Creio
que a vida do pastor começa com o seu chamado. Muitos pensam que é o seminário
que faz o pastor, mas não é. O papel do seminário é a formação acadêmica do
vocacionado. Erwin Lutzer define o chamado pastoral assim: “O chamado de Deus é uma convicção interior, dada pelo Espírito Santo e
confirmada pela Palavra e pelo corpo de Cristo”.1 Agora é bom
deixar claro que existe o pastor chamado e o chamado pastor. O primeiro é
vocacionado por Deus, já o segundo se auto vocaciona.
A
vocação para o pastorado é a mais sublime de todas as vocações. O Rev.
Hernandes Dias Lopes citando John Jowett diz que vocação pastoral não acontece
quando você busca fazer medicina, e não consegue passar no vestibular; corre
para engenharia, e não logra êxito; bate à porta de outro curso universitário,
e também fracassa; então, conclui que Deus está abrindo a porta do ministério.
Ao contrário, vocação pastoral é quando todas as outras portas estão abertas,
mas você só anseia entrar pela porta do ministério. O chamado de Deus é
irrevogável e intransferível. Quando ele chama, chama eficazmente.2
Os vocacionados não são profissionais, frutos de uma decisão meramente humana
nem são sacerdotes separados por uma herança familiar. São homens separados com
um propósito divino.
CARACTERÍSTICAS
DO CHAMADO
Certamente
nem todos são chamados por Deus da mesma maneira. Deus chama pessoas diferentes,
em circunstâncias diferentes, em idades diferentes, para ministérios
diferentes. Ao olharmos para os homens de Deus, tanto no Antigo Testamento
quanto no Novo Testamento, encontramos pessoas com diversos chamados. O chamado
de Deus é intransferível, irrevogável e é uma chamada eficaz. Com ele obtemos a
firmeza de propósito para o ministério sem olhar para trás.
Como
já falamos o chamado não ocorre da mesma maneira com todos os vocacionados. Para
algumas pessoas a chamada pode ser repentina; para outras, pode ser gradativa.
Uma pessoa pode não sentir nenhum chamado até ser incentivada por outras
pessoas. Veja o exemplo de Eliseu:
“Partiu, pois, Elias
dali e achou a Eliseu, filho de Safate, que andava lavrando com doze juntas de
bois adiante dele; ele estava com a duodécima. Elias passou por ele e lançou o
seu manto sobre ele. Então, deixou este os bois, correu após Elias e disse:
Deixa-me beijar a meu pai e a minha mãe e, então, te seguirei. Elias
respondeu-lhe: Vai e volta; pois já sabes o que fiz contigo. Voltou Eliseu de
seguir a Elias, tomou a junta de bois, e os imolou, e, com os aparelhos dos
bois, cozeu as carnes, e as deu ao povo, e comeram. Então, se dispôs, e seguiu
a Elias, e o servia” (1Rs 19.19-21).
O
exemplo da vida de Elizeu se repetiu na vida do jovem teólogo João Calvino. Diz
a história que João Calvino passou a noite em Genebra depois que o inflamado
pregador Ferrel lhe apontou o dedo e disse: “Se
você não ficar aqui em Genebra e não ajudar o movimento da Reforma, Deus o
amaldiçoará!”. É certo que foi algo incomum, mas será que alguém discorda
de que Calvino fora chamado por Deus para ministrar em Genebra? Pergunta
Lutzer.3
Outro
exemplo que temos é o chamado de Jeremias, que foi chamado por Deus ainda
criança.
“A mim me veio, pois, a
palavra do SENHOR, dizendo: Antes que eu te formasse no ventre materno, eu te
conheci, e, antes que saísses da madre, te consagrei, e te constituí profeta às
nações. Então, lhe disse eu: ah! SENHOR Deus! Eis que não sei falar, porque não
passo de uma criança” (Jr 1.4-6).
O
apóstolo Paulo teve um chamado direto apesar de ser perseguidor da Igreja.
“Saulo, respirando
ainda ameaças e morte contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo
sacerdote e lhe pediu cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de que, caso
achasse alguns que eram do Caminho, assim homens como mulheres, os levasse
presos para Jerusalém. Seguindo ele estrada fora, ao aproximar-se de Damasco,
subitamente uma luz do céu brilhou ao seu redor, e, caindo por terra, ouviu uma
voz que lhe dizia: Saulo, Saulo, por que me persegues? Ele perguntou: Quem és
tu, Senhor? E a resposta foi: Eu sou Jesus, a quem tu persegues; mas levanta-te
e entra na cidade, onde te dirão o que te convém fazer”
(At 9.1-6).
