Por Isaltino Gomes Coelho Filho
“Ele os ensinava, dizendo: Não está escrito: a minha
casa será chamada casa de oração para todas as nações? Mas vós a
transformastes num antro de assaltantes” (Marcos 11.17, Almeida Século
21)
“Mas”. Você conhece esta palavra. É uma conjunção
adversativa. Sua função é estabelecer um contraste entre duas
afirmações. Há um “mas” na palavra de Jesus que encima este artigo. Na
primeira sentença, encontramos o que Deus desejava que o templo de
Jerusalém fosse: uma casa que atraísse pessoas de todas as nações. Nela,
as pessoas de todas as raças poderiam orar a ele. Na segunda, iniciada
pela adversativa, o que os homens fizeram: transformaram-na num antro,
um covil, de assaltantes. Na primeira, a vontade de Deus. Na segunda, o
que os atos das pessoas produziram.
O templo recebia judeus do mundo inteiro, que traziam
seu dinheiro em moeda de outro país. Precisavam comprar animais para
oferecer em sacrifício, mas sua moeda não tinha valor em Jerusalém.
Algumas tinham efígie de algum rei, e os judeus não as aceitavam porque
isto lhes soava com idolatria. Por isso, os sacerdotes fizeram uma “casa
de câmbio” no pátio do templo. Também fizeram tendas para vendas de
animais para os sacrifícios. Outros vendiam azeite, sal e óleo que eram
necessários para os sacrifícios. O lugar santo, que deveria atrair fiéis
do mundo inteiro, com propósitos espirituais, se tornou um lugar de
comércio, lucro, extorsão, etc. E lugar de hipocrisia, porque os
sacerdotes aceitavam as moedas estrangeiras com efígie, muitas delas de
ouro, mas como as tinham como impuras pela idolatria, pagavam bem menos
por elas.
Jesus ficou indignado com isso e expulsou os
vendedores, os cambistas e não permitiu que atravessassem o lugar
conduzindo animais e mercadoria.
Com que facilidade as pessoas podem distorcer o que é
santo! A religião pode se tornar comércio, fonte de lucro, e não um
espaço para se buscar a Deus e conhecer a Jesus Cristo. É preciso ter
bastante cuidado e distinguir entre o que Deus recomenda em sua Palavra e
o que nós achamos que é o melhor. Os oficiais do templo estavam cheio
de boas intenções, como facilitar as coisas para quem não tinha a moeda
local ou precisava comprar um animal (ninguém faria uma viagem de navio
ou em caravanas carregando animais e aves). Mas com isso a santidade do
lugar ficou comprometida. Não podemos tomar atitudes baseados apenas em
boas intenções, e sim buscar o que seja a vontade de Deus. Nem sempre
isso nos parecerá claro, mas uma boa pista está aqui: o que está escrito
na Palavra de Deus? Esta atitude que tomarei vai honrar a Deus? É bom
lembrar que nem sempre o que pensamos é o que Deus deseja. Muito cuidado
com esta postura de alguns: “Farei o que estiver no meu coração!”. Esta
é a maneira mais fácil de errar. Nosso coração não é Deus, é pecador e
corrompido (leia Jeremias 17.9). E algo pode estar nele e ter sido
inspirado pelo Maligno. Quem pensa desta maneira se tem em alta conta,
porque presume que seu coração é completamente santo e totalmente sábio.
Nós precisamos ser guiados pela Palavra de Deus e não pelos nossos “eu
acho” ou “eu sinto”.
Neste episódio vemos também que fé e comércio nem
sempre têm uma convivência harmoniosa. Comerciar não é errado.
Precisamos comprar e para isso alguém tem que vender. Mas é preciso
bastante equilíbrio para não corromper o que é sagrado. O comércio da fé
que se verifica em nossos dias é uma vergonha e mau testemunho. Há
gente vendendo sabonete ungido, óleo santo, crucifixos feitos de lascas
da cruz de Cristo, pedaços da toalha com a qual o pregador cheio de
poder se enxugou, etc. A igreja precisa de recursos financeiros para
sobreviver, mas estes devem vir de dízimos e de ofertas, como a Bíblia
ensina, e não de venda de objetos e da comercialização da fé. Este autor
se recorda que em um pastorado seu, na Amazônia, foi chamado pelos pais
de uma criança para orar por ela, que estava enferma. Foi, orou, e
graças à misericórdia de Deus, a criança recuperou a saúde. Mas o que o
impressionou foi a pergunta do pai: “Quanto o senhor vai cobrar? Por que
na Igreja Tal o pastor pediu R$ 50,00 para ir lá em casa orar”. Que
tristeza! A família não era crente e procurou alguém para orar pelo
filho e esta pessoa pediu dinheiro! A ganância religiosa é um pecado
sombrio, que tira de Deus o aspecto de um Deus da graça e o torna em um
deus (com d mesmo) mesquinho, que age movido por dinheiro. Fuja dos
comerciantes da fé. E nunca seja um deles. A igreja precisa ser santa
não apenas no louvor, mas também na vida material, inclusive no jeito de
lidar com o dinheiro.
E há uma lição muito valiosa que passou despercebida
aos líderes judeus. Jesus se anunciou, em outro lugar, como sendo o novo
templo (João 12.13-21). O templo era o polo de atração para o mundo, na
teologia judaica. Com a chegada de Jesus, o polo de atração mudou. Não é
um prédio. É ele: “E eu, quando for levantado da terra atrairei todos a
mim!” (Jo 12.32). Os judeus do mundo inteiro sonhavam em ir um dia a
Jerusalém, para conhecer o templo, a casa de Deus, e ali manter comunhão
mais profunda com ele. No Novo Testamento, não precisamos ir a algum
lugar definido, mas basta crermos em Jesus Cristo. Ele é Deus conosco
(Is 7.14). A glória de Deus não está numa casa, mas em Jesus. É nele que
encontramos Deus.
E há mais uma verdade, decorrente dessa: agora nós
somos o templo de Deus (1Co 3.16). É em nós que a glória de Deus habita.
E é em nós que o mundo sem Cristo deve ver a glória de Deus. Que nossa
vida seja casa de oração, uma vida de comunhão com Deus, e não um antro
de assaltantes. Que ela honre não desonre a Deus.
Fonte: Isaltino Gomes Coelho Filho
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