Por Josafá Vasconcelos
Geralmente se tem por certo que todos
conhecem a Deus. Mas isso não corresponde à realidade. A ideia que as
pessoas tem de Deus é completamente distorcida e parcial. Primeiro por
falta de informação e conhecimento, tira-se conclusões apressadas
baseadas apenas na sabedoria popular. Embora possuamos o que Calvino
costumava chamar de "sensus divinitat", isto é, um senso inato
de que há um Deus e que podemos ter um certo conhecimento Dele através
do que nos revela a natureza, a ponto de sermos inescusáveis, o pecado
afetou nossa mente de tal forma que não somos mais capazes de ter uma
compreensão correta a respeito Dele por nós mesmos. Para falar a
verdade, nem somos dignos de cogitar a respeito de Deus ou, de modo
atrevido, perscrutá-lo. Deveríamos tremer só de pronunciarmos o Seu
Santo Nome, quanto mais de termos o desplante de sondá-lo; quem somos
nós? Somos todos como aqueles cegos da fábula oriental que foram levados
para saber como era um elefante. Começaram a tatear as partes do
paquiderme e anunciavam suas conclusões: o primeiro, apalpando a tromba,
gritou: "o elefante é como uma grande serpente!", o segundo abraçando
uma das pernas replicou: "não, é antes como um grosso tronco de
árvore!", e o terceiro, fazendo deslizar as mãos pelos lados do imenso
animal, retrucou: "É como uma parede ambulante!". Assim, uns dizem:
"Deus é amor!", outros: "Deus é Luz!", e ainda "Deus é verdade!", mas
sempre de forma parcial. Se desejamos ser salvos, precisamos conhecer a
Deus. Jamais teremos conhecimento correto da salvação tendo noções
distorcidas do Deus que salva. Então, qual seria a descrição confiável
do Criador? Como saber com Ele é? Jamais saberíamos se Ele mesmo não
quisesse graciosamente Se revelar. Felizmente Ele quis e o fez,
condescendendo com a nossa humílima condição, até onde podíamos
alcançar, Deus se revelou nas Escrituras! É através do Santo Livro, a
Palavra de Deus, que podemos, de forma correta, saber quem Deus é.
Contudo,
é bom que saibamos desde já que nunca seremos capazes de compreendê-lo
devido à Sua incomensurável grandeza. Somos criaturas finitas e jamais
abarcaremos o infinito. Somos criaturas, Ele é o Criador! A Bíblia diz
que "Ele habita em luz inacessível onde homem algum jamais penetrou..."
(I Tm 6:16). Mas de forma alguma se trata de um deus como o concebem os
deístas, ausente e totalmente alheio às suas criaturas e ao destino
delas. O Deus da Bíblia é um Deus imanente, que se compadece, age na
vida dos filhos dos homens e habita com eles: "Porque assim diz o Alto e
o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é santo: num alto e
santo lugar habito, e também com o contrito e humilde de espírito, para
vivificar o espírito dos humildes, e para vivificar o coração dos
contritos" (Is 57:15).
A Confissão de Fé de Westminster, documento de doutrina importantíssimo das Igrejas Reformadas, escrito pelos puritanos do século XVII, homens piedosos, distinguidos por sua fidelidade às Escrituras, faz a seguinte afirmação a respeito de Deus:
"Há um só Deus vivo e verdadeiro, o qual é infinito em seu ser e perfeições. Ele é um espírito puríssimo, invisível, sem corpo, membros ou paixões; é imutável, imenso, eterno, incompreensível, onipotente, onisciente, santíssimo, completamente livre e absoluto, fazendo tudo segundo o conselho de sua própria vontade, que é reta e imutável, e para a sua própria glória. É cheio de amor, é gracioso, misericordioso, longânimo, muito bondoso e verdadeiro galardoador dos que o buscam; é, contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia todo o pecado e de modo algum terá por inocente o culpado". Isto corresponde exatamente ao que a Bíblia ensina a respeito de Deus.
