terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Poder de Deus


Por Arthur W. Pink

Não poderemos ter correto conceito de Deus, se não pensarmos nEle como onipotente, igualmente como Onisciente. Quem não pode fazer o que quer e não pode realizar o que lhe agrada, não pode ser Deus. Como Deus tem uma vontade para decidir o que julga bom, assim tem poder para executar a Sua vontade. "O poder de Deus é aquela capacidade e força pela qual Ele pode realizar tudo que Lhe agrade, tudo que a Sua sabedoria dirija, e tudo que a infinita pureza da Sua vontade resolva. "... como a santidade é a beleza de todos os atributos de Deus, assim o poder é aquilo que dá vida e movimento a todas as perfeições da natu­reza divina. Como seriam vãos os conselhos eternos, se o poder não interviesse para executá-los! Sem o poder, a Sua misericór­dia seria apenas uma débil piedade, as Suas promessas um som vazio, as Sua ameaças mero espantalho. O poder de Deus é como Ele mesmo: infinito, eterno, incompreensível; “não pode ser re­freado, nem restringido, nem frustrado pela criatura” (S. Charnock).

“Uma coisa disse Deus, duas vezes a ouvi: que o poder pertence a Deus" (Salmo 62:11). "Uma coisa disse Deus", ou segundo a versão autorizada, KJ, 1611, "Uma vez falou Deus": nada mais é necessário! Passarão os céus e a terra, porém a Sua palavra permanece para sempre. "Uma vez falou Deus": como Lhe fica bem a Sua majestade divina! Nós, pobres mortais, pode­mos falar muitas vezes e, contudo, sem sermos ouvidos. Ele fala somente uma vez, e o trovão do Seu poder é ouvido em mil mon­tanhas. “E o Senhor trovejou nos céus, o Altíssimo levantou a sua voz; e havia saraiva e brasas de fogo. Despediu as suas setas, e os espalhou: multiplicou ratos, e os perturbou, Então foram vistas as profundezas das águas, e foram descobertos os fundamen­tos do mundo; pela tua repreensão, Senhor, ao soprar das tuas narinas" (Salmo 18:13-15).

"Uma vez falou Deus": vede a Sua imutável autoridade. “Pois quem no céu se pode igualar ao Senhor? Quem é semelhan­te ao Senhor entre os filhos dos poderosos?" (Salmo 89:6). "E todos os moradores da terra são reputados em nada; e segundo a sua vontade ele opera com o exército do céu e os moradores da terra: não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?" (Daniel 4:35). Esta realidade foi amplamente descortinada quando Deus Se encarnou e tabernaculou entre os homens. Ao leproso Ele disse: “...sê limpo. E logo ficou purificado da le­pra" (Mateus 8:3). A um que jazia no túmulo já fazia quatro dias, Ele bradou: "... Lázaro, sai para fora. E o defunto saiu..." (João 11:43-44). Os ventos tempestuosos e as ondas bravias se aquietaram a uma só palavra dEle, Uma legião de demônios não pôde resistir à Sua ordem repassada de autoridade.

"O poder pertence a Deus", e somente a Ele. Nem uma só criatura, no universo inteiro, tem sequer um átomo de poder, salvo o que é delegado por Deus. Mas o poder de Deus não é ad­quirido, nem depende do reconhecimento de nenhuma outra auto­ridade. Pertence a Ele inerentemente. "O poder de Deus é como Ele mesmo, auto-existente, auto-sustentado. O mais poderoso dos homens não pode acrescentar sequer uma sombra de poder ao Onipotente. Ele não se firma sobre nenhum trono reforçado; nem se apóia em nenhum braço ajudador. Sua corte não é mantida por Seus cortesãos, nem toma Ele emprestado das Suas criaturas o Seu esplendor. Ele próprio é a grande fonte central e o originador de toda energia" (C. H. Spurgeon). Toda a criação dá testemunho, não só do grande poder de Deus, mas também da Sua inteira independência de todas as coisas criadas. Ouça o Seu próprio de­safio: "Onde estavas tu, quando eu fundava a terra? Faze-mo saber, se tens inteligência, Quem lhe pôs as medidas, se tu o sabes? Ou quem estendeu sobre ela o cordel? Sobre que estão fundadas as suas bases, ou quem assentou a sua pedra de es­quina?” (Jó 38:4-6). Quão completamente o orgulho do homem é lançado ao pó!

"Poder é usado também como um nome de Deus, "...o Filho do homem assentado à direita do poder de Deus, e vindo sobre as nuvens do céu*' (Marcos 14:62), isto é, à destra de. Deus. Deus e poder são tão inseparáveis que são recíprocos. “Como a Sua essência é imensa, não pode ser confinada a um lugar; como é eterna, não pode ser medida no tempo; assim a Sua essência é todo-poderosa, não sofrendo limite para a ação” (S. Charnock). "Eis que isto são apenas as orlas dos seus caminhos; e quão pouco é o que temos ouvido dele! Quem pois entenderia o trovão do seu poder?" (Jó 26:14). Quem é capaz de contar todos os monumentos do Seu poder? Mesmo aquilo que é demonstrado do Seu poder na criação visível está inteiramente fora da nossa ca­pacidade de compreensão, e menos ainda podemos conceber da onipotência propriamente dita. Há infinitamente mais poder abri­gado na natureza de Deus do que o expresso em todas as Suas obras.

