quinta-feira, 19 de abril de 2012

Uma questão de limites


Por Sérgio Lyra

Há algumas semanas atrás li a postagem de um jovem cristão na rede social Facebook, na qual ele se dizia incapacitado para identificar e estabelecer os limites adequados para a sua intimidade. Ele se apresentava como alguém machucado, frustrados com as experiências que havia construído. A sua conclusão foi a seguinte: “Por não haver um manual”, optou por se entregar ao relativismo dizendo que “cada um estabeleça o seu limite!”. Li aquele pequeno texto e fiquei muito preocupado com o jovem. Além disso, ninguém deu uma resposta que viesse a ajudá-lo, de fato. Por isso, resolvi escrever este texto, como uma proposta sincera a postagem do jovem, apresentando um manual especial e eficiente, a Palavra de Deus, que ensina e orienta eficazmente sobre o assunto.

Bem, em primeiro lugar devemos saber que a existência de limites é fator indispensável para qualquer vida social ordeira, e eles são expressos por leis e costumes de um povo. Todavia, não basta existir limites coletivamente estabelecidos e conhecidos para que tudo corra bem. Os limites de uma sociedade podem estar errados e os limitados podem não querer respeitar os limites, mesmo se estes estiverem certos. Como cristão, acredito que a Bíblia supre plenamente a questão dos limites inadequados, pois ela é a revelação perfeita de Deus para todos, um verdadeiro “manual do fabricante” para a humanidade. O Deus perfeito estabeleceu limites perfeitos e funcionais. Agir dentro dos limites funcionais significa funcionar para o que foi projetado e produzir resultados adequados e satisfatórios para si mesmo e para o contexto social. Se alguém quer conhecer e experimentar o bom de Deus (e adianto que não há nada melhor) precisa dedicar-se a conhecer e praticar os ensinos bíblicos. Leia, por exemplo, o Sermão da Montanha (Mateus 5 a 7). Ele é um excelente resumo dos princípios que regem o comportamento cristão.

Limites e intimidade

Sabendo que o assunto é muito amplo. Volto-me mais especificamente para a questão da intimidade. Esta é uma palavra muito especial, pois torna substantivo o que é íntimo, caracterizando algo do nosso interior. Nas Escrituras Sagradas, a intimidade é apresentada como um profundo compartilhar de vida interior (Sl 25.14). Assim, prioritariamente, quando se fala de intimidade deve-se pensar em comunhão intensa com o interior de alguém, acessos especiais e conhecimentos privilegiados. Fica claríssimo que o atual conceito de intimidade que a maioria das pessoas utiliza difere em muito do significado bíblico, pois basicamente o define como liberdade para carícias mais eróticas e excitantes. Acredito que o questionamento daquele rapaz reside exatamente nessa área.

No que diz respeito aos limites do relacionamento sexual, qualquer pessoa pode constatar que estes sofreram verdadeiros tsunamis nos últimos 30 anos. Se jovens de hoje ouvissem quais foram os limites que a maioria dos jovens cristãos utilizavam enquanto namoravam e noivavam nos anos 70, certamente diriam que esses jovens eram de “outro planeta”. Atualmente, se alguém me disser que está namorando, afirmo com toda a sinceridade, eu não sou mais capaz de dizer o que eles fazem quando estão juntos. A geração dos cristãos que nasceram após a segunda guerra mundial até 1965, foi educada em um ambiente com limites claros, que exigia respeito pelos outros e não apenas a satisfação ilimitada de seus prazeres.