Observe bem esta frase: "completamente livre e absoluto, fazendo tudo segundo o conselho de sua própria vontade que é reta e imutável..." Lembre-se, nós estamos falando de um DEUS! Às vezes, não nos damos conta disso, estamos vivendo uma época tão soberba que parece que Deus é um igual, se não, pelo menos de alguém superior, mas que tem de prestar conta de seus atos. Como se dissessem: "nós permitimos que você exista, desde que seus atos como Deus estejam dentro dos nossos padrões de justiça! Queremos que você seja uma Deus de amor e respeite nosso livre arbítrio". Aliás, foi exatamente isso que Erasmo de Roterdã, um teólogo católico humanista, disse a Lutero numa discussão que travaram sobre a doutrina bíblica da Eleição. Erasmo, defendendo o livre arbítrio, disse a Lutero: "Deixa Deus ser amor! Ao que Lutero, defendendo a livre e soberana vontade de Deus em escolher os seus, respondeu: "Deixa Deus ser Deus!". Quando o apóstolo Paulo, defendendo a mesma doutrina em Romanos capítulo 9:8-24, responde a uma suposta objeção ao direito de Deus ter misericórdia de quem lhe aprouver ter misericórdia e compaixão que quem lhe aprouver ter compaixão, responde: "Mas, ó homem, que és tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dirá ao que a formou, por que me formaste assim? Ou não tem o oleiro poder sobre o barro para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra?". Seria mais ou menos se o dono de uma cerâmica recebesse, por parte das latrinas, uma reclamação formal pelo fato de não terem sido pratos! Ainda que tenham sido feitas com esmero, perfeitas e brilhantes! Ainda que tenhamos sido criados à imagem e semelhança de Deus, não passamos de criaturas. É bobagem essa estória de que fomos criados para fazermos o que quisermos, dotados de livre arbítrio e tudo mais, isso não é verdade. Fomos criados para obedecer a Deus, ser aquilo para o qual fomos criados e fazer o que Ele planejou que fizéssemos: "glorificar a Deus e goza-lo para sempre". O que Deus formulou para o homem no paraíso não se tratou de uma opção soberana de escolha concedida a ele entre pecar ou obedecer, ao contrário, era obedecer ou obedecer, pecar seria a morte!
Gostaria também de destacar a palavra "santíssimo" e o parágrafo final da Confissão: "é contudo, justíssimo e terrível em seus juízos, pois odeia o pecado e de modo algum terá por inocente o culpado".
Você já havia pensado neste aspecto considerando a pessoa de Deus?
Admitimos facilmente que Ele é santo sem nos apercebermos das sérias
implicações disso, contudo há sérios problemas para pecadores como nós
no fato de Deus ser santo! Se Ele é santo, terá que ser justo, odiar o
pecado e não ter por inocente o culpado! A Bíblia nos relata a visão que
Isaías, um santo profeta, teve da glória de Deus: "No ano da morte do
rei Usias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e sublime trono, e as
abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por cima dele;
cada um tinha seis asas; com duas cobriam o rosto, com duas cobriam os
pés e com duas voavam. E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo,
santo, santo é o Senhor dos Exércitos, toda terra está cheia de sua
glória. As bases do limiar se moveram à voz do que clamava e a casa se
encheu de fumaça. Então disse eu: Ai de mim! Estou perdido! Porque sou
homem de lábios impuros, e habito no meio de homens de impuros lábios, e
os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos!". A visão é gloriosa
e nos dá um vislumbre do que é a glória de Deus. Os Serafins, criaturas
santas que assistem constantemente na presença de Deus, temem a Sua
santidade. Está escrito: "Eis que Deus não confia nem nos seus santos;
nem os céus são puros aos seus olhos" (Jó 15:15), eis a razão porque
tinham seis asas. Com duas cobriam o rosto e com duas cobriam os pés.
Isto é um símbolo que significa reverência para com a santidade de Deus.
Estes seres celestiais, criados em pureza, não são achados dignos e nem
mesmo podem suportar o esplendor da glória que refulge na face daquele
que está sentado no trono; têm que cobrir o rosto, têm que cobrir os
pés; as asas designadas para voar significam a presteza que devem ter
para cumprir as suas ordens e não podem dizer outra coisa senão: "Santo!
Santo! Santo! É o Senhor dos Exércitos!". Que pureza! Que glória! Que
santidade! Deus habita em luz inacessível, onde homem algum jamais
penetrou! Todos os homens que tiveram apenas um vislumbre de Sua glória
caíram como mortos! "Mas o SENHOR Deus é a verdade; ele mesmo é o Deus
vivo e o Rei eterno; ao seu furor treme a terra, e as nações não podem
suportar a sua indignação" (Jr 10:10).
Fonte: Editora Fiel
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