua misericórdia igualmente a todas as pessoas, que ele, portanto, não é justo. Achamos que, se Deus perdoa uma pessoa, então ele tem a obrigação de perdoar todas.

Vemos, porém, claramente nas Escrituras que Deus não trata todos da mesma maneira. Ele se revelou a Abraão de uma maneira que não se revelou a nenhum outro pagão no mundo antigo. Revelou sua graça a Paulo de uma maneira que não revelou a Judas Iscariotes.

Paulo recebeu graça de Deus, Judas Iscariotes recebeu justiça. Misericórdia e graça são formas de não-justiça, mas não são atos de injustiça. Se o castigo de Judas fosse mais severo do que ele merecia, então ele teria do que reclamar. Paulo recebeu graça, mas isso não requer que Judas também recebes¬se. Se graça é exigida de Deus, ou seja, se Deus é obrigado a ser gracioso, então não estamos mais falando de graça, mas de justiça.

Biblicamente, justiça é definida em termos de retidão. Quando Deus é justo, ele está fazendo o que é reto. Abraão fez a Deus uma pergunta retórica, a qual só poderia ter uma resposta óbvia: "Não fará justiça o Juiz de toda a terra? " (Gn 18.25). Semelhantemente, o apóstolo Paulo formulou uma pergun¬ta retórica similar: "Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? De modo nenhum " (Rm 9.14).

Sumário

1. Justiça é dar o que é devido.
2. A justiça bíblica está vinculada à retidão, ou seja, fazer o que é reto.
3. A injustiça está fora da categoria da justiça e é uma violação da justiça. A misericórdia também está fora da categoria da justiça, mas não representa uma violação da justiça.

Para discussão e avaliação


1. Qual é o exemplo que o autor cita para demonstrar que recompensa nem sempre é baseada no mérito?
2. Quando somos recompensados por Deus pela nossa obediência, Ele está demonstrando graça ou justiça? Por quê?
3. A justiça de Deus o obriga a punir todo pecado, conforme a lei: "A alma que pecar essa morrerá" - Ezequiel 18.4. Então, como conse¬guimos o perdão dos nossos pecados?
4. Deus está obrigado a exercer sempre a justiça, pois ele é justo. Que consequência isto traz na vida do cristão? E na do não-cristão?
5. Pode Deus exceder na aplicação da justiça a alguém? Ou pode ele recompensar alguém menos do que ele merece? Por quê?

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