Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome, expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados. Mc 16:17-18
O meu irmão em Cristo Heitor Alves escreveu uma série de artigos, na qual pretende refutar o dom de línguas, haja vista ser ele cessacionista convicto. Sua proposta consiste em analisar passagens bíblicas e a partir dessa análise levantar supostos problemas para a atualidade desse dom. Como pentecostal, creio na atualidade dos dons espirituais, o de falar em línguas inclusive. Por isso, passo em revista os argumentos do Heitor e apresento uma posição alternativa.
Atendendo à proposta dele, vou me ater aos textos que ele apresenta, deixando de lado experiências pessoais, as quais contam muito pouco para se determinar a verdade. Ele tem as dele, e eu tenho as minhas, e nenhuma delas serve a uma terceira pessoa. Fiquemos então com o que a Palavra diz, buscando a melhor interpretação do sentido original.
Após citar Mc 16:17-18, acima reproduzido, Heitor afirma que "o texto fala de cinco sinais", estando corretíssimo inclusive na menção a eles. Mas em seguida ele faz uma pergunta descabida: "os pentecostais usam somente o verso 17. Por quê?". O descabimento da pergunta fica por conta da afirmação, tirada não sei de onde, de que os pentecostais evitam o verso 18. Cito como exemplo, Stanley M. Horton, em sua obra "A doutrina do Espírito Santo", que na página 121 não apenas menciona o verso 18 como trata dos sinais nele mencionado. Até a apresentação de evidências que corroborem tal afirmação, considerarei descabida e desnecessária no tratamento do tema.
Outra afirmação estranha é a de que "os pentecostais dizem que os sinais 1,3,4 e 5 podem acontecer 'ocasionalmente (sem que a pessoa deseje). Somente o sinal 2 é que pode acontecer 'desejando'", seguida da pergunta "onde no texto, Marcos separa os cinco sinais em 'sinais que podem se desejados' e 'sinais que podem acontecer ocasionalmente'?". A pergunta deveria ser: onde os pentecostais classificam assim esses sinais? Onde nosso irmão está aprendendo sobre a fé pentecostal? Aqui também basta uma citação para mostrar a improcedência de seu questionamento. A artigo 10, do "credo" assembleiano diz que os dons espirituais são "distribuídos pelo Espírito Santo à Igreja para sua edificação, conforme a sua soberana vontade (1Co 12.1-12)" e o 9 refere-se ao "falar em outras línguas, conforme a Sua vontade". Não importa o dom, ele sempre será distribuído de acordo com a soberania divina e não a bel-prazer do homem.
Nosso irmão prossegue perguntando "alguém está disposto a tocar em serpente? Alguém está disposto a beber veneno?". Aqui ele interpreta a passagem como supõe que um pentecostal interpretaria. Mas, como um pentecostal vê essa passagem? Novamente, recorro à Stanley Horton: "a expressão não é um mandamento, mas simples declaração de fatos. Além disso, embora a expressão "pegar em" seja um dos significados da palavra grega, não é o único. Outros sentidos legítimos são "tirar", "remover", "varrer para longe", "vencer" (Mt 24:39; Jo 10:18; 11:48; Cl 2:14)".
E sobre beber veneno diz o professor assembleiano que "a expressão seguinte tem a forma grega 'se', que indica a impossibilidade de beber veneno. Mesmo assim, Deus protegerá os que assim fizerem, mas não deliberadamente, no decurso da pregação do evangelho". O Bible Knowledge Commentary confirma que "No grego, as duas primeiras cláusulas em Mc 16:18 podem ser entendidas como clausulas condicionais, com a terceira cláusula como conclusão. A interpretação deve ser 'e se forem compelidos a pegar serpentes com suas mãos e se forem compelidos a beberem veneno mortal, não lhes fará dano algum'". Completa Horton, "nenhuma dessas coisas pretende ser um meio de testar ou comprovar a nossa fé, nem sequer o falar em línguas". Portanto, Heitor assume uma interpretação como sendo a dos pentecostais e em seguida a refuta, o que não passa da técnica de despedaçar o espantalho.
Mas nem sempre nosso irmão erra ao representar a crença pentecostal. Por exemplo, quando afirma que "os que defendem a contemporaneidade dos dons alegam que esses cinco sinais não acontecem necessariamente em todos os casos de se falar em línguas", está certíssimo. Mas, ao crer assim, os pentecostais estão apenas sendo bíblicos. Em nenhum momento o Novo Testamento afirma que todos os sinais ocorreriam de forma simultânea. E os exemplos registrados indicam que um ou alguns, mas nunca todos os dons ocorrem ao mesmo tempo. Ademais, Jesus não diz que os quatros sinais iriam seguir o de línguas, mas que aqueles sinais seguiriam a proclamação do evangelho.
Ainda batendo na mesma tecla ele pergunta "mas, se os cinco sinais podem acontecer ocasionalmente, por que nas igrejas pentecostais só acontece o dom de línguas?". Como disse, deveríamos nos ater ao que a Bíblia diz e não julgar pela experiência. Porém, parece que o irmão desconhece o que acontece em igrejas pentecostais, se pensa que nelas só acontece o dom de línguas. O desconhecimento crasso da realidade pentecostal fica ainda mais claro quando ele pergunta "Alguém está disposto a impor as mãos sobre os enfermos para serem curados?". É quase impossível ir a um culto numa igreja pentecostal sem que haja um momento de oração, com imposição de mãos, pelos enfermos. E curas acontecem.
Mais dois pontos e encerro minhas considerações ao que o irmão Heitor escreveu. Ele diz que "não há nenhum registro sequer no Novo Testamento dos sinais “pegar em serpentes e viver” e “beber coisa mortífera” (beber veneno)". Ora, essa não é uma objeção ao dom de línguas em si, mas à veracidade das palavras de Jesus. Foi ele quem disse "este sinais seguirão", se isto for colocado em dúvida, então o que se está desacreditando é da pessoa de Jesus. Finalmente, o irmão Heitor diz que "a teologia pentecostal é bem clara ao exortar o crente pentecostal a “buscar” o dom de línguas". A bem da verdade, os pentecostais são incentivados a buscar o batismo com o Espírito Santo, sendo que boa parte crê que as línguas são evidências físicas dele. Mas, a igreja de maneira geral é exortada a buscar os melhores dons, especialmente o de profecia.
Da avaliação do artigo do Heitor concluímos que na verdade ele nem tratou do texto bíblico, nem apresentou algum problema real que a passagem representasse ao dom de línguas. O que ele fez foi trabalhar sobre suposições do que seria a doutrina pentecostal e nem assim apresentou alguma dificuldade consistente. E nem poderia fazer, pois como ele próprio reconhece o texto fica "longe de provar o cessacionismo". Porém, ao contrário do que ele deseja, o texto "serve para provar a contemporaneidade dos dons".
É o que veremos no próximo artigo.
Muito bom seu texto Clóvis, bastante esclarecedor. Paz!
ResponderExcluirAh, levei seu banner ok