Por Philip R. Johnson
Essa é precisamente a forma pela qual os teístas relacionais - e até mesmo alguns que rejeitam o teísmo relacional - têm compreendido mal a doutrina da impassibilidade divina. Um artigo recente em Christianity Today afirmou que a doutrina da impassibilidade é realmente uma relíquia fora de moda da filosofia grega que mina o amor de Deus.
Se amor implica vulnerabilidade, a compreensão tradicional de Deus como impassível torna impossível dizer que “Deus é amor”. Um Deus Todo-Poderoso que não pode sofrer está miseravelmente prostrado, porque não pode amar nem se envolver. Se Deus permanece imóvel diante do que quer que nós façamos, há realmente muito pouca importância em se fazer uma coisa ou outra. Se amizade significa permitir-se ser afetado pelo outro, então essa Divindade imóvel e sem sentimentos não pode ter amigos nem ser nossa amiga[1].
O teísta relacional Richard Rice também exagera a doutrina da impassibilidade. De acordo com ele, esta é a doutrina de Deus que tem dominado a história da Igreja:
Deus mora em perfeita bem-aventurança fora da esfera do tempo e do espaço... Ele permanece essencialmente não-afetado por eventos e experiências das criaturas. Ele não é tocado pelo desapontamento, pesar ou sofrimento de suas criaturas. Assim como sua soberania não encontra oposição, sua serena tranqüilidade não conhece interrupções[2].Em outro lugar, Rice alega que os teístas clássicos comumente consideram a terminologia bíblica sobre as afeições divinas como “vôos poéticos essencialmente não-relacionados às qualidades centrais que o Antigo Testamento atribui a Deus”. Em vez disso, de acordo com Rice, o Deus do teísmo clássico “é feito de estofo duro. Ele é poderoso, autoritário e inflexível, por isso os doces sentimentos dos quais nós lemos nos profetas são meramente exemplos de licença poética”[3] Para Rice, o Deus da principal corrente histórica do Cristianismo é distante, reservado, descuidado, sem sentimentos e totalmente indiferente aos apuros de suas criaturas.
Por outro lado, Rice retrata o deus do teísmo relacional como um deus de fervente paixão, cuja “vida interior”[4] é movida por “uma ampla faixa de sentimentos, incluindo alegria, dor, ira e arrependimento”[5]. De acordo com Rice, Deus também experimenta desejos frustrados, sofrimento, agonia e angústia severa. Além disso, todas essas agressões são infligidas a ele por suas próprias criaturas [6].
Clark Pinnock concorda: “Deus não é calmo nem retraído, mas profundamente envolvido e pode se ferir”[7]. Pinnock crê que a essência do amor e da ternura divina são vistos no fato de Deus “tornar-se vulnerável dentro de um relacionamento conosco”[8].
E assim os teístas relacionais querem apresentar uma dicotomia ao público cristão. As duas claras e únicas opções, de acordo com eles, são o deus tempestuosamente apaixonado do teísmo relacional (que está sujeito a feridas que podem ser infligidas por suas criaturas) e o deus totalmente indiferente que eles relacionam ao teísmo clássico (que, no fim, se parece com um iceberg metafísico).“[9]
Considere cuidadosamente o que os teístas relacionais estão dizendo: seu deus pode ser ferido; suas próprias criaturas podem com angústia e mágoa; ele é regularmente frustrado quando seus planos são contrariados; e ele amargamente desapontado quando sua vontade não é cumprida - o que acontece regularmente [10]. Os teístas relacionais colocaram Deus nas mãos de pecadores irados, porque somente esse tipo de deus, eles alegam, é capaz de amor verdadeiro, doçura genuína ou afeições significativas de qualquer espécie.
De fato, já que o Deus do teísmo clássico não pode ser ferido por suas criaturas, os teístas relacionais insistem em que ele não pode ser “relacional”. Ele é muito isolado, desprovido de sentimentos, apático e privado de toda sensibilidade. De acordo com o teísmo relacional, essas são ramificações inescapáveis da doutrina da impassibilidade divina.
Essa é, francamente, a investida favorita do teísmo relacional sobre o teísmo clássico. Ela tem grande apelo no que se refere aos típicos cristãos de banco de igreja, pois nenhum verdadeiro crente jamais admitiria que Deus é insensível e descuidado.[11]
A triste verdade é que, nesses dias, a doutrina da impassibilidade divina tem sido geralmente negligenciada e menosprezada até mesmo por aqueles que ainda afirmam o teísmo clássico. Muitos daqueles que rejeitam as outras inovações do teísmo relacional são vacilantes com relação à impassibilidade. Eles têm sido facilmente influenciados pelas caricaturas, ou têm sido muito lentos em refutá-las.[12].