Deixe-me exemplificar o que quero destacar no que se refere a quase exclusão de limites que o nosso contexto social urbano hoje vivencia. Certo domingo pela manhã, quando ia para a igreja, dei carona a uma mãe com a sua filhinha de apenas oito anos. A pequenina me perguntou: “pastor, BV é errado?”. Totalmente alheio ao significado da sigla e achando que se tratava da praia da Boa Viagem em Recife (PE), respondi: “Não filha, Boa Viagem é apenas um local como qualquer outro”. Mãe e filha começaram a rir e logo me tiraram da ignorância: “Pastor… BV significa Boca Virgem, ou seja, que nunca foi beijada”. Meu Deus, aquela garotinha de oito anos estava sendo pressionada na escola porque era BV! Agora, imagine a pressão sexual nos adolescentes que começam a lidar com a sua ebulição hormonal e são extremamente desejosos em experimentar algo novo e muito excitante. Os meios de comunicação digital, com apenas um ou dois cliques, expõem em segundos milhares de fotos e vídeos pornográficos a custo zero. Como ajudar o jovem a modelar seu caráter e controlar seus desejos lícitos se não houver limites que os ajude a visualizar e experimentar o que é realmente bom? No Salmo 119 versículo 9, o salmista fez a seguinte pergunta: “Como pode um jovem conservar pura a sua vida?” A resposta veio de imediato: “É só obedecer aos teus mandamentos.”, e isto, trocando em miúdos, é respeitar os limites estabelecidos por Deus (Sl 119.11).

Quem estabelece limites?

Surge então, a pergunta: quem deve estabelecer os limites: a igreja, a escola, o estado ou a família? A resposta é a seguinte: nenhum deles! Acredito que os limites já foram estabelecidos por Deus através da sua Palavra revelada. Assim a pergunta correta deve ser: quem é o responsável por ensinar e zelar pelos limites? Por ordem de prioridade: a família, a igreja e o estado. Estou plenamente consciente que muitos jovens que hoje são cristãos não vieram de lares evangélicos; nesses casos, a igreja deve se apresentar com uma prioridade especial.

No caso do jovem do Facebook, trata-se de um cristão e de família cristã. Mesmo conhecendo os bons limites de Deus para desfrutar de intimidade sadia com outra pessoa, ele resolveu experimentar o outro lado da moeda. Resolveu ouvir e ceder às tentações de suas paixões e questionou se ceder a elas não era melhor do que a proposta divina. Foi exatamente isto que Satanás fez com Eva. Instrumentos externos despertaram o desejo do coração (tentação) e quando esse mau desejo é atendido, os limites são desrespeitados e o pecado instala a sua desgraça (Tg 1.13-15). Na sua postagem digital, aquele jovem chegou à triste conclusão de que se tornara escravo de seus próprios sentimentos e desejos e, portanto, colhia grande desapontamento, embora sentisse prazer por alguns instantes ao “liberar” os limites de sua intimidade.

O Deus eterno, único e criador de todas as coisas, estabeleceu limites físicos como a gravidade, a nossa capacidade de produzir esforços, suportar calor, obter oxigênio, alimentação, etc. Ninguém ousa desconsiderar estes limites, pois se o fizer, logo sofrerá os danos. O mesmo Deus soberano também estabeleceu limites relacionais para todos. Note com atenção que quando alguém desconhece a Deus e a sua Palavra, os limites divinos são desrespeitados por ignorância, mas quando se conhece as Sagradas Escrituras trata-se de desobediência e rejeição. Quanto mais o ser humano se afasta de Deus, mais ele desrespeita os limites da sua intimidade (Rm 1.18-33). Todavia, como ele foi criado para viver bem, apenas sob limites divinamente preestabelecidos, a única postura humanamente razoável que lhe resta é deixar a questão dos limites no campo das relatividades: “Cada um faça o que acha que é bom e certo para si mesmo.”

Sempre me lembro do texto bíblico da carta aos Romanos 12.1-2, escrita pelo apóstolo Paulo. Ele nos alerta que os limites do cristão não são os mesmos do mundo que vive alheio a Deus. Sinto-me encorajado e disposto a encorajar os jovens crentes a estabelecerem e preservarem os limites santos e revelados na Bíblia para os seus desejos sexuais (1 Ts 4.3-4; Rm 6.11-22; 1 Co 7.1-2). Acredito, e eu mesmo experimentei na minha vida, que a vontade de Deus é “boa, perfeita e agradável”. Afirmo sem medo de errar: Nunca haverá limites melhores do que os bons limites de Deus.

Fonte: Ultimato

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