Por João Calvino
Visto que os judeus pedem sinais etc.(1 Co 1.22-24). Isto explica as sentenças anteriores, ou seja: Paulo está mostrando de que maneira a pregação do evangelho é tida como loucura. Contudo, ele não só explica, mas também o expande, dizendo que os judeus fazem mais do que reputar o evangelho como algo de pouco valor, pois eles, além disso, o detestam. "Os judeus", diz Paulo, "querem ter a evidência do poder divino, ante seus olhos, na forma de milagres.
Os gregos amam o que possui o encanto da sutileza e se agradam da engenhosidade humana. Nós, na verdade, pregamos o Cristo crucificado, e, à primeira vista, não há nisto nada de extraordinário senão fraqueza e loucura. Portanto, ele não passa de pedra de tropeço para os judeus ao vê-lo aparentemente esquecido por Deus. Quando os gregos ouvem como foi que se procedeu a redenção, acreditam ouvir uma fábula." Em minha opinião, Paulo quer dizer pelo termo gregos não simplesmente os pagãos ou gentios, mas todos aqueles que eram educados nas ciências liberais, ou que eram de projeção em razão de sua inteligência superior. Todavia, por meio de sinédoque, todos os outros estão igualmente incluídos aqui.
Em seguida, ele descreve uma distinção entre, judeus e gregos. Quando os judeus agrediam Cristo em seu extravagante zelo pela lei, eles trovejavam numa tormenta de fúria contra o evangelho - assim como os hipócritas sempre o fazem quando estão lutando por suas próprias crenças equivocadas (=superstitionibus). Os gregos, por outro lado, intumescidos de orgulho, desprezavam-no como sendo algo insípido.
O fato de Paulo encontrar culpa nos judeus por serem tão solícitos na busca de sinais, não significa que, em si mesmo, seja errôneo desejá-los. Ele mostra, porém, onde estavam errados, à luz dos seguintes pontos: (1) em sua repetida insistência em exigir milagres, estavam, em certo sentido, prensando Deus sob suas leis; (2) através do embotamento de seu entendimento, queriam manter contato palpável com Deus por meio de milagres públicos; (3) sendo hipnotizados pelos próprios milagres, olhavam para eles com estupor; (4) em resumo, nenhum milagre poderia satisfazê-los, senão que a cada dia esperavam, ansiosos, ver um novo. Pois Ezequias não é censurado porque prontamente consentiu ser reanimado por meio de um sinal (2 Rs 19.29; 20.8). Mesmo Gideão não foi reprovado, embora buscasse um duplo sinal (Jz 6.37,39). No entanto, em contrapartida, Acaz é condenado porque rejeitou o sinal que lhe foi oferecido pelo profeta (Is 7.12). Portanto, por que os judeus estavam errados ao buscarem milagres? Porque não os buscavam para um bom propósito; não punham nenhum limite às suas exigências; não estavam fazendo bom uso deles. Pois enquanto a fé deve ser auxiliada pelos milagres, eles simplesmente se esforçavam por encontrar uma maneira de permanecerem em sua descrença. Enquanto que, para Deus, é ilícito sacrificar a lei, em seu monstruoso desejo eles não sabiam o que era abuso. Enquanto os milagres devem guiar-nos ao conhecimento de Cristo e da graça espiritual de Deus, para os judeus isto não passava de obstáculo. Por essa razão, também, Cristo os repreende, dizendo: "Uma geração perversa busca sinais" (Mc 8.12). Porquanto não havia limites para sua curiosidade e suas persistentes exigências; e assim que obtinham milagres, nenhum era o melhor para eles.
Tanto gregos como judeus. Paulo mostra, por meio desta antítese, quão pessimamente é Cristo recebido, e que isto não é oriundo de alguma falha que porventura haja nele, nem tampouco pela natural inclinação do gênero humano, senão que sua causa consiste na perversidade daqueles que não haviam sido iluminados por Deus. Pois nenhuma pedra de tropeço impede os eleitos de Deus de virem a Cristo a fim de encontrar nele a certeza da salvação. Paulo contrasta poder com pedra de tropeço que advém da humildade de Cristo, como também confronta sabedoria com loucura. A essência disto é, pois, a seguinte: "Eu sei que nada, a não ser os sinais, pode ter algum efeito na obstinação dos judeus, e que na realidade só uma fútil espécie de sabedoria pode aplacar a atitude desdenhosa dos gregos. Não devemos, contudo, dar demasiada importância a este fato, visto que não importa o quanto nosso Cristo ofende os judeus com a ignomínia de sua Cruz e seja tratado com o máximo de desprezo pelos gregos; não obstante, ele é para todos os eleitos, de todas as nações, o poder de Deus para a salvação, para remover essas pedras de tropeço, e a sabedoria de Deus para afastar tudo o que se disfarça (=larvam) em sabedoria."
Porque a loucura de Deus. Quando o Senhor trata conosco, de certa forma parece agir estapafurdiamente em razão de sua sabedoria não transparecer; não obstante, o que aparenta ser absurdo excede em sabedoria a toda a argúcia humana. Além do mais, quando Deus oculta seu poder e parece agir como se fosse frágil, o que se imagina ser fragilidade é, não obstante, mais forte do que todo o poder humano. Entretanto, devemos sempre observar, ao lermos estas palavras, que existe aqui uma concessão, segundo fiz notar um pouco antes. Pois alguém pode notar mui claramente quão impróprio é atribuir a Deus, seja loucura ou fraqueza; mas era indispensável que se usassem essas expressões irônicas ao rebater-se a insana arrogância da carne, a qual não hesita em espoliar a Deus de toda a sua glória.