_________________________
Notas:
[1] Denis Ngien, “The God Who Suffers", Christianity Today (3 de fevereiro de 1997), p.38. O subtítulo do artigo destila a mensagem: “Se Deus não sofre, ele pode pelo menos amar? Um argumento em defesa das emoções de Deus”.
[2] Clark Pinnock, Richard Rice, John Sanders, William Hasker, David Basinger, The Openness of God (Downers Grove: InterVarsity, 1994), p. 12.
[3] Ibid., p.25.
[4] Ibid., págs.23,24.
[5] Ibid., p.22.
[6] Ibid., p.24.
[7] Ibid., p.118.
[8] "Uma Entrevista com Clark Pinnock”, Modem Reformation (novembro/dezembro, 1998), p.37.
[9] Ibid.
[10] Em seu zelo por evitar o que eles erroneamente consideram um Deus apátíco, eles o substituíram por um deus que é simplesmente patético.
[11] De acordo com Pinnock, a doutrina da impassibilidade é “o mais dúbio dos atributos divinos no teísmo clássico” [Pinnock, et. al., The Openness of God, p.118]. A impassibilidade tem certamente provado ser um alvo muito mais fácil para os teístas relacionais do que outros aspectos da imutabilidade de Deus.
[12] Por exemplo, a Teologia Sistemática de Wayne Grudem rapidamente rejeita a doutrina da impassibilidade. Grudem escreve: “Eu não a doutrina da impassibilidade nesse livro... Deus, que é a origem de nossas emoções e que criou nossas emoções, certamente sente emoções” (Grand Rapids: Zondervan, 1994), p.166. Grudem parece pensar que a afirmação da Confissão de Westminster que diz que Deus é “sem... paixões” retrata Deus como totalmente apático. Ele, portanto, concorda com os críticos do teísmo clássico, que alegam que a doutrina da impassibilidade toma Deus frio e insensível. O que Grudem não discute é a natureza das “emoções” de Deus e como elas diferem das paixões humanas. Toda a sua discussão da imutabilidade divina é marcada por isso, e isso até mesmo faz parecer que ele tem uma fraca posição sobre a questão de se Deus realmente muda de opinião.
Notas:
[1] Denis Ngien, “The God Who Suffers", Christianity Today (3 de fevereiro de 1997), p.38. O subtítulo do artigo destila a mensagem: “Se Deus não sofre, ele pode pelo menos amar? Um argumento em defesa das emoções de Deus”.
[2] Clark Pinnock, Richard Rice, John Sanders, William Hasker, David Basinger, The Openness of God (Downers Grove: InterVarsity, 1994), p. 12.
[3] Ibid., p.25.
[4] Ibid., págs.23,24.
[5] Ibid., p.22.
[6] Ibid., p.24.
[7] Ibid., p.118.
[8] "Uma Entrevista com Clark Pinnock”, Modem Reformation (novembro/dezembro, 1998), p.37.
[9] Ibid.
[10] Em seu zelo por evitar o que eles erroneamente consideram um Deus apátíco, eles o substituíram por um deus que é simplesmente patético.
[11] De acordo com Pinnock, a doutrina da impassibilidade é “o mais dúbio dos atributos divinos no teísmo clássico” [Pinnock, et. al., The Openness of God, p.118]. A impassibilidade tem certamente provado ser um alvo muito mais fácil para os teístas relacionais do que outros aspectos da imutabilidade de Deus.
[12] Por exemplo, a Teologia Sistemática de Wayne Grudem rapidamente rejeita a doutrina da impassibilidade. Grudem escreve: “Eu não a doutrina da impassibilidade nesse livro... Deus, que é a origem de nossas emoções e que criou nossas emoções, certamente sente emoções” (Grand Rapids: Zondervan, 1994), p.166. Grudem parece pensar que a afirmação da Confissão de Westminster que diz que Deus é “sem... paixões” retrata Deus como totalmente apático. Ele, portanto, concorda com os críticos do teísmo clássico, que alegam que a doutrina da impassibilidade toma Deus frio e insensível. O que Grudem não discute é a natureza das “emoções” de Deus e como elas diferem das paixões humanas. Toda a sua discussão da imutabilidade divina é marcada por isso, e isso até mesmo faz parecer que ele tem uma fraca posição sobre a questão de se Deus realmente muda de opinião.
Philip R. Johnson em: Eu Não Sei Mais Em Quem Tenho Crido, Douglas Wilson (org.), Ed. Cultura Cristã, págs. 97,98.
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