"Partes dos Seus caminhos" contemplamos na criação, na providência, na redenção, mas apenas uma "pequena parte" do Seu poder se vê nessas obras. Isto nos é exposto extraordinaria­mente em Habacuque 3:4: "... e ali estava o esconderijo da sua força". Dificilmente se pode imaginar algo mais grandiloqüente do que as figuras deste capítulo todo, no entanto nele nada supera a nobreza desta declaração. O profeta (numa visão) viu o pode­roso Deus espalhando os outeiros e abatendo os montes, o que se julgaria espantosa demonstração de força. Nada disso, diz o nosso versículo; isso é mais o ocultamento do que a exibição do Seu poder. Que se quer dizer? Isto: é tão inconcebível, tão imenso, tão incontrolável o poder da Deidade, que as terríveis convulsões que Ele opera na natureza escondem mais do que revelam do Seu poder infinito!

É coisa bela juntar as seguintes passagens: "O que só esten­de os céus, e anda sobre os altos do mar" (Jó 9:8), que expressa o indomável poder de Deus. "...Ele passeia pelo circuito dos céus” (Jó 22:14), que fala da imensidade da Sua presença. "...anda sobre as asas do vento" (Salmo 104:3), que expressa a espantosa rapidez das Suas operações. Esta última expressão é deveras notável, Não é que “Ele voa” ou “corre”, mas que Ele “anda", e isso, nas "asas do vento" — sobre o mais impetuoso dos elementos, impelido com o máximo furor, e varrendo tudo com quase inconcebível velocidade, todavia sob os Seus pés, de­baixo do Seu controle perfeito!

Consideremos agora o poder de Deus na criação. "Teus são os céus, e tua é a terra; o mundo e a sua plenitude tu os fundaste. O norte e o sul tu os criaste..." (Salmo 89:11-12). Antes de poder trabalhar, o homem precisa ter ferramentas e material, mas Deus começou com nada, e só por Sua palavra fez do nada todas as coisas. O intelecto não pode captar isto. Deus "... falou, e tudo se fez, mandou, e logo tudo apareceu" (Salmo 33:9). A matéria primeva ouviu a Sua voz. "Disse Deus: Haja... e assim foi" (Gênesis 1). Bem podemos exclamar: "Tu tens um braço po­deroso; forte é a tua mão, e elevada a tua destra" (Salmo 89:13).

Quem, que olha para cima, para o céu da meia-noite e, com os olhos da razão, contempla as suas maravilhas em movimento; quem pode abster-se de indagar: do que foram feitos estes pode­rosos astros? Ê espantoso dizê-lo, foram produzidos sem material nenhum. Brotaram do vazio. A majestosa estrutura da natureza universal emergiu do nada. Que instrumentos foram usados pelo supremo Arquiteto para modelar as partes com tio refinada ele­gância e aplicar tão belo polimento ao todo? Como terá sido feita a junção de tudo numa estrutura primorosamente proporcionada e com tão magnífico acabamento? Um puro e simples fiat realizou tudo. Haja estas coisas, disse Deus. Nada acrescentou; e logo o edifício maravilhoso se ergueu, adornado com todo tipo de beleza, pondo à mostra inumeráveis perfeições, e proclamando em meio a extasiados serafins o louvor do seu grande Criador. "Pela pala­vra do Senhor foram feitos os céus, e todo o exército deles pelo espírito da sua boca" (Salmo 33:6, James Hervey, 1789).

Considere-se o poder de Deus na preservação. Nenhuma cria­tura tem poder para preservar-se a si mesma. "Porventura sobe o junco sem lodo? Ou cresce a espadana sem água?" (Jo 8:11). Tanto o homem como o animal pereceria, se não houvesse erva para alimento, e a erva murcharia e morreria, se o solo não fosse refrescado com chuvas frutíferas. Portanto, Deus é denominado o Preservador dos "homens e os animais" (Salmo 36:6), Ele sus­tenta "... todas as coisas, pela palavra do seu poder..." (Hebreus 1:3). Que maravilha de poder divino é a vida pré-natal de todo ser humano! Que uma criança possa sequer viver, e por tantos meses, num alojamento apertado e estranho assim, é inex­plicável sem o poder de Deus. Verdadeiramente, Ele "... sustenta com vida a nossa alma..." (Salmo 65:9).

