sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

A Doutrina da Escritura


Por Kevin DeYoung

Ao fim da segunda carta de Pedro, bem no meio de um último lembrete a respeito de crescer em piedade, encontramos dois memoráveis versos que ajudam a formar uma doutrina cristã da Escritura.

Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação, como também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu, com a sabedoria que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes assuntos. Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles. (2 Pedro 3.15-16)

De certa forma, nesses dois versículos Pedro está apenas dizendo “Paulo concorda comigo nesse assunto da santidade, não com os falsos mestres”. Mas ao dizer isso, Pedro faz declara algumas verdades cruciais sobre a Escritura. Vamos destacar quatro delas.

1. Nós vemos que os escritos apostólicos estavam sendo colocados lado a lado com o canon do Antigo Testamento como Escritura autoritativa. O verso 16 diz que algumas pessoas estavam distorcendo as cartas de Paulo, assim como faziam com o resto das Escrituras. A palavra em grego usada aqui é graphe. Ela ocorre 49 vezes no Novo Testamento, e em todas elas, se refere às Escrituras do Antigo Testamento. É notável que Pedro, escrevendo por volta de 60 d.C., coloca os escritos de Paulo lado a lado com o Antigo Testamento como igualmente autoritativo.

Mais ainda, Pedro nem mesmo tenta defender essa forte afirmação. Em sua mente, ele está afirmando o óbvio. Não é algo discutível. Pedro não precisava convencer essas igrejas de que os escritos de Paulo eram tão autoritativos quanto as Escrituras do Antigo Testamento. Aparentemente, eles já reconheciam isso, assumiam isso, e tratavam os escritos de Paulo dessa forma. Então quando Pedro se refere no verso 15 à sabedoria dada a Paulo, ele provavelmente está falando da inspiração divina, não que o homem de Tarso era uma cara inteligente.

2. A Escritura pode ser difícil de entender. Os cristãos, ao longo dos séculos, tem tido grande conforto no verso 16, onde Pedro admite que há algumas coisas nos escritos de Paulo que são difíceis de entender. Mesmo Pedro, o grande Apóstolo, o primeiro de muitos na igreja primitiva, reconhecia que há algumas partes difíceis na Bíblia. Nem tudo é coisa simples.

Os cristãos sempre acreditaram no que é chamado de “perspicuidade da Escritura”. Isso significa que a Escritura é clara – é possível entendê-la. Mas a doutrina da perspicuidade nunca implicou em dizer que todas as partes da Escritura são igualmente óbvias ou igualmente importantes. Perspicuidade significa que as partes principais são as partes mais óbvias. Significa que a mensagem da salvação é clara. Significa que os assuntos mais básicos e centrais da narrativa bíblica são claros, mesmo que você não seja o mais esperto, mesmo se você não recebeu muita educação, mesmo se você é uma criança. Todos nós podemos entender que Jesus é o Messias, que nós precisamos nos arrepender, crer em Cristo e obedecer seus mandamentos. Isso tudo é muito claro. Mas não significa que tudo é claro. Algumas partes requerem muito estudo. Algumas partes requerem atenção especial. Algumas doutrinas são complicadas. Algumas partes da Bíblia são muito difíceis. Basta perguntar a Pedro sobre Paulo.

3. O outro lado desse Segundo ponto é que mesmo as partes difíceis da Bíblia tem interpretações certas e erradas. Note, Pedro não diz “Algumas coisas em Paulo são difíceis de entender. Então, quem sou eu pra dizer o que é certo e o que é errado? Todos nós temos uma interpretação.” Não, ele diz “algumas coisas são difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem para sua própria destruição”. Pedro não pensava que só porque algo era difícil, não poderia haver uma resposta certa para esse problema. Alguns cristãos tem uma certa preguiça mental. Eles desonram a Palavra, e o Deus da Palavra, com sua rápida acomodação na terra do “sei lá” e “não é uma questão de salvação, então, quem se importa?”. Eles dizem “entender a doutrina da eleição é difícil. Chegar a uma conclusão sobre homossexualismo é difícil. Chegar a algum lugar sobre os papéis dos homens e das mulheres é impossível.” Assim, desistimos e aceitamos que nenhuma interpretação pode ser melhor que outra. Pedro, por outro lado, não tem medo de dizer que a presença de alguns textos difíceis não exclui a presença de interpretações corretas e interpretações erradas.

4. Algumas interpretações erradas podem te matar. Existe algum espaço para discordância entre os cristãos em alguns assuntos. Vemos isso claramente em Romanos 14. Não precisamos ser travados em qualquer assunto discutível. Mas em alguns assuntos, interpretações enganadas não são apenas erradas, elas são mortalmente erradas. Os falsos mestres dos tempos de Pedro estavam distorcendo a Escritura para sua própria destruição. Eles citavam a Escritura, mas não corretamente.

Eu já estive em debates onde os dois lados estavam usando a Bíblia. E, algumas vezes, acontece de boas pessoas se confundirem e pensarem “Bom, se os dois estão usando a Bíblia, os dois devem estar certos.” Mas Pedro sugere que você pode usar a Escritura, mas usá-la de uma forma enganosa, infiel e distorcida na verdade te leva a cair. Nem toda questão é tão séria, mas certamente quando estamos discutindo se o povo de Deus deve ou não buscar vidas santas, ou se o pecado sexual deve ou não ser levado a sério (2 Pedro 2), nós estamos discutindo uma questão central do Cristianismo. Assim, distorcer a Bíblia para permitir chamar um pecado de bênção e chamar aqueles que se opõe ao pecado com todo tipo de nome que termina com “fóbico” é torcer a Escritura para sua própria destruição.

Traduzido por Filipe Schulz

Fonte: iPródigo

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