quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Elifaz, Bildade e Zofar – Quem é você?


Por Pr Marcelo Oliveira

Os três amigos de Jó eram idosos (Jó 32.6) e mais velhos que Jó (15.10), mas parece que o mais velho de todos era Elifaz. Seu nome aparece primeiro e, ao que parece, o Senhor o considerava o membro mais velho do trio (42.7). É associado a Temã, um lugar conhecido por sua sabedoria (Jr 49.7). Elifaz baseou seus discursos em duas coisas: nas próprias observações acerca da vida(“segundo eu tenho visto”, “Bem vi eu” – Jó 4.8; 5.3, 27) e numa experiência assustadora que teve certa noite (Jó 4.12-21). Elifaz confiava muito na tradição (Jó 15.18,19), e o Deus que ele adorava era um Legislador rígido.

“Acaso, já pereceu algum inocente?” (Jó 4.7), perguntou ele, e incontáveis mártires poderiam dizer: “Nós”! (Que dizer do Senhor Jesus Cristo?). Elifaz possuía uma teologia inflexível que não deixava muito espaço para a graça de Deus.

É bem possível que Bildade fosse o segundo mais velho, uma vez que seu nome aparece em segundo lugar e ele fala depois de Elifaz. Pode-se descrever Bildade com uma só palavra: legalista. Seu lema era: “Eis que Deus não rejeita o íntegro, nem toma pela mão os malfeitores” (Jó 8.20). Era capaz de citar provérbios antigos e, assim como Elifaz, tinha profundo respeito pela tradição. Bildade estava certo de que os filhos de Jó eram pecadores (vv. 4). Não demonstra sensibilidade alguma pelo amigo sofredor.

Zofar, era o mais jovem dos três e, sem dúvida, o mais dogmático. Fala como um diretor de escola dirigindo-se a uma turma de calouros ignorantes. Sua abordagem insensível é: “Sabe, portanto”! (Jó 11.6; 20.4). Não se mostra de modo algum, um homem misericordioso e diz a Jó que, tendo em vista seus pecados, Deus o estava fazendo sofrer muito menos que merecia (Jó 11.6).

Seu lema era: “Porventura, não sabes tu que desde os tempos [...] o júbilo dos perversos é breve e a alegria dos ímpios momentânea?” (Jó 20.4,5). É interessante observar que Zofar só se dirige a Jó em duas ocasiões. Ou ele decidiu que não era capaz de refutar a argumentação de Jó, ou considerou uma perda de tempo tentar ajudar o amigo.

Algumas das palavras desses três homens são boas e verdadeiras, enquanto outras são insensatas. De qualquer modo, por terem uma visão restrita, não puderam ajudar o amigo. Sua teologia não era vital nem vibrante, mas morta e rígida, e o Deus que tentaram defender era pequeno o suficiente para ser compreendido e explicado.

Por que alguém faria a um amigo do modo como esses três homens falaram a Jó? Por que estavam zangados? Encontramos uma pista nas palavras de Jó: “Assim também vós outros sois nada para mim; vedes o meu sofrimento e vos espantais” (Jó 6.21). Esses três homens estavam com medo de que as mesmas calamidades acontecessem com eles! Portanto, precisavam defender seus pressupostos de que Deus recompensa os justos e castiga os perversos. Enquanto fossem justos, nada de mal lhes aconteceriam nesta vida.

O medo e raiva muitas vezes andam juntos. Ao afirmar sua integridade e se recusar a dizer que havia pecado, Jó abalou a teologia dos seus amigos e tirou deles sua paz e confiança, o que, por sua vez, os deixou zangados. Deus usou Jó para destruir a teologia superficial desses homens e desafia-los a aprofundar-se no coração e na mente do Senhor. Infelizmente, preferiram o superficial e seguro ao invés do profundo e misterioso.

Elifaz, Bildade e Zofar têm vários discípulos hoje. Sempre que encontram uma pessoa que se sente obrigada a explicar tudo, que tem uma resposta pronta para todas as perguntas e uma fórmula fixa para resolver todos os problemas, voltamos ao monturo como Jó e seus três amigos. Quando isso acontecer, devemos nos lembrar das palavras do psicólogo suíço, Paul Tournier:

“Ansiamos quase sempre por uma religião fácil, simples de compreender e simples de seguir; uma religião sem mistérios, sem problemas insolúveis, sem dificuldades inesperadas; uma religião que nos permita escapar de nossa condição humana miserável; uma religião na qual o contato com Deus nos poupe de todo conflito, toda incerteza, todo sofrimento e toda dúvida; em resumo, uma religião sem a cruz”.

Bibliografia: Wiersbe, Warren. Comentário Expositivo. Geográfica Editora. Terrier, Samuel. Jó. Editora Paulus.

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