sexta-feira, 12 de julho de 2013

Deus é o responsável pelo crescimento da igreja


E o Senhor lhes acrescentava todos os dias os que iam sendo salvos- Atos 2:47

Essa sentença é a parte final do verso 47 de Atos 2. Segundo a tradução apresentada (NVI), existe um processo de acrescentar à Igreja aqueles que diariamente estavam sendo salvos pela proclamação do evangelho feita pelos cristãos. Tal ação é atribuída ao Senhor (que nesse caso parece indicar Deus Pai) como Aquele que acresce à Igreja seus novos membros.

A sentença de At.2.47 é assim lida em grego: “ὁ δὲ κύριος προσετίθει τοὺς σῳζομένους καθʼ ἡμέραν ἐπὶ τὸ αὐτό”. “Mas, o Senhor estava acrescentando-lhes aqueles que estavam sendo salvos todos os dias” (Paráfrase pessoal). A ideia em se usar o verbo ser no gerúndio acompanhado do verbo principal também do gerúndio, não é para fazer o texto soar como se um atendente de telemarketing estivesse lendo o texto. Ao contrário, é para enfatizar o processo estabelecido no texto e atribuído ao Senhor.

Para se compreender melhor a dinâmica do texto, dois detalhes devem ser notados:

(1) προσετίθει está no imperfeito do indicativo, o que indica um processo recorrente no passado, por isso idiomaticamente traduzido como “estava acrescentando”. Esse uso do Imperfeito é chamado de Iterativo (D.B. Wallace, Greek Grammar Beyond the Basics, p.546, A.T. Robertson, Grammar of the Greek New Testament, p.891). Wallace sugere que o sentido desse verbo seja algo similar a: “E o Senhor estava continuamente acrescentando” (p.547).

(2) σῳζομένους é um particípio presente e passivo, o que sugere uma ação temporariamente concomitante com o do verbo principal, tal qual apresentada na tradução supra-citada. Ou seja, do ponto de vista do tempo do verbo principal (προσετίθει), existe um processo continuado no presente expresso pelo particípio (σῳζομένους) ( “Via de regra, o particípio presente oferece um ação linear. Ele também pode ser relativo em tempo. Essa ação relativa de tempo é normalmente simultânea” – A.T. Robertson, p.1115).

Alguns gramáticos sugerem que o particípio pode ter força no futuro (Zerwick,Biblical Greek, §282), ou seja, “aqueles que serão salvos” (cf. Cor.2.15). Duas objeções podem ser feitas à essa opção:

(1) A comparação com 2Cor.2.15 não representa um bom paralelo, pois ἐσμὲν, o verbo principal da sentença em 2Co.2.1 5está no presente, ao passo que em At.2.47, ele está no imperfeito.

(2) Pelo fato de o verbo principal estar no imperfeito e o particípio no presente, parece mais natural ao texto que a ação apresentada pelo particípio (salvação) seja concomitante com o tempo do verbo principal (acréscimo). Sendo assim o sentido é que o acréscimo à igreja feito pelo Senhor e a salvação são simultâneos.

Ernest DeWitt Burton apóia a tradução supra-citada e afirma que normalmente, esse particípio, presente e passivo representa uma ação continuada, e que erroneamente é confundida pelo tradutor (nesse caso de língua inglesa) como um particípio perfeito, distorcendo o sentido da passagem (Burton, Moods and Tenses in N. T. Greek, pp. 57). Burton denomina esse particípio como “presente progressivo de ação simultânea” (p.58).

Esse recurso gramático-linguístico é também teologicamente significante. Se o ato divino em acrescentar à igreja é simultâneo ao ato de salvar, é possível que o autor tenha em mente o mesmo ato salvífico em diferentes perspectivas: Deus é quem acrescenta à igreja àqueles que respondem positivamente à pregação do evangelho feita pela comunidade cristã. Embora o termo salvar tenha como agente primário o próprio Deus, em alguns casos (1Cor.9.22), o agente secundário da salvação é apresentado como aquele que salva. Não seria espantoso encontrar no uso desses dois verbos feitos por Lucas a indicação desse fato.

