No capítulo 9 de Atos, é descrito o momento da conversão de Saulo, aquele que respirava ameaças e mortes contra os discípulos do Senhor. Lemos que um resplendor de luz do céu o cercou, a voz de Deus o confrontou, e a sua vida de perseguição e blasfêmia o condenou. Quando Cristo o chamou pelo nome, Saulo – tremendo e atônito – não pôde fugir do seu Salvador e simplesmente respondeu com um coração quebrantando: “Senhor, que queres que eu faça?” Imagine a alegria dos cristãos em Damasco quando ouviram que “aquele que já nos perseguiu anuncia agora a fé que antes destruía.” (Gal 1.23)
Porém, no mesmo capítulo, é citado um triste relato: os homens que iam com Saulo e presenciaram sua conversão não viram por si mesmos a urgente necessidade de se arrepender e confiar em Cristo. Esses homens se espantaram e “se atemorizaram muito” (Atos 22.9) mas, aparentemente, foi apenas uma emoção passageira. Não houve aquela “tristeza segundo Deus [que] opera arrependimento para a salvação” (2 Coríntios 7.10). Ouviram ainda o som da voz, mas não entenderam as palavras que foram ditas a Saulo. Viram o resplendor da luz que cercou a Saulo, mas não puderam enxergar nem a glória de Cristo nem a depravação de seus corações.
Quantas pessoas hoje podem ser descritas com essas palavras: Ouvem a voz, mas não vêem ninguém! Verdadeiramente pode ser dito que vêem ninguém porque não enxergam nem o homem pelo qual veio a morte nem o Homem por quem vem a ressurreição dos mortos (1 Cor 15.21). Não enxergam em si mesmos o homem natural que anda desgarrado como ovelha, se desviando pelo seu caminho. Eles param e temem, mas não vêem ninguém pois não enxergam a Pessoa de Cristo. São como a multidão de pessoas que assistiram a crucificação de Cristo, dos quais é dito: “o povo estava olhando” (Lucas 23.35) mas quão poucos olhavam com os olhos da fé. Assistiram a morte de Cristo com a mesma cegueira dos homens que assistiram a dramática conversão de Saulo sem enxergar razão para buscar o arrependimento para si mesmos.
Diante deste cenário, percebemos uma certa ironia: o meio pelo qual Deus alcança homens cegos à luz é justamente através da luz do evangelho da glória de Cristo (2 Cor 4.4). A palavra da cruz que é loucura para os que perecem é justamente o método divino para alcançar as almas perdidas. (1 Cor 1.18). Nos nossos dias – como nos dias de Saulo – a necessidade urgente da igreja não é de inventar métodos modernos para maravilhar e emocionar homens perdidos. O dever dos cristãos continua sendo de rogar a Deus que Ele cerque homens com sua luz, dando-lhes um coração que ecoa a humildade de Saulo: “Senhor, que queres que eu faça?”
Fonte: Blog Fiel
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