terça-feira, 2 de novembro de 2010

Combatendo o relativismo com uma mentalidade bíblica


Por Marcos Sampaio


Nenhuma idéia é mais politicamente incorreta hoje entre muitos evangélicos do que o antigo pensamento protestante de que vale a pena lutar pela verdade absoluta, incluindo as proposições essenciais da doutrina cristã. Na verdade, muitos acreditam que as discussões sobre as crenças religiosas são as mais inúteis e arrogantes de todos os conflitos. Penso que isso pode ser verdade em casos onde as opiniões humanas são a única coisa em jogo. Mas onde a Palavra de Deus fala claramente, temos o dever de obedecer, defender e proclamar a verdade que Ele nos deu, e devemos fazer isso com uma autoridade que reflete a nossa convicção de que Deus falou com clareza e finalidade.

Estou lendo o livro Irmãos, Nós não Somos Profissionais de John Piper e ele faz exatamente esse apelo para que os ministros de Deus tenham de fato um ministério radical diante da existente mentalidade antibíblica pela profissionalização do ministério pastoral. E isto é particularmente crucial em contextos onde as doutrinas fundamentais do cristianismo histórico estão sob sorrateiro ataque.

Aliás, as verdades fundamentais das Escrituras, estão sendo atacadas duramente. Penso que o principal campo de batalha de Satanás hoje é o ideológico. Isso porque o objetivo principal dentro da estratégia de Satanás em nossa época é confundir, negar, distorcer, corromper a verdade, e isso significa que a batalha é muito mais grave do que imaginamos. Com isso, ser capaz de distinguir entre a sã doutrina e o erro deve ser uma das maiores prioridades de cada cristão e da igreja evangélica contemporânea.

Tomar tal posição, entretanto, é desafiador hoje diante de vozes dizendo que pregar a verdade absoluta está fora de moda e que precisamos adaptar a fé às necessidades das pessoas. A metáfora “guerra pela verdade” simplesmente não funciona em uma cultura pós-moderna onde o relativismo é prevalecente. A epistemologia pós-moderna começa e termina com o pressuposto de que qualquer questão sobre o que é verdadeiro ou falso é meramente acadêmica. Nossas diferenças são, em última análise, triviais. Cada sugestão de militância em busca da verdade absoluta é considerada inadequada nestes tempos de sofisticação e progresso.

No entanto, essa posição em defesa da verdade também foi impopular no primeiro século e isso não impediu os apóstolos de confrontarem o erro e ensinar todo o conselho de Deus. O apóstolo Paulo, por exemplo, foi justo com seus adversários no sentido de que ele nunca deturpou o que eles ensinaram, entretanto, ele claramente enxergando os erros em que eles estavam, falou a verdade. Em seu estilo de ensinar todos os dias, Paulo falou a verdade suavemente e com a paciência de um pai amoroso. Mas quando as circunstâncias justificavam um forte tipo de franqueza, Paulo falava muito francamente (1 Coríntios 4:8-10). Ele empregou a verdade de forma eficaz e adequada (Gálatas 5:12).

A verdade é que Paulo não sofria da mesma escrupulosa angústia que faz com que muitas pessoas hoje caiam em erros. A idéia do apóstolo em relação à gentileza não era o tipo de benevolência do falso. Não o vemos convidando os falsos mestres em erro religioso para o diálogo, nem ele aprovaria essa estratégia hoje (Gálatas 2:11-14). O apóstolo compreendeu e estava disposto a lutar pela verdade. Ele defendia a verdade, mesmo quando ela era impopular para fazê-lo ou era até mesmo desprezada pelos homens da cristandade.

E hoje lidar com qualquer indício de certeza a respeito do que as Escrituras significam, mesmo em questões fundamentais da fé cristã, parece trazer um alto nível de desconforto para muitas pessoas também. Para estes, a verdade é admitida como algo inerentemente obscuro, indistinto, incerto e, em última análise, talvez até mesmo incognoscível.

Brian McLaren, um escritor muito popular principalmente entre o movimento da Igreja Emergente, certa vez disse que “ainda não conseguimos entender corretamente o evangelho... acho que os liberais também não conseguiram. Mas acho que nós também não o entendemos de modo certo. Ninguém entre nós chegou à ortodoxia”. E diz ainda o ex-pastor: “capturamos, recheamos e fixamos a verdade”.

E esse tipo de mentalidade traz muita popularidade numa época de tantas meias verdades. Brian MacLaren, por exemplo, foi autor de diversos livros em seu total desprezo pela certeza e fez muito sucesso. E esta tem sido a mensagem até mesmo de muitas congregações cristãs onde se acredita que o evangelho deve ser mantido adaptável e ambíguo para principalmente atrair as pessoas que vivem em harmonia com a cultura e amam o espírito dessa época e não podem suportar que a verdade bíblica autoritária seja aplicada com precisão como um corretivo para estilos de vida mundanos, mentes profanas e comportamento ímpio. Muitos líderes estão obcecados com o estilo e a metodologia; perderam o interesse pela glória de Deus e se tornaram apáticos quanto à verdade e à sã doutrina. E Lamentavelmente esse “veneno... está sendo injetado, cada vez mais, na igreja evangélica”, diz John MacArthur.

Creio firmemente que essa mentalidade não vem do Cristianismo puro e simples das Escrituras. Não saber o que você crê, recusar-se a reconhecer e defender a verdade revelada da parte de Deus e abraçar a ambigüidade, exaltando a incerteza e amenizando a pregação com superficialidades não é o autêntico evangelho deixado por Cristo e pregado com toda certeza pelos Seus apóstolos. Penso que o cristão genuíno conhece e ama a verdade. Os ímpios odeiam a verdade (2 Tess 2:10). O amor à verdade está ligado à fé salvífica. Cristo disse que os que conheceram a verdade, por ela foram libertos (João 8:32).

Portanto, numa época em que a idéia da verdade está sendo desprezada e atacada, até mesmo por aqueles que deveriam defendê-la, precisamos com o nosso coração reverente e voltado para Deus nos apegarmos ao sábio conselho de Salomão que disse “compra a verdade e não a vendas”. Assim sendo, que a igreja de Deus nesse mundo de mentiras e relativismo seja de fato “coluna e baluarte da verdade” mesmo que isso nos custe muitas lutas e até mesmo o próprio desprezo deste século tão confuso.

Pense nisso!

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