“E, servindo eles ao
Senhor e jejuando, disse o Espírito Santo: Separai-me, agora, Barnabé e Saulo
para a obra a que os tenho chamado” (At 13.2).
“Pelo que, ó rei
Agripa, não fui desobediente à visão celestial, mas anunciei primeiramente aos
de Damasco e em Jerusalém, por toda a região da Judéia, e aos gentios, que se
arrependessem e se convertessem a Deus, praticando obras dignas de
arrependimento” (At 26.19,20).
No
entanto, vemos algo comum em todos eles, foi o Senhor quem os comissionou. Com
isso podemos aprender algumas lições:
O Senhor é quem dá pastores
à Sua Igreja. Ao olharmos para a vida dos
comissionados pelo Senhor através da lente das Escrituras Sagradas, nós
encontramos pessoas que questionaram o seu chamado, pois não se viam capazes
para realizar tão grande obra. Eram pessoas que, humanamente falando, não
tinham condições de exercer o chamado divino. Mas com isso aprendemos que quem
comissiona também capacita. Vejamos alguns exemplos bíblicos. Moisés era pesado
de língua - gago (Êx 4.10); Jeremias não passava de uma criança (Jr 1.6); Paulo
se considerava o menor dos apóstolos e o maior dos pecadores, no entanto o
Senhor o colocou no lugar de maior honra na história da Igreja. Pedro se via
como um homem pecador (Lc 5.8-10). Aprendemos com esses exemplos que nenhum
pastor pode fazer a obra do Senhor de forma eficaz com altivez e orgulho. A
soberba precede a ruína. A vaidade é a antessala do fracasso. Toda glória que
não é dada a Deus é glória vazia. Não estamos no ministério porque somos
alguém, estamos para anunciar o único que é digno de receber toda honra, glória
e louvor.4 Estamos no
ministério mediante a graça de Deus e não por capacidade humana.
Deus dá Pastores à Sua
Igreja. Em Efésios 4.11, nós encontramos a relação de cinco
ministérios específicos, apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres.
A maioria dos teólogos entende que pastores e mestres constituem um só ofício
com dupla função. O pastor ensina e exorta. A sua função é alimentar, cuidar,
proteger, vigiar e consolar as ovelhas (At 20.28-30). Embora todo pastor deva ser mestre, nem todo
mestre é pastor. Atualmente nós temos
visto uma distorção em relação ao que realmente seja ser pastor e pastorear.
Para
muitos o pastorado é simplesmente um status. Um título que foi alcançado
através do estudo em um seminário. Por isso que encontramos muitos pastores incrédulos;
e por não ter fé, o pastor incrédulo tem que direcionar seu ministério e seu
culto para áreas onde sua incredulidade passe mais despercebida. Daí, a
liturgia formalista, o ritual litúrgico elaborado, as recitações, as fórmulas,
os paramentos, as cores, os símbolos, tudo voltado para ocupar os sentidos de
maneira que a fé não faça falta. Não estou afirmando que toda igreja com
liturgia formalista seja necessariamente liderada por um pastor sem fé; apenas
que é mais fácil disfarçar a incredulidade em custos assim.5
Mas
se existe o infiel, existem também os fiéis. Os que levam Deus a sério e o seu
chamado para o ministério. São homens que deixaram seus projetos para realizar
o projeto de Deus. Que abraçaram a causa do Mestre sabendo que o que estavam
fazendo era para glória, honra e louvor do Senhor dos senhores apenas. Homens
que podem falar como o apóstolo Paulo: “Porém
em nada considero a vida preciosa para mim mesmo, contanto que complete a minha
carreira e o ministério que recebi do Senhor Jesus para testemunhar o evangelho
da graça de Deus” (At 20.24).
Notas:
1 – Lutzer, Erwin. De Pastor Para Pastor. Ed. Vida, São Paulo, SP, 2001: p. 14.
2 – Lopes, Hernandes Dias. De: Pastor A: Pastor. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008:
p. 35.
3 – Lutzer, Erwin. De Pastor Para Pastor. Ed. Vida, São Paulo, SP, 2001: p. 16.
4 - Lopes, Hernandes Dias. De: Pastor A: Pastor. Ed. Hagnos, São Paulo, SP, 2008:
p. 38.
5 – Lopes, Augustus Nicodemus. O Que Estão Fazendo Com a Igreja. Ed. Mundo
Cristão, São Paulo, SP, 5ª Reimpressão, 2010: p. 76.
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