A preservação da terra, guardando-a da violência dos mares é outro claro exemplo do poder de Deus. Como é que aqueles elementos em fúria ficaram encerrados dentro daqueles limites em que primeiro se alojaram, permanecendo em suas baías e canais sem inundar a terra e sem fazer em pedaços a parte mais baixa da criação? A condição natural da água é ficar acima da terra, por ser mais leve, e imediatamente abaixo do ar, por ser mais pesada. Quem põe restrições à qualidade natural da água? O ho­mem certamente que não, e não tem poderes para tanto. Ê uni­camente o fiat do Criador da água que a refreia. "E disse: Até aqui virás, e não mais adiante, e aqui se quebrarão as tuas ondas empoladas" (Jó 38:11). Que altaneiro monumento ao poder de Deus é a preservação do mundo!

Considere-se o poder de Deus no governo. Tome-se a restri­ção que Ele impõe à ruindade de Satanás, " .., o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar" (1 Pedro 5:8). Satanás está cheio de ódio a Deus, e de diabólica inimizade contra os homens, particularmente contra os santos. Aquele que invejou a Adão no paraíso, não quer que sintamos o prazer de usufruirmos nenhuma das bênçãos de Deus. Se ele pudesse fazer o que deseja, trataria todos os homens como tratou Jó: enviaria fogo do céu sobre os frutos da terra, destruindo o gado, faria vendavais derribarem nossas casas, e co­briria de chagas os nossos corpos. Mas, embora mal percebido pelos homens, Deus o refreia em grande medida, impede-o de levar a cabo os seus maus desígnios, e lhe impõe limites dentro das Suas ordenações.

Assim também Deus restringe a corrupção natural dos ho­mens. Ele suporta suficientes erupções do pecado para mostrar que terríveis estragos têm sido causados pela apostasia do homem, que rompeu com o seu Criador, mas quem pode conceber a que medonho extremo os homens iriam se Deus retirasse a Sua mão repressora? A boca dos ímpios "... está cheia de maldição e amargura. Os seus pés são ligeiros para derramar sangue" (Ro­manos 3:14-15). Esta é a natureza de cada um dos descendentes de Adão. Então, que desenfreada licenciosidade e obstinada lou­cura triunfariam no mundo, se o poder de Deus não se interpu­sesse para fechar as comportas do mal! Ver Salmo 93:3-4.

Considere o poder de Deus no juízo. Quando Ele fere, nin­guém Lhe pode resistir: ver Ezequiel 22:14, Quão terrivelmente isso foi exemplificado no Dilúvio! Deus abriu as janelas do céu e rompeu as grandes fontes do abismo, e (excetuando-se os que estavam na arca) a raça humana inteira, impotente diante do fu­ror da Sua ira, foi tragada. Uma chuva de fogo e enxofre caiu do céu, e as cidades da planície foram exterminadas. O Faraó e todos os seus exércitos nada puderam, quando Deus soprou sobre eles no Mar Vermelho. Que palavra terrificante, a de Romanos 9:22: "E que direis se Deus, querendo mostrar a sua ira, e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita paciência os vasos da ira, preparados para a perdição". Deus manifestará o Seu tremendo poder sobre os reprovados, não apenas encarcerando-os na Geena, mas preservando sobrenaturalmente os seus corpos como também as suas almas em meio às chamas eternas do Lago de Fogo.

Bem que deveriam tremer todos, diante de um Deus tal! Tratar desconsideradamente Aquele que pode esmagar-nos mais fa­cilmente do que nós a uma traça, é suicídio. Desafiar abertamen­te Aquele que esta revestido de onipotência, que pode rasgar-nos em pedaços ou lançar-nos no inferno na hora que quiser, é o cúmulo da insanidade. Para reduzi-lo ao seu plano mínimo, é simplesmente parte da sabedoria dar ouvidos à Sua ordem: "Bei­jai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se inflamar a sua ira..." (Salmo 2:12).

Bem que a alma iluminada deve adorar um Deus tal! As estupendas e infinitas perfeições de um Ser como Deus requerem fervoroso culto. Se homens de poder e renome reclamam a admi­ração do mundo, quanto mais deve o poder do Onipotente en­cher-nos de assombro e mover-nos a prestar-Lhe homenagem. "O Senhor, quem é como tu entre os deuses? Quem é como tu glorificado em santidade, terrível em louvores, obrando maravilhas?" (Êxodo 15:11).

Bem que o santo pode confiar num Deus tal! Ele é digno de implícita confiança. Nada Lhe é demasiado difícil, Se Deus fosse limitado em poder e força, aí sim, poderíamos ficar desesperados.

Mas, vendo que Ele Se reveste de onipotência, nenhuma oração ê tão difícil que Ele não possa responder, nenhuma necessidade é tão grande que Ele não possa suprir, nenhuma cólera é tão forte que Ele não possa subjugar, nenhuma tentação é tão poderosa que Ele não nos possa livrar dela, nenhuma miséria é tão pro­funda que Ele não possa aliviar, “... o Senhor é a força da minha vida; de quem me recearei?" (Salmo 27:1). "Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera, a esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gera­ções, para todo o sempre. Amém" (Efésios 3:20-21).

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Fonte:
Os Atributos de Deus, Arthur W. Pink, Ed. PES.

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