Por Pr. Silas Figueira
A justificação é uma
doutrina evangélica revelada por Deus, e não descoberta pelo homem. Tanto judeus
como gregos são salvos da mesma maneira: não pelas obras da lei, mas pela graça
de Deus.1 Em nossos dias, a verdade bíblica da justificação é
desconhecida ou mal compreendida por muitos evangélicos. No entanto, ela foi a
questão central levantada pela Reforma Protestante do século 16. Assim como o
“sola Scriptura” foi denominado o “princípio formal” da Reforma, porque a
Bíblia é a fonte de onde procedem todas as autênticas doutrinas cristãs, a
justificação mediante a fé é o, seu “princípio material”, porque envolve a
própria substância ou essência do que se deve crer para a salvação.
Justificação
é o oposto exato de condenação. “Condenar” é declarar
uma pessoa culpada; “justificar” é declará-la sem culpa, inocente ou justa. Na Bíblia,
refere-se ao ato imerecido do favor de Deus através do qual Ele coloca diante
de si o pecador, não apenas perdoando-o ou isentado-o da culpa, mas também
aceitando-o e tratando-o como justo.2
A
justificação é um ato judicial de Deus, no qual Ele declara, com base na
justiça de Jesus Cristo, que todas as reivindicações da lei são satisfeitas com
vistas ao pecador. Ela é singular, na obra da redenção, em
que é um ato judicial de Deus, e não um ato ou processo de renovação, como é o
caso da regeneração, da conversão e da santificação. Conquanto diga respeito ao
pecador, não muda a sua vida interior. Não afeta a sua condição, mas, sim, o
seu estado ou posição, e nesse aspecto difere de todas as outras principais
partes da ordem da salvação. Ela envolve o perdão dos pecados e a restauração
do pecador ao favor divino. O arminiano sustenta que ela inclui somente aquele,
e não esta; mas a Bíblia ensina claramente que o fruto da justificação é muito
mais que o perdão. Os que são justificados têm “paz com Deus”, segurança da
salvação, Rm 5.1-10, e uma “herança entre os que são santificados”, At 26.18.
Devemos observar os seguintes pontos de diferença entre a justificação e a
santificação.
1. A justificação
remove a culpa do pecado e restaura o pecador a todos os direitos filiais envolvidos
em seu estado de filho de Deus, incluindo uma herança eterna. A santificação
remove a corrupção do pecado e renova
o pecador constante e crescentemente, em conformidade com a imagem de Deus.
2. A justificação dá-se
fora do pecador, no tribunal de Deus, e não muda a sua vida interior, embora a
sentença lhe seja dada a conhecer na vida interna do homem e gradativamente
afete todo o seu ser.
3. A justificação
acontece uma vez por todas. Não se repete, e não é um processo; é imediatamente
completa e para sempre. Não existe isso, de mais ou menos justificação; ou o homem
é plenamente justificado, ou absolutamente não é justificado. Em distinção
disto, a santificação é um processo contínuo, que jamais se completa nesta
existência.
4. Enquanto que a causa
meritória de ambas está nos méritos de Cristo, há uma diferença na causa
eficiente. Falando em termos de economia, Deus o Pai declara justo o pecador, e
Deus o Espírito o santifica.3
Hernandes Dias Lopes
citando Warren W. Wiersbe diz que uma vez que fomos “justificados pela fé”, nunca
mais seremos declarados culpados diante de Deus. A justificação também é
diferente de “indulto”, pois um criminoso indultado ainda tem uma ficha na qual
constam seus crimes. Quando um pecador é justificado pela fé, seus pecados
passados não são mais lembrados nem usados contra ele, e Deus não registra mais
suas transgressões (Sl 32.1,2; Rm 4.1-8).4
Podemos concluir
dizendo que a justificação é a resposta de Deus à mais importante de todas as
questões humanas: Como uma pessoa pode se tornar aceitável diante de Deus? A
resposta está clara no Novo Testamento, especialmente nos escritos de Paulo,
como a passagem clássica de Romanos 3.21-25. Biblicamente, a justificação é um
conceito jurídico ou forense, e tem o significado de “declarar justo”. É o ato
de Deus mediante o qual ele, em sua graça, declara justo o pecador, isentando-o
de qualquer condenação. Infelizmente, a palavra portuguesa “justificação”,
originária do latim, dá a ideia de “tornar justo”, no sentido de produzir
justiça no justificado. Mas o termo grego original dikaiosyne não se refere a uma mudança intrínseca no indivíduo, e
sim a uma declaração feita por Deus. Visto que não temos justiça própria e
somos culpados diante de Deus, ele nos declara justos com base na expiação de
nossos pecados por Cristo e na sua justiça imputada a nós.
Pode-se dizer que a
justificação está estreitamente relacionada com três princípios da Reforma: “sola gratia”, “sola fides” e “solo
Christo”. Daí, James Montgomery Boyce a define como “um ato de Deus pelo qual ele declara os pecadores justos somente pela
graça, somente por meio da fé, somente por causa de Cristo”. Assim, a fonte
da justificação é a graça de Deus, o fundamento da justificação é a obra de
Cristo e o meio da justificação é a fé. A fé é o canal através do qual a
justificação é concedida ao pecador que crê; é o meio pelo qual ele toma posse
das bênçãos obtidas por Cristo (como a paz com Deus, Rm 5.1). Ela não é uma boa
obra, mas um dom de Deus, como Paulo ensina em Efésios 2.8-9. É o único meio de
receber o que Deus fez por nós (“sola fides”), ficando excluídos todos os
outros atos ou obras.5
Nota:
1
– Lopes, Hernandes Dias. Gálatas, a carta da liberdade cristã. Ed. Hagnos, São
Paulo, SP, 2011: p. 115.
2
– Stott, John R. W. A Mensagem de Gálatas. ABU Editora, São Paulo, SP, 1989: p.
58.
3
– Berkhof, Louis. Teologia Sistemática. Ed. Cultura Cristã, Cambuci, São Paulo,
SP, 4ª edição, 2012: p. 473-474.
4
– Lopes, Hernandes Dias. Gálatas, a carta da liberdade cristã. Ed. Hagnos, São
Paulo, SP, 2011: p. 116.
5
– Matos, Alderi Souza de. Justificação pela fé: o coração do evangelho. http://www.mackenzie.br/7136.html,
acessado em 18/07/2013.
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