quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O que a Bíblia diz a respeito do culto pentecostal?


Por Ciro Sanches Zibordi

Sou assembleiano e creio em sinais, prodígios e maravilhas. Nasci num lar pentecostal e cresci em meio a visões, revelações e milagres. E, por mais que eu tenha esse lado contestador — que não é exclusividade minha, posto que Paulo (2 Co 11.3-15) e o próprio Senhor Jesus (Mt 23; Ap 2-3), só para exemplificar, também se opuseram a heresias e modismos —, creio, desde a minha adolescência, na multímoda obra do Espírito Santo (1 Co 12.4-11).

Oponho-me, não ao pentecostalismo bíblico, mas ao antibíblico pseudopentecostalismo, manifesto através do “cair no Espírito” e de outras aberrações que não têm lugar no culto genuinamente pentecostal, haja vista não se coadunarem com os princípios e mandamentos contidos nas Escrituras. Muitos pregadores do nosso tempo dizem que estão na liberdade do Espírito, ignorando que no culto pentecostal deve haver julgamento, discernimento, exame (1 Co 14.29-33). E mais: “Se alguém cuida ser profeta ou espiritual, reconheça que essas coisas que vos escrevo são mandamentos do Senhor” (v.27).

Tenho observado — desde que comecei a escrever sobre a pregação, a adoração, heresias e modismos — que os simpatizantes das manifestações exóticas, em sua maioria, são pessoas indóceis, dispostas a pronunciar impropérios, a humilhar, a ridicularizar e até a ameaçar quem pensa diferente. Que tipo de cristãos são estes, que se dizem pentecostais, mas desconhecem a essência da doutrina esposada pelo pentecostalismo: o fruto do Espírito?

Deus opera milagres extraordinários em nosso meio. Ele é o mesmo (Hb 13.8). Mas o que muitos chamam hoje de milagres são manifestações viciosas e repetitivas, às vezes mescladas com truques ilusionistas. Ao curar um cego com o lodo que fez com a sua própria saliva, o Senhor Jesus não metodizou esse modo de dar vista aos cegos. A obra de Deus surpreende, impressiona, positivamente, e deixa todos maravilhados (Lc 5.26). As falsificações são viciosas, premeditadas, propagandeadas, a fim de que o milagreiro receba a glória que é exclusivamente de Deus (Is 42.8).

O “cair no poder”, por sua vez, vem sendo comparado a operações legítimas do Espírito. E, por isso, os seus defensores recorrem a passagens que nada têm a ver com o assunto. Citam textos veterotestamentários — como 2 Crônicas 5.14 e 1 Reis 8.10,11 — e afirmam: “Os sacerdotes não resistiram a glória de Deus e caíram no poder”. Que engano! Veja o que a Bíblia realmente diz: “E sucedeu que saindo os sacerdotes do santuário, uma nuvem encheu a Casa do SENHOR. E não podiam ter-se em pé os sacerdotes para ministrar, por causa da nuvem, porque a glória do SENHOR enchera a Casa do SENHOR” (1 Rs 8.10,11).

É preciso observar que a frase “não podiam ter-se em pé” denota que os sacerdotes “não puderam permanecer ali”, o que fica ainda mais claro na versão Almeida Revista e Atualizada (ARA). Eles não suportaram permanecer no local ministrando! Não tinham mesmo como resistir a glória divina presente ali. Onde está escrito que eles caíram no poder?

Outra passagem citada erroneamente em abono ao “cair no Espírito” e a outros “moveres” é João 14.12, pelo fato de mencionar “coisas maiores” do que as realizadas por Jesus. O termo grego meizõn, literalmente, denota “maiores”. Mas o vocábulo ergon significa: “trabalho”, “ação”, “ato” (VINE. W.E., Dicionário Vine, CPAD, pp.764,827). Jesus, portanto, não aludiu a milagres ou manifestações, estritamente.

Essas obras maiores, à luz do contexto, incluem tanto a conversão de pessoas a Cristo, como a operação de milagres (At 2.41,43; 4.33; 5.12; Mc 16.17,18). Exegeticamente, são obras maiores em número e em alcance. Dizem respeito à quantidade, e não à qualidade. João 14.12, por conseguinte, não avaliza truques, trapaças, experiências exóticas e antibíblicas, além de fenômenos “extraordinários” (cf. Dt 13.1-4; 2 Ts 2.9; Mt 7.21-23).