Fonte: Josemar Bessa
Visto que os judeus pedem sinais etc.(1 Co 1.22-24). Isto explica as sentenças anteriores, ou seja: Paulo está mostrando de que maneira a pregação do evangelho é tida como loucura. Contudo, ele não só explica, mas também o expande, dizendo que os judeus fazem mais do que reputar o evangelho como algo de pouco valor, pois eles, além disso, o detestam. "Os judeus", diz Paulo, "querem ter a evidência do poder divino, ante seus olhos, na forma de milagres.
Os gregos amam o que possui o encanto da sutileza e se agradam da engenhosidade humana. Nós, na verdade, pregamos o Cristo crucificado, e, à primeira vista, não há nisto nada de extraordinário senão fraqueza e loucura. Portanto, ele não passa de pedra de tropeço para os judeus ao vê-lo aparentemente esquecido por Deus. Quando os gregos ouvem como foi que se procedeu a redenção, acreditam ouvir uma fábula." Em minha opinião, Paulo quer dizer pelo termo gregos não simplesmente os pagãos ou gentios, mas todos aqueles que eram educados nas ciências liberais, ou que eram de projeção em razão de sua inteligência superior. Todavia, por meio de sinédoque, todos os outros estão igualmente incluídos aqui.
Em seguida, ele descreve uma distinção entre, judeus e gregos. Quando os judeus agrediam Cristo em seu extravagante zelo pela lei, eles trovejavam numa tormenta de fúria contra o evangelho - assim como os hipócritas sempre o fazem quando estão lutando por suas próprias crenças equivocadas (=superstitionibus). Os gregos, por outro lado, intumescidos de orgulho, desprezavam-no como sendo algo insípido.
O fato de Paulo encontrar culpa nos judeus por serem tão solícitos na busca de sinais, não significa que, em si mesmo, seja errôneo desejá-los. Ele mostra, porém, onde estavam errados, à luz dos seguintes pontos: (1) em sua repetida insistência em exigir milagres, estavam, em certo sentido, prensando Deus sob suas leis; (2) através do embotamento de seu entendimento, queriam manter contato palpável com Deus por meio de milagres públicos; (3) sendo hipnotizados pelos próprios milagres, olhavam para eles com estupor; (4) em resumo, nenhum milagre poderia satisfazê-los, senão que a cada dia esperavam, ansiosos, ver um novo. Pois Ezequias não é censurado porque prontamente consentiu ser reanimado por meio de um sinal (2 Rs 19.29; 20.8). Mesmo Gideão não foi reprovado, embora buscasse um duplo sinal (Jz 6.37,39). No entanto, em contrapartida, Acaz é condenado porque rejeitou o sinal que lhe foi oferecido pelo profeta (Is 7.12). Portanto, por que os judeus estavam errados ao buscarem milagres? Porque não os buscavam para um bom propósito; não punham nenhum limite às suas exigências; não estavam fazendo bom uso deles. Pois enquanto a fé deve ser auxiliada pelos milagres, eles simplesmente se esforçavam por encontrar uma maneira de permanecerem em sua descrença. Enquanto que, para Deus, é ilícito sacrificar a lei, em seu monstruoso desejo eles não sabiam o que era abuso. Enquanto os milagres devem guiar-nos ao conhecimento de Cristo e da graça espiritual de Deus, para os judeus isto não passava de obstáculo. Por essa razão, também, Cristo os repreende, dizendo: "Uma geração perversa busca sinais" (Mc 8.12). Porquanto não havia limites para sua curiosidade e suas persistentes exigências; e assim que obtinham milagres, nenhum era o melhor para eles.
Tanto gregos como judeus. Paulo mostra, por meio desta antítese, quão pessimamente é Cristo recebido, e que isto não é oriundo de alguma falha que porventura haja nele, nem tampouco pela natural inclinação do gênero humano, senão que sua causa consiste na perversidade daqueles que não haviam sido iluminados por Deus. Pois nenhuma pedra de tropeço impede os eleitos de Deus de virem a Cristo a fim de encontrar nele a certeza da salvação. Paulo contrasta poder com pedra de tropeço que advém da humildade de Cristo, como também confronta sabedoria com loucura. A essência disto é, pois, a seguinte: "Eu sei que nada, a não ser os sinais, pode ter algum efeito na obstinação dos judeus, e que na realidade só uma fútil espécie de sabedoria pode aplacar a atitude desdenhosa dos gregos. Não devemos, contudo, dar demasiada importância a este fato, visto que não importa o quanto nosso Cristo ofende os judeus com a ignomínia de sua Cruz e seja tratado com o máximo de desprezo pelos gregos; não obstante, ele é para todos os eleitos, de todas as nações, o poder de Deus para a salvação, para remover essas pedras de tropeço, e a sabedoria de Deus para afastar tudo o que se disfarça (=larvam) em sabedoria."
Porque a loucura de Deus. Quando o Senhor trata conosco, de certa forma parece agir estapafurdiamente em razão de sua sabedoria não transparecer; não obstante, o que aparenta ser absurdo excede em sabedoria a toda a argúcia humana. Além do mais, quando Deus oculta seu poder e parece agir como se fosse frágil, o que se imagina ser fragilidade é, não obstante, mais forte do que todo o poder humano. Entretanto, devemos sempre observar, ao lermos estas palavras, que existe aqui uma concessão, segundo fiz notar um pouco antes. Pois alguém pode notar mui claramente quão impróprio é atribuir a Deus, seja loucura ou fraqueza; mas era indispensável que se usassem essas expressões irônicas ao rebater-se a insana arrogância da carne, a qual não hesita em espoliar a Deus de toda a sua glória.
Fonte: Josemar Bessa
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