Às vezes encontramos na
Bíblia algumas palavras não tão comuns, e a intenção de Deus obviamente não é
de que somente conheçamos estas palavras, mas que tomemos consciência de que elas
se referem a realidades espirituais, e que estas realidades existem para serem
desfrutadas real e plenamente pela Igreja. A Igreja é a depositária do Evangelho,
não só das palavras, mas também das realidades espirituais nomeadas ou
denominadas por estas palavras. Falamos recentemente sobre o que é Expiação. Hoje
queremos abordar o termo Propiciação. Qual o seu significado e qual a importância
dela para nós.
DEFINIÇÃO
“Propiciação”, o que é isto exatamente? O
termo é enigmático e muitos nunca ouviram falar dele, a não ser em algum
versículo bíblico em que a palavra aparece. E talvez não tenham se apercebido
dele. A melhor explicação para o termo é que nos diz que “propiciação significa a remoção da ira mediante a oferta de algum
presente”. Era um ato presente na política internacional no Oriente Antigo,
quando um rei de alguma nação, para se manter seguro, enviava presente a outro rei,
de uma nação mais forte. Era um gesto destinado a cultivar boas relações.
NO SENTIDO BÍBLICO
O verbo hebraico que
traz a ideia de propiciação é kipper,
com a ideia de fazer amizade, de juntar partes opostas e até mesmo em conflito.
No Novo Testamento, a ideia mais próxima é “reconciliação”. A ideia do Novo
Testamento se entende bem em 2Coríntios 5.21. O sentido do texto é que Deus
ofereceu Cristo como presente ao mundo para fazer as pazes com o mundo. É um conceito
que nos parece estranho, mas mostra que, no Novo Testamento, Deus toma a
iniciativa, em Jesus, de propor as pazes ao homem.1
Podemos dizer que propiciar
é colocar-se a favor de alguém. O homem estava contra Deus, havia pecado, e por
tanto o juízo de Deus estava contra ele, de maneira que algo deveria ser feito
para que Deus pudesse estar a favor do homem e não contra ele. Propiciar é
fazer todo necessário para que o homem se volte para Deus, e Deus para o homem;
mas faltava uma base para que isto ocorresse por isso Deus enviou Jesus Cristo
Jesus para ser a nossa propiciação.
Podemos ver isto na primeira epístola do apóstolo João. Nela vemos o primeiro aspecto da obra da cruz de Cristo como nossa propiciação,
1 João 2:1, 2 :
“Filhinhos
meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar,
temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo;e ele é a propiciação pelos
nossos pecados e não somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro”.
A palavra grega (hilasmos) traduzida "propiciação" em 1 João 2.2 e 4.10 aparece somente estas
duas vezes no Novo Testamento. Esta palavra descreve um aspecto importantíssimo
da salvação. Esta palavra significa satisfação e dá a ideia de aplacar a ira de
Deus em relação ao pecado do homem. Nesta passagem João mostra que Jesus propicia
a Deus com relação a nossos pecados.
Hernandes Dias Lopes
citando Augustos Nicodemos diz que a propiciação está ligada aos sacrifícios do
Antigo Testamento. Animais eram sacrificados e o seu sangue derramado como “pagamento”
pelo pecado (Lv 16.14,15; 17.11). Os sacrifícios eram oferecidos para cobrir os
pecados e afastar a ira de Deus sobre os pecadores. Cristo é o sacrifício,
providenciado pelo próprio Deus, que satifaz a justa ira de Deus pelos nossos
pecados, e desvia essa ira de Deus sobre nós, apaziguando a Deus e nos
reconciliando com Ele (1Jo 4.10; Rm 3.25,26; 1Pe 2.24; 3.18).2
Se Deus é santo e não
suporta o pecado como então remover a ira de Deus? No Antigo Testamento nós
podemos observar que a ira de Deus não se removia, ela se desviava. Observe o
que o salmista nos fala:
“Ele, porém, que é misericordioso, perdoa a iniquidade e não destrói; antes, muitas vezes desvia a sua ira e não dá largas a toda a sua indignação”. Salmo 78.38.
O pecado tem um preço e
o preço é a morte (Ez 18.20 e Rm 6.23). O pecado é tão sério aos olhos de Deus
que exige a morte do pecador. A única maneira de se aniquilar o peso do pecado
é com a morte. Por isso Deus instituiu o sacrifício no culto do Antigo
Testamento para ensinar este aspecto. É a morte, através do derramamento do
sangue, que faz a propiciação ou expiação dos nossos pecados.
Jesus não é apenas o
propiciador, ele é a propiciação. Como ele fez isso? Para defender-nos diante
do tribunal de Deus era necessário que a lei violada por nós fosse cumprida e
que a justiça de Deus ultrajada por nós fosse satisfeita. Jesus veio como nosso
fiador e substituto. Ele tomou sobre si os nossos pecados. Ele sofreu o duro
golpe da lei em nosso lugar. Ele levou sobre si a nossa culpa. Ele bebeu
sozinho o cálice da ira de Deus contra o pecado. ele se fez pecado por nós. Ele
foi humilhado, cuspido, espancado, moído. Ele morreu a nossa morte. A cruz é a
cruz é a justificação de Deus. Pelo seu sacrifício, nossos pecados foram
cancelados. Agora estamos quites com a lei de Deus e com a justiça de Deus. Agora
estamos justificados. Jesus é a nossa propiciação pelos nossos pecados.3
Os sacrifícios de
animais, como vimos, aplacavam a ira de Deus momentaneamente. Por isso foi
necessário a vinda de Jesus como nosso Cordeiro Pascal para morrer por nós e
ser a nossa propiciação diante de Deus. Como está escrito:
“Pois
também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos,
para conduzir-vos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no Espírito”
(1 Pe 3.18).
Nada ocorreu de mais
nobre na história da humanidade, do que a obra do calvário. O Justo morrendo
pelos injustos, para que os injustos fossem feitos justiça de Deus. “Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez
pecado por nós, para que, n’Ele, fôssemos feitos justiça de Deus”. ( 2 Co
5.21).
Notas
1 – Filho, Isaltino Gomes Coelho. A Doutrina da
Propiciação. http://www.isaltino.com.br/doctos/art66.pdf,
acessado em 15/07/2013.
2 – Lopes, Hernandes
Dias. 1, 2, 3 João, Como ter garantia da salvação. Ed. Hagnos, São Paulo, SP,
2010, p. 86.
3
– Lopes, Hernandes Dias. 1, 2, 3 João, Como ter garantia da salvação. Ed. Hagnos,
São Paulo, SP, 2010, p. 87.
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