Vejo muitos priorizando milagres, em detrimento da verdade (cf. Jo 10.41). Entretanto, na hierarquização feita por Deus, a exposição da Palavra tem o primado (1 Co 12.28). Os sinais, prodígios e maravilhas devem ocorrer naturalmente, como consequência da pregação do Evangelho (Mc 16.15-20). E, por causa dessa inversão de prioridades, tem havido, nos cultos pseudopentecostais, muita imitação, falsificação e misticismo.

Reitero que na Palavra de Deus não há nenhum fundamento para o “cair no poder” e aberrações afins. O Senhor Jesus nunca derrubou ninguém. Concordo que algumas pessoas possam vir a cair por não suportarem a glória que estão sentindo, em determinado momento, mas sem perderem a consciência. Isso aconteceu com o apóstolo João (Ap 1).

Em Lucas 4.35, está escrito: “E Jesus o repreendeu, dizendo: Cala-te e sai dele. E o demônio, lançando-o por terra no meio do povo, saiu dele, sem lhe fazer mal”. O Senhor não arremessa pessoas ao chão mediante sopros “ungidos” e golpes de paletó. Quem gosta de lançar as pessoas ao chão é o Diabo (Mc 9.17-27). Jesus, o maior Pregador que já andou na terra, e seus discípulos nunca impuseram as mãos sobre pessoas nem lançaram sobre elas parte de suas roupas a fim de derrubá-las.

Olhemos para o Senhor Jesus. Ele andou na terra fazendo o bem e curando a todos os oprimidos do Diabo porque Deus era com Ele (At 10.38). É perigoso quando pensamos que o culto que agrada a Deus é “sem limites”. À luz da Bíblia, tudo deve ser regulado, controlado pelo Espírito Santo e pela vontade de Deus expressa em sua Palavra (Mt 7.15-23; 1 Jo 4.1; 1 Ts 5.21; 1 Co 14.29; Jo 7.24, etc.).

4 comentários:

  1. muito bom, belo texto, tb sou pentecostal e creio no sobrenatural de Deus, agora modismos e heresias to foraaaaaaaaaaaaaaa.

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  2. Graça e paz Celio.
    Uma coisa é ser pentecostal outra coisa é ser herético, mas no meio neopentecostal o que mais se vê é heresia.
    Fique na Paz!
    Pr. Silas Figueira

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  3. Paz do Senhor Pastor Silas!
    Não concordo com tudo que o Pastor Ciro escreve em outros assuntos,porém, dou graças a Deus pela vida dele nesta área.Ele é um apologista vigoroso e toma posições firmes contra toda essa enxurrada de heresias que permeiam o arraial dos santos. Recomendo os livros "Evangelhos que Paulo Jamais Pregaria", "Erros que os pregadores devem evitar" e "Mais erros que os pregadores evitar", todos de sua autoria. O autor faz uma abordagem bíblica com boas doses de humor inteligente,e dispara contra essas esquisitices que essas figuras inventam.
    Falando em livros,acabei de ler o (Deus é Soberano),que voce me enviou.Tenho pouco tempo atualmente,mas creio que em breve lerei todos.Tenho algumas dúvidas porém vou ler o restante dos livros antes de expo-las.
    Quem sabe lendo o restante as dúvidas sejam dissipadas já que estou bem inclinado a isso.
    Fique na paz.
    Fábio Costa

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  4. Graça e paz Fábio.
    Antes de tomarmos uma posição teológica temos que analisar com muito cuidado a teologia estudada, sem preconceitos pré-determinados. Temos que pedir ao Espírito Santo que nos guie em toda verdade e só assim podermos nos posicionar em relação a nossa fé. Eu só te falo uma coisa, eu conheço muitos arminianos que se tornaram calvinista, mas eu não conheço nenhum calvinista que tenha se tornado arminiano. Pense nisso (rs).
    Fique na Paz!
    Pr. Silas Figueira

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