Em outras palavras, esse texto aponta para alguns fatos que devem ser enaltecidos aqui:

(1) O Senhor Deus é a causa primária da salvação: A ação de acréscimo à igreja é feita pelo Senhor, pois ele é o responsável por tal ação. Sabemos que serão salvos apenas aqueles que foram destinados à salvação (At.13.48). William Carey, o pai das missões modernas, sobre isso atestou: “Temos a certeza de que somente aqueles que foram destinados para a vida eterna irão crer, e que somente Deus pode adicionar à igreja aqueles que serão salvos (…)“. A salvação pertence ao Senhor (Jn.2.2).

(2) A igreja era constante na prática do evangelismo: Essa comunidade primitiva era frequente em suas ações evangelísticas. Do mesmo modo que perseveravam diariamente na doutrina dos apóstolos, no partir do pão (celebração da ceia), na oração (v.42), na comunhão (v.43-45) e na vida comum da igreja (v.46), diariamente eles estavam envolvidos com a expansão da mensagem do Reino. Sabemos que embora Deus seja a causa primária da salvação, Ele mesmo designou que o meio da expansão do Reino seria por meio da pregação do evangelho (1Co.1.21), o que torna cada um dos cristãos responsáveis pela expansão do Reino. William Carey completou aquela sentença desse modo: “(…) No entanto, não podemos senão observar, com admiração, que Paulo, o grande campeão das gloriosas doutrinas da graça gratuita e soberana, foi o mais notável em seu zelo pessoal pela obra de persuadir homens a se reconciliarem com Deus“

(3) Não existe incoerência ou incompatibilidade entre a Soberania Divina e a Responsabilidade do homem: O fato de que Deus é a causa primária da salvação, não retira do cristão a responsabilidade em levar o evangelho. Na verdade, é baseado na certeza de que somente Deus pode abrir o coração dos homens para que possam ouvir o evangelho (At.16.14) que nós cristãos seguimos na pregação do evangelho (At.8.4). Sabemos que a conversão do homem do estado de pecado para a percepção e recebimento da graça é um milagre que somente o Deus Todo-Poderoso pode fazer. Por isso, devemos nos empenhar na expansão do evangelho como estavam empenhados nossos irmãos do passado, baseados na certeza de que o milagre da salvação pertence ao Senhor, não às nossas habilidades, métodos ou retórica.

(4) Deus não salva pessoas sem adicioná-las à igreja: A igreja é a guardiã da verdade divina (1Tm.3.15), como já nos instruiu João Calvino: “A Igreja mantém a verdade porque, por meio da pregação, a Igreja a proclama, a conserva pura e íntegra, a transmite à posteridade… O silêncio da Igreja significa o afastamento e a supressão da verdade“. A comunidade primitiva entendia que a verdade era apresentada e defendida na comunidade dos salvos e não na vida isolada à parte da comunidade cristã. Nesse sentido, entendemos que a intenção divina é que os salvos pela graça desfrutem dos benefícios do convívio cristão mútuo em comunidade. Não existe benefício para o cristão na vida à parte do Corpo de Cristo.

“TEMOS A CERTEZA DE QUE SOMENTE AQUELES QUE FORAM DESTINADOS PARA A VIDA ETERNA IRÃO CRER, E QUE SOMENTE DEUS PODE ADICIONAR À IGREJA AQUELES QUE SERÃO SALVOS. NO ENTANTO, NÃO PODEMOS SENÃO OBSERVAR, COM ADMIRAÇÃO, QUE PAULO, O GRANDE CAMPEÃO DAS GLORIOSAS DOUTRINAS DA GRAÇA GRATUITA E SOBERANA, FOI O MAIS NOTÁVEL EM SEU ZELO PESSOAL PELA OBRA DE PERSUADIR HOMENS A SE RECONCILIAREM COM DEUS” William Carrey

Fonte: NAPEC

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