segunda-feira, 15 de julho de 2013

O Que é Propiciação?


Por Pr. Silas Figueira

Às vezes encontramos na Bíblia algumas palavras não tão comuns, e a intenção de Deus obviamente não é de que somente conheçamos estas palavras, mas que tomemos consciência de que elas se referem a realidades espirituais, e que estas realidades existem para serem desfrutadas real e plenamente pela Igreja. A Igreja é a depositária do Evangelho, não só das palavras, mas também das realidades espirituais nomeadas ou denominadas por estas palavras. Falamos recentemente sobre o que é Expiação. Hoje queremos abordar o termo Propiciação. Qual o seu significado e qual a importância dela para nós.

DEFINIÇÃO

 “Propiciação”, o que é isto exatamente? O termo é enigmático e muitos nunca ouviram falar dele, a não ser em algum versículo bíblico em que a palavra aparece. E talvez não tenham se apercebido dele. A melhor explicação para o termo é que nos diz que “propiciação significa a remoção da ira mediante a oferta de algum presente”. Era um ato presente na política internacional no Oriente Antigo, quando um rei de alguma nação, para se manter seguro, enviava presente a outro rei, de uma nação mais forte. Era um gesto destinado a cultivar boas relações.

NO SENTIDO BÍBLICO

O verbo hebraico que traz a ideia de propiciação é kipper, com a ideia de fazer amizade, de juntar partes opostas e até mesmo em conflito. No Novo Testamento, a ideia mais próxima é “reconciliação”. A ideia do Novo Testamento se entende bem em 2Coríntios 5.21. O sentido do texto é que Deus ofereceu Cristo como presente ao mundo para fazer as pazes com o mundo. É um conceito que nos parece estranho, mas mostra que, no Novo Testamento, Deus toma a iniciativa, em Jesus, de propor as pazes ao homem.1

Podemos dizer que propiciar é colocar-se a favor de alguém. O homem estava contra Deus, havia pecado, e por tanto o juízo de Deus estava contra ele, de maneira que algo deveria ser feito para que Deus pudesse estar a favor do homem e não contra ele. Propiciar é fazer todo necessário para que o homem se volte para Deus, e Deus para o homem; mas faltava uma base para que isto ocorresse por isso Deus enviou Jesus Cristo Jesus para ser a nossa propiciação.

Podemos ver isto na primeira epístola do apóstolo João. Nela vemos o primeiro aspecto da obra da cruz de Cristo como nossa propiciação,

1 João 2:1, 2 :

“Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo;e ele é a propiciação pelos nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro”.

A palavra grega (hilasmos) traduzida "propiciação" em 1 João 2.2 e 4.10 aparece somente estas duas vezes no Novo Testamento. Esta palavra descreve um aspecto importantíssimo da salvação. Esta palavra significa satisfação e dá a ideia de aplacar a ira de Deus em relação ao pecado do homem. Nesta passagem João mostra que Jesus propicia a Deus com relação a nossos pecados.

Hernandes Dias Lopes citando Augustos Nicodemos diz que a propiciação está ligada aos sacrifícios do Antigo Testamento. Animais eram sacrificados e o seu sangue derramado como “pagamento” pelo pecado (Lv 16.14,15; 17.11). Os sacrifícios eram oferecidos para cobrir os pecados e afastar a ira de Deus sobre os pecadores. Cristo é o sacrifício, providenciado pelo próprio Deus, que satifaz a justa ira de Deus pelos nossos pecados, e desvia essa ira de Deus sobre nós, apaziguando a Deus e nos reconciliando com Ele (1Jo 4.10; Rm 3.25,26; 1Pe 2.24; 3.18).2

Se Deus é santo e não suporta o pecado como então remover a ira de Deus? No Antigo Testamento nós podemos observar que a ira de Deus não se removia, ela se desviava. Observe o que o salmista nos fala:

“Ele, porém, que é misericordioso, perdoa a iniquidade e não destrói; antes, muitas vezes desvia a sua ira e não dá largas a toda a sua indignação”. Salmo 78.38.

O pecado tem um preço e o preço é a morte (Ez 18.20 e Rm 6.23). O pecado é tão sério aos olhos de Deus que exige a morte do pecador. A única maneira de se aniquilar o peso do pecado é com a morte. Por isso Deus instituiu o sacrifício no culto do Antigo Testamento para ensinar este aspecto. É a morte, através do derramamento do sangue, que faz a propiciação ou expiação dos nossos pecados.

Jesus não é apenas o propiciador, ele é a propiciação. Como ele fez isso? Para defender-nos diante do tribunal de Deus era necessário que a lei violada por nós fosse cumprida e que a justiça de Deus ultrajada por nós fosse satisfeita. Jesus veio como nosso fiador e substituto. Ele tomou sobre si os nossos pecados. Ele sofreu o duro golpe da lei em nosso lugar. Ele levou sobre si a nossa culpa. Ele bebeu sozinho o cálice da ira de Deus contra o pecado. ele se fez pecado por nós. Ele foi humilhado, cuspido, espancado, moído. Ele morreu a nossa morte. A cruz é a cruz é a justificação de Deus. Pelo seu sacrifício, nossos pecados foram cancelados. Agora estamos quites com a lei de Deus e com a justiça de Deus. Agora estamos justificados. Jesus é a nossa propiciação pelos nossos pecados.3  

Os sacrifícios de animais, como vimos, aplacavam a ira de Deus momentaneamente. Por isso foi necessário a vinda de Jesus como nosso Cordeiro Pascal para morrer por nós e ser a nossa propiciação diante de Deus. Como está escrito:

“Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no Espírito” (1 Pe 3.18).

Nada ocorreu de mais nobre na história da humanidade, do que a obra do calvário. O Justo morrendo pelos injustos, para que os injustos fossem feitos justiça de Deus. “Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós, para que, n’Ele, fôssemos feitos justiça de Deus”. ( 2 Co 5.21).

Notas
1 – Filho, Isaltino Gomes Coelho. A Doutrina da Propiciação. http://www.isaltino.com.br/doctos/art66.pdf, acessado em 15/07/2013.  
2 – Lopes, Hernandes Dias. 1, 2, 3 João, Como ter garantia da salvação. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2010, p. 86.   

3 – Lopes, Hernandes Dias. 1, 2, 3 João, Como ter garantia da salvação. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2010, p. 87.   

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